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12/04/2004 - 19h51

MST invade 4 fazendas no Pontal do Paranapanema

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CRISTIANO MACHADO
Free-lance para a Agência Folha,
em Presidente Prudente

Cerca de 900 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram hoje e ontem quatro fazendas no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP).

Com isso, já são 12 as propriedades rurais tomadas pelo MST em São Paulo desde 27 de março, quando o movimento iniciou uma onda de protestos e invasões no país. No total, foram invadidas 67 áreas em 14 Estados desde 10 de março --sendo 62 desde o dia 27. O Estado com mais invasões é Pernambuco (28).

As invasões foram as primeiras no Pontal, região considerada foco do conflito agrário em São Paulo, desde março. Uma fazenda permanece invadida desde 17 de fevereiro em Sandovalina.

As invasões

A primeira invasão ocorreu na noite de domingo, em Santo Anastácio. Cerca de 350 sem-terra cortaram cercas, entraram na fazenda Santa Terezinha e acamparam a cem metros da sede. Funcionários acompanham à distância a movimentação no interior da propriedade, de 3.773 ha, que tem criação de gado de corte.

As demais invasões ocorreram nesta manhã em Presidente Epitácio, promovidas por um total de 650 sem-terra, de acordo com a PM. Eles invadiram as fazendas Sul Mineira e Tupiconã. Boletins de ocorrência foram registrados.

Como a Tupiconã está dividida em nome de dois donos, MST e Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo) consideram que houve duas invasões.

O coordenador regional do MST Wésley Mauch, 28, disse que as invasões "são uma forma de pressionar o governo paulista a cumprir a promessa de assentar 1.400 famílias no Pontal". Ele disse que as áreas são improdutivas e devolutas (suspeitas de terem sido griladas).

"Tivemos um longo período de trégua à espera do assentamento dessas famílias, e o que foi prometido não foi cumprido. Por isso, o período de trégua acabou", afirmou. De acordo com ele, novas invasões acontecerão nesta semana na região. "A morosidade do governo estadual acaba nos obrigando a partir para ações um pouco mais radicais", disse.

Os sem-terra que participaram das invasões são membros do acampamento Jahir Ribeiro, criado no ano passado por José Rainha Jr., que não participou das ações de ontem, mas esteve no final da tarde na fazenda Santa Terezinha. Ele se reuniu com o prefeito da cidade, Reinaldo Jerônimo Peres (PSDB), a quem pediu ajuda para o novo acampamento.

Afirmando temer represálias da Justiça, Rainha, em liberdade graças a habeas corpus concedidos pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), segue sem dar entrevistas.

Morte de gado

Dois dos quatro proprietários que tiveram suas áreas invadidas desde domingo prometem pedir na Justiça a reintegração de posse.
O advogado Coraldino Vendramini, que representa Henriqueta Barbosa Daneluzze, dona da Fazenda Santa Terezinha, protocolou o pedido ontem à tarde, no fórum de Santo Anastácio.

Já João Coelho Jr., 63, um dos donos da Tupiconã, disse que a ação deve ser impetrada hoje em Epitácio. Ele acusou o grupo de sem-terra de matar um boi e derrubar parte da plantação de eucaliptos no local. Coelho Jr. reagiu com irritação à acusação do MST de que a fazenda é improdutiva.

"Ela é muito produtiva, produz mais que o MST em todo o país", afirmou. Segundo o dono do imóvel, a área é usada para criação de gados de corte e de leite e produz feno. A Agência Folha não conseguiu localizar os representantes da fazenda Sul Mineira, de propriedade de Alberto Chap Chap.

Crimes anunciados

O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, 45, disse hoje que as invasões ocorridas no Pontal do Paranapanema são "crimes anunciados".

"Essas foram as promessas do Stedile [João Pedro Stedile, líder do MST]. Ele disse que ia infernizar e está infernizando. Só não acredita quem não quer", afirmou.

Líder nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Stedile anunciou em 27 de março a atual onda de invasões e disse que o MST irá "infernizar". Em 1º de abril, em depoimento na CPI da Terra, no Congresso, Stedile declarou ter sido "infeliz" ao usar o termo "infernizar" e afirmou que "azucrinar" seria o termo mais correto.

Nabhan Garcia, que depõe hoje na CPI, cobrou uma "ação mais efetivado governo federal para conter as ações do MST".

Segundo ele, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nada faz para coibir as invasões. ''Não podemos viver mais nesse estado de pânico. O governo está ignorando isso. Fala que vai coibir as ações violentas desse movimento, mas só fala, não cumpre. Parece estar de braços cruzados", disse Nabhan Garcia.

O ruralista pretende pedir amanhã uma audiência com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para discutir medidas que amenizem os conflitos no campo.
 

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