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16/05/2004 - 07h05

Gabeira vê caso Rohter como sinal de "regressão intelectual" do PT

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VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
da Folha de S.Paulo, no Rio

O deputado federal Fernando Gabeira (sem partido-RJ), 63, que, em outubro do ano passado saiu do PT por se opor à política ambiental de Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos transgênicos, disse na quinta-feira à Folha que o Partido dos Trabalhadores "transformou-se em seu contrário" e que só vê dois desfechos para o governo: "uma tragédia ou um final melancólico".

Contrariado com a decisão de Lula de cancelar o visto do jornalista americano Larry Rohter, do "New York Times", Gabeira afirmou ainda que o partido sofreu uma "regressão intelectual". Para ele, a imprensa brasileira é "muito bem comportada". Na sexta, o Planalto anunciou o recuo da decisão de expulsar o jornalista, após os advogados de Rohter entregarem um pedido de reconsideração ao governo.

Gabeira foi um dos militantes do MR-8 que organizaram o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969. O diplomata foi trocado por presos políticos do regime, entre eles, o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Após a ação, Gabeira chegou a fazer treinamento de guerrilha em Cuba, de onde foi para o Chile e, depois, para a Europa, voltando do exílio em 1979, com a Anistia. Desde o seqüestro, ele é proibido de entrar nos Estados Unidos. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O presidente Lula errou ao cancelar o visto do correspondente americano?

Gabeira
- É uma volta a práticas da ditadura militar, é censura à liberdade de imprensa, e nos deixa muito mal no mundo porque revela que nós somos governados por um grupo despreparado para entender a complexidade das relações entre imprensa e governo, entre imprensa internacional e governo nacional.

Folha - Como o sr. se sente como ex-petista diante dessa decisão?

Gabeira
- A única maneira que eu me consolo por termos estado juntos em um determinado momento, é admitir que eles sofreram uma regressão intelectual. Eles eram intelectualmente mais avançado do que são hoje.

Folha - Que reflexos a medida do governo traz?

Gabeira
- Terá reflexos no trabalho de outros correspondentes no Brasil e terá reflexos na imprensa brasileira. Isso deixa implícito que as reportagens que não forem de agrado do governo podem sofrer sanções. Por outro lado, pode ter reflexos libertários, pode estabelecer na imprensa brasileira um nível de irreverência muito maior do que ela tem. A imprensa brasileira, de um modo geral, é muito bem comportada, é muito temente à autoridade. São pessoas que têm muito medo de perder coisas, o emprego. Então, se houver esse choque, pode ser que ela se torne mais irreverente.

Folha - O sr. foi preso político e também é banido dos EUA...

Gabeira
- Nós estamos acostumados a ver tudo o que é sólido se dissolver no ar. E dentro da própria lógica política daquele momento nós vimos que uma coisa pode se transformar no seu contrário. É perfeitamente possível. Eu acho até bastante freqüente. A minha reação não é de surpresa ou de perplexidade. A minha sensação é que as coisas se transformam em seu contrário, que correntes políticas se transformam em seu contrário.

Folha - O presidente disse que voltaria atrás se houvesse retratação do jornal ou do correspondente. Essa é a melhor solução?

Gabeira
- O presidente deveria voltar atrás na sua decisão. A saída para o governo do PT nesses dois anos e meio que restam é uma tragédia, na expectativa dos pessimistas, ou um final melancólico, na esperança dos otimistas.
 

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