Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/05/2004 - 07h56

Argentinos admiram a severidade de Lula com EUA

Publicidade

CLÁUDIA DIANNI
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

O episódio envolvendo o jornalista do "New York Times" parece não ter afetado a boa imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Argentina. No parceiro do Mercosul, Lula é visto como um estadista que valoriza as relações com os vizinhos, é duro com os Estados Unidos, respeita contratos --qualidade muito enaltecida por argentinos--, mas que promete aos brasileiros mais do que pode cumprir.

A Folha ouviu acadêmicos, economistas, jornalistas, empresários e governo na Argentina ao longo da semana para saber o que pensam de Lula.

O quadro pintado por formadores de opinião argentinos a respeito de Lula não difere muito do que se fala do presidente no Brasil. Lula é, sobretudo, admirado por ter superado a pobreza e o preconceito e chegado ao topo do poder, mas está em débito com as próprias promessas.

Apesar da reação de expulsar do Brasil o jornalista Larry Rohter, Lula não é visto como autoritário. "Mais que uma ação autoritária, a atitude foi vista como um tropeço", avalia Ignácio Labaqui, especialista em América Latina da Universidade Católica Argentina.

"Lula geralmente é mais comparado com um estadista como o presidente Ricardo Lagos (do Chile), apesar de ser esquerda. Mas, dessa vez, ficou mais parecido com o presidente Hugo Chávez (da Venezuela) por causa da intolerância", disse.

No governo argentino, episódios como mandar fotografar os americanos, em resposta ao tratamento oferecido aos brasileiros nos aeroportos dos EUA, foram elogiados por diplomatas.

Segundo uma fonte do governo, o presidente é visto como aliado político "menos arrogante no trato com a Argentina em se tratando de um presidente brasileiro, que joga duro com os americanos". Jornalistas vêem o presidente com simpatia e não o identificam como populista, mas acreditam que ele promete demais. Outra qualidade citada é a sua "simplicidade" e "independência com relação a Washington".

"O que se sabe de Lula é que ele é um homem que veio de baixo e a quem o presidente Néstor Kirchner dá muita importância por causa da aliança estratégica. Aqui na Argentina Lula é visto como um líder popular", afirma Jorge Elias, colunista de Assuntos Internacionais do jornal "La Nación".

Segundo o presidente do Instituto de Planejamento Estratégico, Jorge Castro, Lula contou com "um enorme prestígio político" na Argentina e no mundo, mas agora vive o desgaste do exercício do poder. "Ele teve a coragem de enfrentar as críticas da esquerda e manteve o programa econômico para evitar o "default" [não pagamento] da dívida pública. Lula tem visão de estadista", disse.

Segundo Castro, os empresários na Argentina o elogiam por respeitar os contratos, mas os acadêmicos de esquerda dizem que o presidente brasileiro deixou a ideologia em segundo plano.

O diretor de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Universidade de San Andrés, Juan Gabriel Tokathin, disse que na Argentina "há uma forte torcida para que Lula vá bem". Ele acha, porém, que nos últimos meses tem havido uma percepção de que Lula não tem aprofundado a dimensão social de seu projeto.

"Lula chegou ao poder com muita credibilidade, mas não está cumprindo o suficiente do que prometeu, enquanto [Néstor] Kirchner chegou com baixo perfil e tem respondido mais às demandas sociais", disse.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página