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24/04/2004
-
08h14
CHICO SANTOS
da Folha de S.Paulo, no Rio
O Programa Nuclear da Marinha, base do projeto de enriquecimento de urânio brasileiro que vem sofrendo pressões internacionais, demitiu nos três primeiros meses deste ano 120 pessoas --10% da sua mão-de-obra civil-- e pode fazer mais demissões por causa da carência de recursos.
Segundo a Folha apurou, a suspensão de novos cortes depende do repasse de R$ 20,8 milhões pelo Ministério da Ciência e Tecnologia ao CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo). O órgão é responsável pelo Centro Experimental Aramar (Iperó, a 120 km a oeste de SP), encarregado do programa nuclear.
Segundo o presidente da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Odair Dias Gonçalves, há o interesse em ajudar a "sanear economicamente" o programa, mas a fonte dos R$ 20,8 milhões ainda não está definida. Ele disse considerar difícil que o repasse ocorra ainda neste semestre.
O programa da Marinha tem dois projetos: o do ciclo combustível, para dominar todas as etapas do processo de enriquecimento de urânio, e o de uma instalação nuclear a água pressurizada, que é o projeto do reator para o submarino nuclear brasileiro.
O projeto do ciclo combustível é o que desenvolveu, em conjunto com o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares de São Paulo), a tecnologia brasileira de enriquecimento de urânio por ultracentrifugação. Isso inclui as máquinas ultracentrífugas que giram sobre um campo magnético, e não em um eixo mecânico, que o Brasil não quer mostrar aos inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Os R$ 20,8 milhões serão destinados à conclusão das instalações físicas da fábrica que fará a transformação de "yellow cake" --bolo amarelo resultante da primeira fase de beneficiamento do minério de urânio-- no gás hexafluoreto de urânio (UF6), ponto de partida para o processo de enriquecimento de urânio.
Nas ultracentrífugas que a Marinha está fornecendo à INB (Indústrias Nucleares do Brasil), também estatal (no Brasil a indústria nuclear é monopólio do Estado), o UF6 é enriquecido, ou seja, é aumentada a concentração de urânio-235 (necessário à fissão para produzir energia atômica) no urânio-238 (não-físsil) encontrado na natureza.
O projeto da INB é enriquecer urânio em escala comercial para uso na fabricação do combustível das usinas nucleares brasileiras e, em uma etapa posterior, para exportação. O projeto não inclui a etapa de gaseificação do minério.
Cem anos
O domínio do ciclo combustível é básico para o projeto maior da Marinha: a construção do reator do submarino nuclear brasileiro.
Segundo dados obtidos pela Folha, faltam US$ 200 milhões (cerca de R$ 570 milhões) para que o projeto seja concluído, 20% do que já foi gasto desde os anos 80.
No dia 29 de março, em palestra no Clube Naval do Rio de Janeiro, o vice-almirante Alan Paes Leme, diretor do CTMSP, disse que, no ritmo atual do fluxo de recursos, serão necessários "cem anos para concluir o programa".
A verba atual que a Marinha está conseguindo repassar, entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões por ano, seria suficiente só para pagamento de pessoal e despesas de manutenção e custeio, segundo o vice-almirante disse na palestra.
A Folha procurou a Marinha para obter informações sobre a situação do programa, mas o Serviço de Relações Públicas não respondeu ao questionamento.
Sem verba, programa nuclear demite 120
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da Folha de S.Paulo, no Rio
O Programa Nuclear da Marinha, base do projeto de enriquecimento de urânio brasileiro que vem sofrendo pressões internacionais, demitiu nos três primeiros meses deste ano 120 pessoas --10% da sua mão-de-obra civil-- e pode fazer mais demissões por causa da carência de recursos.
Segundo a Folha apurou, a suspensão de novos cortes depende do repasse de R$ 20,8 milhões pelo Ministério da Ciência e Tecnologia ao CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo). O órgão é responsável pelo Centro Experimental Aramar (Iperó, a 120 km a oeste de SP), encarregado do programa nuclear.
Segundo o presidente da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Odair Dias Gonçalves, há o interesse em ajudar a "sanear economicamente" o programa, mas a fonte dos R$ 20,8 milhões ainda não está definida. Ele disse considerar difícil que o repasse ocorra ainda neste semestre.
O programa da Marinha tem dois projetos: o do ciclo combustível, para dominar todas as etapas do processo de enriquecimento de urânio, e o de uma instalação nuclear a água pressurizada, que é o projeto do reator para o submarino nuclear brasileiro.
O projeto do ciclo combustível é o que desenvolveu, em conjunto com o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares de São Paulo), a tecnologia brasileira de enriquecimento de urânio por ultracentrifugação. Isso inclui as máquinas ultracentrífugas que giram sobre um campo magnético, e não em um eixo mecânico, que o Brasil não quer mostrar aos inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Os R$ 20,8 milhões serão destinados à conclusão das instalações físicas da fábrica que fará a transformação de "yellow cake" --bolo amarelo resultante da primeira fase de beneficiamento do minério de urânio-- no gás hexafluoreto de urânio (UF6), ponto de partida para o processo de enriquecimento de urânio.
Nas ultracentrífugas que a Marinha está fornecendo à INB (Indústrias Nucleares do Brasil), também estatal (no Brasil a indústria nuclear é monopólio do Estado), o UF6 é enriquecido, ou seja, é aumentada a concentração de urânio-235 (necessário à fissão para produzir energia atômica) no urânio-238 (não-físsil) encontrado na natureza.
O projeto da INB é enriquecer urânio em escala comercial para uso na fabricação do combustível das usinas nucleares brasileiras e, em uma etapa posterior, para exportação. O projeto não inclui a etapa de gaseificação do minério.
Cem anos
O domínio do ciclo combustível é básico para o projeto maior da Marinha: a construção do reator do submarino nuclear brasileiro.
Segundo dados obtidos pela Folha, faltam US$ 200 milhões (cerca de R$ 570 milhões) para que o projeto seja concluído, 20% do que já foi gasto desde os anos 80.
No dia 29 de março, em palestra no Clube Naval do Rio de Janeiro, o vice-almirante Alan Paes Leme, diretor do CTMSP, disse que, no ritmo atual do fluxo de recursos, serão necessários "cem anos para concluir o programa".
A verba atual que a Marinha está conseguindo repassar, entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões por ano, seria suficiente só para pagamento de pessoal e despesas de manutenção e custeio, segundo o vice-almirante disse na palestra.
A Folha procurou a Marinha para obter informações sobre a situação do programa, mas o Serviço de Relações Públicas não respondeu ao questionamento.
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