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29/04/2004
-
06h38
IURI DANTAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O agente da Polícia Federal Marcos Aurélio Soares Bonfim, preso desde o mês passado acusado de integrar uma quadrilha de contrabando de diamantes, vendeu, segundo a PF, ao menos uma espingarda e uma escopeta para índios cintas-largas que vivem na reserva Roosevelt, em Rondônia.
A informação foi dada ontem pelo diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, em audiência das comissões de Minas e Energia e da Amazônia, na Câmara. Ele se baseou em depoimentos colhidos pela PF na Operação Kimberley. Bonfim e outras 11 pessoas foram presas na ação. Em depoimento, o agente negou as acusações e disse que sobrevive com seu salário.
Segundo investigações da PF, os cintas-largas também trocaram diamantes extraídos ilegalmente na reserva por armas em 2003. Lacerda disse que os índios entregaram "rifles e pistolas" à PF em duas ocasiões (24 de março e 1º de abril), ambas anteriores ao confronto que gerou a morte de 29 garimpeiros, ocorrido no dia 7.
Os garimpeiros foram encontrados mortos a golpes de tacape, borduna e lança, na área indígena. A perícia preliminar indicou só um ferimento por arma de fogo, na perna de um dos corpos. Até agora, a PF colheu cerca de cem depoimentos no inquérito que apura o massacre. Doze suspeitos também foram identificados.
Participaram ainda da audiência pública, o governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral, Miguel Antonio Cedraz Nery, e o coordenador de Documentação da Funai (Fundação Nacional do Índio), José Apoena Soares de Meireles.
A audiência durou cerca de cinco horas, sem interrupção. Muitos deputados defenderam os garimpeiros, cujos líderes de sindicatos estavam presentes. "Hoje, índio no país é sinônimo de preguiça, ócio e obesidade", afirmou Alberto Fraga (PTB-DF).
O coordenador da Funai disse que mesmo diferentes, usando carros e telefones, os índios têm direito ao território. "Não queremos de volta o tempo em que o negro volte a ser escravo e o índio volte a andar nu", afirmou.
Em alguns momentos, houve bate-boca entre os deputados, uns dizendo que os índios defendiam seu território, outros que a defesa da terra não justifica a chacina. "Não podemos, como parlamentares que juraram sobre a Constituição, defender a entrada de garimpeiros em reservas indígenas. Pelo amor de Deus, não vamos rasgar a Constituição", disse Perpétua Almeida (PC do B-AC).
Para o deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA), "estamos vivenciando a falência do Estado de Direito. Na Amazônia, estamos a mercê da lei de Talião [olho por olho, dente por dente]." Cassol também defendeu os garimpeiros e criticou os índios e a Funai. "Os índios se acostumaram com mordomia, sombra e água fresca."
O coordenador da Funai reconheceu que os garimpeiros são "um problema social", mas frisou que isso não autoriza a extração de diamantes na terra indígena.
Leia mais
Erramos: PF diz que agente vendeu arma a cintas-largas
PF diz que agente vendeu arma a cintas-largas
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
O agente da Polícia Federal Marcos Aurélio Soares Bonfim, preso desde o mês passado acusado de integrar uma quadrilha de contrabando de diamantes, vendeu, segundo a PF, ao menos uma espingarda e uma escopeta para índios cintas-largas que vivem na reserva Roosevelt, em Rondônia.
A informação foi dada ontem pelo diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, em audiência das comissões de Minas e Energia e da Amazônia, na Câmara. Ele se baseou em depoimentos colhidos pela PF na Operação Kimberley. Bonfim e outras 11 pessoas foram presas na ação. Em depoimento, o agente negou as acusações e disse que sobrevive com seu salário.
Segundo investigações da PF, os cintas-largas também trocaram diamantes extraídos ilegalmente na reserva por armas em 2003. Lacerda disse que os índios entregaram "rifles e pistolas" à PF em duas ocasiões (24 de março e 1º de abril), ambas anteriores ao confronto que gerou a morte de 29 garimpeiros, ocorrido no dia 7.
Os garimpeiros foram encontrados mortos a golpes de tacape, borduna e lança, na área indígena. A perícia preliminar indicou só um ferimento por arma de fogo, na perna de um dos corpos. Até agora, a PF colheu cerca de cem depoimentos no inquérito que apura o massacre. Doze suspeitos também foram identificados.
Participaram ainda da audiência pública, o governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral, Miguel Antonio Cedraz Nery, e o coordenador de Documentação da Funai (Fundação Nacional do Índio), José Apoena Soares de Meireles.
A audiência durou cerca de cinco horas, sem interrupção. Muitos deputados defenderam os garimpeiros, cujos líderes de sindicatos estavam presentes. "Hoje, índio no país é sinônimo de preguiça, ócio e obesidade", afirmou Alberto Fraga (PTB-DF).
O coordenador da Funai disse que mesmo diferentes, usando carros e telefones, os índios têm direito ao território. "Não queremos de volta o tempo em que o negro volte a ser escravo e o índio volte a andar nu", afirmou.
Em alguns momentos, houve bate-boca entre os deputados, uns dizendo que os índios defendiam seu território, outros que a defesa da terra não justifica a chacina. "Não podemos, como parlamentares que juraram sobre a Constituição, defender a entrada de garimpeiros em reservas indígenas. Pelo amor de Deus, não vamos rasgar a Constituição", disse Perpétua Almeida (PC do B-AC).
Para o deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA), "estamos vivenciando a falência do Estado de Direito. Na Amazônia, estamos a mercê da lei de Talião [olho por olho, dente por dente]." Cassol também defendeu os garimpeiros e criticou os índios e a Funai. "Os índios se acostumaram com mordomia, sombra e água fresca."
O coordenador da Funai reconheceu que os garimpeiros são "um problema social", mas frisou que isso não autoriza a extração de diamantes na terra indígena.
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