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09/09/2000 - 03h23

Grupo vai ao papa para obter documentos ligados a regimes militares

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MÁRIO MAGALHÃES, da Folha de S.Paulo

Uma comissão internacional de organismos ligados à defesa dos direitos humanos irá ao Vaticano para pedir ao papa João Paulo 2º que interceda pela abertura de arquivos secretos sobre os antigos regimes militares da América do Sul.

A afirmação foi feita à Folha pelo professor Martín Almada, 63, o responsável pela descoberta no Paraguai, em 1992, do "Arquivo do Terror", conjunto de duas toneladas de documentos que comprovam a existência da Operação Condor.

Essa operação foi o sistema que, nas décadas de 70 e 80, reuniu diversos governos militares sul-americanos para combater grupos oposicionistas, independentemente das fronteiras nacionais.

Almada chega amanhã ao Rio, onde será um dos principais conferencistas da mostra internacional "Autoritarismo, repressão e memória", promovida pelo Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.

Sua palestra está marcada para as 19h de segunda-feira, no Museu da República, no Catete (zona sul). A mostra começa amanhã e vai até a sexta (leia texto abaixo).

Almada pretende falar também sobre o que chama Operação Condor 2, aliança sul-americana para a repressão política que funcionaria ainda hoje, na sua opinião. Ele se baseia em atas de reuniões dos Exércitos de vários países em 1995.

Documentos

O grupo que se dirigirá ao Vaticano tem na coordenação comissões contra a impunidade criadas na Espanha, na Argentina e no Paraguai, esta presidida por Martín Almada. O objetivo é conseguir que o papa faça um apelo para a abertura de vários fundos de documentação confidenciais:

1) do governo dos EUA, especialmente da CIA (Agência Central de Inteligência);
2) dos organismos repressivos militares e policiais de cada país;
3) da Comissão de Direitos Humanos da ONU;
4) da Junta Interamericana de Defesa;
5) da Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
6) e da Conferência de Exércitos Americanos.

A papelada de órgãos pró-direitos humanos das Nações Unidas e da OEA (Organização dos Estados Americanos) serviria para conhecer detalhes de vários episódios -hoje o acesso é vetado.

No caso da CIA, o pedido é de ampliação da desclassificação de documentos, abrangendo períodos mais amplos para consulta.

"Vamos ao papa para que ponha seus bons ofícios a serviço da abertura de todos os arquivos", disse Almada, dos Estados Unidos, onde é professor visitante da Kansas State University. O principal objetivo do lobby é saber como ocorreram crimes como o desaparecimento de militantes políticos -só na Argentina, de 1976 a 1983, houve de 8.961 casos (reconhecimento oficial) a 30 mil (estimativa de várias entidades, entre elas as Mães da Praça de Maio).

Os documentos também seriam apresentados aos órgãos que analisam casos relativos à Operação Condor e crimes contra os direitos humanos. Na Espanha e na Argentina há juízes investigando ações de governos militares.

No Chile, o ex-presidente Augusto Pinochet, líder do regime militar (1973-89), pode ser julgado. No país, houve pelo menos 2.279 mortos naquele período.

No Brasil (regime militar de 1964 a 1985), restam 138 desaparecidos. Além deles, sumiram sete militantes brasileiros de esquerda na Argentina, cinco no Chile e um na Bolívia.

Descoberta

Ex-preso político, Martín Almada descobriu em 1992, num prédio a 20 km de Assunção, o arquivo da polícia política da ditadura (1954-89) do general Alfredo Stroessner, com 8.369 fichas de militantes (64 brasileiros), 10 mil fotografias, relatórios policiais e correspondência entre as Forças Armadas do Cone Sul.

Hoje, Almada, o "caçador da Operação Condor", é um "caçador" de "todos" os arquivos. Ele espera para este ano que a CIA libere novos documentos sobre o governo Stroessner, no qual o próprio Almada foi torturado.
O professor não defende mais a extradição do ex-ditador, que vive no Brasil, para o Paraguai.

"O governo paraguaio é muito ligado a ele. Gostaria que Stroessner fosse julgado e condenado pela Justiça brasileira por seus crimes contra os direitos humanos".

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