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02/05/2004 - 07h16

Gil levou escritor para ver Carnaval

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da Folha de S.Paulo, em Brasília

Gastos com um convidado estrangeiro durante o Carnaval, reuniões de assessores de Antonio Palocci Filho (Fazenda) em Ribeirão Preto (SP) e até uma claque paga com recursos públicos para "assistir ao pronunciamento do sr. presidente da República", em Brasília, são revelados pelos relatórios das passagens aéreas emitidas pelos ministérios entregues ao Congresso Nacional entre março e abril últimos.

O Ministério da Cultura bancou as passagens aéreas de um escritor amigo do ministro Gilberto Gil, um "novo pensador" da cibernética, como o definiu o próprio Gil numa palestra em 2003, John Perry Barlow, 56. A justificativa que consta do relatório enviado ao Congresso é a seguinte: "Conhecer e participar com o sr. ministro o nosso Carnaval".

Na qualidade de "colaborador eventual", Barlow cumpriu o roteiro Nova York-Rio de Janeiro-Salvador-São Paulo-Salvador-Nova York entre 24 de fevereiro e 13 de março. A viagem, segundo o relatório, normalmente custaria R$ 17,8 mil, mas ganhou um desconto e saiu por R$ 3.120.

No Brasil, Barlow enviou um e-mail para os Estados Unidos relatando impressões sobre a viagem. A mensagem foi colocada em seu site. "O povo do Brasil ama Gilberto Gil. Sem exceção. Eles não o amam mitologicamente, como os fãs amam [o cantor] Elvis Presley, ou [o roqueiro] Jerry Garcia, ou [o ex-presidente americano] John Kennedy. [...] Eu o amo também. Eu me sinto melhor a respeito da raça humana ao saber que nós podemos ocasionalmente produzir um Gilberto Gil."

Em outro texto, Barlow explicou estar "trabalhando com Gilberto Gil, ministro da Cultura do Brasil, num esforço para colocar toda a música brasileira online". "Também estou envolvido em projetos embrionários voltados à criação de um novo tipo de indústria musical." Ao receber e-mail da Folha, Barlow disse estar disposto a falar sobre qualquer coisa do seu "herói Gil". A reportagem enviou três perguntas, mas não houve retorno até o final da noite de anteontem.

O Ministério da Cultura também promoveu outras viagens sem similar nas centenas de páginas de outros ministérios. Custeou as passagens de 33 cineastas e profissionais de artes visuais para comparecer a um pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, em Brasília. Tratava-se de um discurso sobre a política governamental na área do cinema. A caravana custou aproximadamente R$ 23 mil só com as passagens --é provável que todos tenham ganho também diárias para gastos com alimentação e hotel na capital.

Em uma justificativa para uma viagem sua ao Rio, Gilberto Gil anotou, sem subterfúgios: "Cumprir compromissos pessoais".

Na Secretaria de Comunicação, o ministro Luiz Gushiken também deixou claro o objetivo de quatro viagens suas a Campinas (SP): "Deslocamento para residência permanente". As viagens, feitas em vôo de carreira, custaram ao todo R$ 5.000.

No final do ano, a saída de ministros de Brasília foi intensa. Às vésperas do Natal, Ciro Gomes (Integração Nacional) foi a Fortaleza (CE), seu reduto eleitoral.

"Viagem oficial ao Estado do Ceará", foi a justificativa apresentada. O site de Ciro na internet é um dos poucos que possibilitam a consulta de agendas passadas. No sistema, não há nenhum compromisso anotado nos dias 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29 de dezembro.

A julgar pelas viagens de assessores do alto escalão do ministro Antonio Palocci Filho, o Ministério da Fazenda tem assuntos importantes a tratar com a Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) e o escritório da Receita Federal da cidade.

"Assessor particular" de Palocci, segundo informou a assessoria do ministro, Ademirson da Silva esteve seis vezes na sede da Receita no município. Não há registro de nenhuma outra reunião em outro escritório do órgão em todo o território nacional. Ao todo, Silva esteve 24 vezes em Ribeirão no ano passado, sempre com passagens pagas pelo governo federal.

Sobre essas viagens, a assessoria do ministério informou que elas foram feitas com o objetivo de "tratar de assuntos do governo". Indagada sobre detalhes desses assuntos, a assessoria não havia enviado resposta até o final da noite de anteontem. O chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, também foi três vezes a Ribeirão em 2003. Em contrapartida, não há viagem em vôo comercial de Palocci para a cidade onde foi prefeito.
 

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