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18/04/2004
-
06h55
ELVIRA LOBATO
da enviada especial da Folha de S.Paulo a Uberlândia (MG)
Duas facções de movimentos de sem-terra disputam uma das maiores fazendas do Triângulo Mineiro: a fazenda Tangará, de 5.000 hectares, que foi desapropriada para reforma agrária em maio de 2002.
No mês passado, o Incra dividiu a propriedade em dois assentamentos na tentativa de solucionar o conflito. Do total de 250 famílias selecionadas, 113 pertencem ao MTL (Movimento Terra Trabalho e Liberdade), principal organização de sem-terra do Triângulo Mineiro, e 137 são vinculadas à AMFT (Associação dos Moradores da Fazenda Tangará), que fazia parte do MTL até 2002.
A divisão da propriedade não aplacou o ódio entre os acampados porque 82 famílias ligadas à AMFT ficaram fora da seleção do Incra. A associação diz que elas teriam sido preteridas por candidatos mais recentes do MTL e ameaça ir à Justiça contra a organização adversária.
Sergialina Maria de Souza Silveira, uma das lideranças da AMFT, diz que o assentamento de facções beligerantes na mesma fazenda pode acabar em "guerra". O MTL alega possuir "direito reconhecido" sobre a fazenda, e diz que foi benevolente com o grupo adversário.
Acusações e polícia
O conflito já dura quase dois anos. Nesse período, a AMFT acusou o MTL, em registros na polícia e no Incra, de cobrar 30% da renda recebida pelos acampados, de extrair e de vender madeira ilegalmente, de roubar armas e gado da fazenda e de fazer ameaças de morte. O primeiro-secretário da associação, Celso Ferreira Souza, 51, reafirmou as acusações em entrevista à Folha.
O MTL acusa os líderes da facção oposta de estarem a serviço de políticos de direita e de fazendeiros. O conflito entre os dois movimentos respinga também sobre a Igreja Católica.
O coordenador estadual do MTL Deodato Divino Machado, 49, entregou à Folha um dossiê, com relatórios internos e cópias de cartas enviadas a dirigentes do Incra, que vincula a facção rival à Pastoral Operária.
A AMFT, por sua vez, diz que seus adversários têm apoio da Animação Pastoral Rural, equivalente da Pastoral da Terra no Triângulo Mineiro.
No ano passado, o coordenador nacional do MLT Luiz Carlos Galante enviou
carta ao superintendente do Incra em Minas, Marcos Pena, acusando a AMFT de levar "alcoólatras, usuários de drogas e criminosos fugitivos" para o acampamento e de fazer terror com armas, ameaças de espancamento e de morte. Há acusações de lado a lado sobre estímulo à prostituição e à mendicância.
Projeto divergente
Hoje as lideranças de um grupo não podem passar pelo território do outro. Mas, até dois anos atrás, faziam parte de uma mesma organização, o MLST de Luta que, por sua vez, nasceu de uma dissidência do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra).
Celso Ferreira de Souza, primeiro-secretário da AMFT, diz que participou de oito invasões (de sete fazendas em Minas Gerais e de uma fábrica de óleo comestível em Goiás) sob a bandeira do MLST de Luta, ao lado de seus atuais inimigos.
O conflito entre eles começou em 2002, quando o MLST de Luta se juntou a duas outras organizações --Movimento de Luta Socialista, de Goiás, e Movimento dos Trabalhadores, de Pernambuco--, e foi criado o MTL, que prega a propriedade e a produção coletiva, em vez das glebas e da produção individuais.
Segundo Celso Souza, assim que a fazenda Tangará foi desapropriada, em maio de 2002, o modelo de propriedade coletiva foi apresentado aos assentados, o que teria levado à divisão do movimento. Ele diz que a proposta era "um presente de grego", porque a terra e os créditos ficariam com a cooperativa, mas os assentados teriam responsabilidade pessoal sobre as dívidas.
A partir daí, as divergências só aumentaram. Em setembro do mesmo ano, dez famílias, que lideravam a oposição, foram expulsas do acampamento pelo MTL e ficaram acampadas no centro de Uberlândia durante três meses.
Enquanto isso, a rebelião crescia no acampamento. Em janeiro do ano passado, as dez famílias retornaram ao local e expulsaram os coordenadores do MTL, que montaram um segundo acampamento dentro da propriedade.
Grupos de sem-terra disputam área e trocam acusações
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da enviada especial da Folha de S.Paulo a Uberlândia (MG)
Duas facções de movimentos de sem-terra disputam uma das maiores fazendas do Triângulo Mineiro: a fazenda Tangará, de 5.000 hectares, que foi desapropriada para reforma agrária em maio de 2002.
No mês passado, o Incra dividiu a propriedade em dois assentamentos na tentativa de solucionar o conflito. Do total de 250 famílias selecionadas, 113 pertencem ao MTL (Movimento Terra Trabalho e Liberdade), principal organização de sem-terra do Triângulo Mineiro, e 137 são vinculadas à AMFT (Associação dos Moradores da Fazenda Tangará), que fazia parte do MTL até 2002.
A divisão da propriedade não aplacou o ódio entre os acampados porque 82 famílias ligadas à AMFT ficaram fora da seleção do Incra. A associação diz que elas teriam sido preteridas por candidatos mais recentes do MTL e ameaça ir à Justiça contra a organização adversária.
Sergialina Maria de Souza Silveira, uma das lideranças da AMFT, diz que o assentamento de facções beligerantes na mesma fazenda pode acabar em "guerra". O MTL alega possuir "direito reconhecido" sobre a fazenda, e diz que foi benevolente com o grupo adversário.
Acusações e polícia
O conflito já dura quase dois anos. Nesse período, a AMFT acusou o MTL, em registros na polícia e no Incra, de cobrar 30% da renda recebida pelos acampados, de extrair e de vender madeira ilegalmente, de roubar armas e gado da fazenda e de fazer ameaças de morte. O primeiro-secretário da associação, Celso Ferreira Souza, 51, reafirmou as acusações em entrevista à Folha.
O MTL acusa os líderes da facção oposta de estarem a serviço de políticos de direita e de fazendeiros. O conflito entre os dois movimentos respinga também sobre a Igreja Católica.
O coordenador estadual do MTL Deodato Divino Machado, 49, entregou à Folha um dossiê, com relatórios internos e cópias de cartas enviadas a dirigentes do Incra, que vincula a facção rival à Pastoral Operária.
A AMFT, por sua vez, diz que seus adversários têm apoio da Animação Pastoral Rural, equivalente da Pastoral da Terra no Triângulo Mineiro.
No ano passado, o coordenador nacional do MLT Luiz Carlos Galante enviou
carta ao superintendente do Incra em Minas, Marcos Pena, acusando a AMFT de levar "alcoólatras, usuários de drogas e criminosos fugitivos" para o acampamento e de fazer terror com armas, ameaças de espancamento e de morte. Há acusações de lado a lado sobre estímulo à prostituição e à mendicância.
Projeto divergente
Hoje as lideranças de um grupo não podem passar pelo território do outro. Mas, até dois anos atrás, faziam parte de uma mesma organização, o MLST de Luta que, por sua vez, nasceu de uma dissidência do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra).
Celso Ferreira de Souza, primeiro-secretário da AMFT, diz que participou de oito invasões (de sete fazendas em Minas Gerais e de uma fábrica de óleo comestível em Goiás) sob a bandeira do MLST de Luta, ao lado de seus atuais inimigos.
O conflito entre eles começou em 2002, quando o MLST de Luta se juntou a duas outras organizações --Movimento de Luta Socialista, de Goiás, e Movimento dos Trabalhadores, de Pernambuco--, e foi criado o MTL, que prega a propriedade e a produção coletiva, em vez das glebas e da produção individuais.
Segundo Celso Souza, assim que a fazenda Tangará foi desapropriada, em maio de 2002, o modelo de propriedade coletiva foi apresentado aos assentados, o que teria levado à divisão do movimento. Ele diz que a proposta era "um presente de grego", porque a terra e os créditos ficariam com a cooperativa, mas os assentados teriam responsabilidade pessoal sobre as dívidas.
A partir daí, as divergências só aumentaram. Em setembro do mesmo ano, dez famílias, que lideravam a oposição, foram expulsas do acampamento pelo MTL e ficaram acampadas no centro de Uberlândia durante três meses.
Enquanto isso, a rebelião crescia no acampamento. Em janeiro do ano passado, as dez famílias retornaram ao local e expulsaram os coordenadores do MTL, que montaram um segundo acampamento dentro da propriedade.
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