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19/05/2004 - 21h29

Adolescente cinta-larga é morto a tiros em RO

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KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus

Um índio adolescente, da etnia cinta-larga, foi morto com três tiros ontem em uma estrada, ao sair da aldeia 14 de Abril, na terra indígena Roosevelt, a 48 km da cidade de Espigão d'Oeste, no sudeste de Rondônia.

Os índios cintas-largas afirmam que a morte de Moisés Cinta-Larga, 14, irmão do cacique Aguinaldo Cinta-Larga, é uma vingança de garimpeiros.

Em 7 de abril, ao menos 29 garimpeiros foram mortos dentro da reserva Roosevelt em um conflito com índios motivado pela extração ilegal de diamantes no local.

A Polícia Federal, que abriu inquérito para investigar o crime, afirma ainda não ter suspeitos. "Não sabemos o motivo do crime, não podemos deduzir nada. Só sabemos que o clima [na região] está mais tenso, os índios estão revoltados", disse o delegado da PF Mauro Spósito, que está dirigindo as investigações.

Depois das mortes de 7 de abril, os líderes dos cintas-largas disseram à Agência Folha que os índios mataram os 29 garimpeiros para defender o território indígena. Desde o episódio, os índios vêm se mantendo reclusos na reserva em razão das ameaças.

Barreiras com polícias federais e militares, além de soldados do Exército monitoram o acesso às aldeias Roosevelt e Tenente Marques, rota de passagem dos garimpeiros.

A morte do adolescente Moisés Cinta-Larga aconteceu a 60 km da aldeia Tenente Marques. O menor saiu da aldeia 14 de Abril para ir à escola, em Espigão d'Oeste. No trajeto não há barreiras policiais.

De acordo com a PF, Moisés estava na garupa de uma motocicleta, pilotada pelo não-índio Zedequias Pereira de Souza, quando o veículo foi interceptado por homens armados. O piloto levou dois tiros, mas está fora de risco de morte em um hospital da cidade.

"Os homens dispararam contra o índio e o não-índio e fugiram levando a moto", disse ontem por telefone o indigenista Waldir Gonçalves, primeiro servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) a chegar ao local do crime, que aconteceu por volta das 18h (19 h em Brasília).

Há dois meses a Funai e a Polícia Ambiental de Rondônia haviam fechado um garimpo de cassiterita nas proximidades da aldeia 14 de Abril. Na ocasião, 14 garimpeiros foram presos.

No dia 7 de maio, a Agência Folha esteve na aldeia Tenente Marques, que é comandada pelo cacique João Bravo Cinta-Larga. Homens, mulheres e crianças relataram ameaçados de morte por garimpeiros.

O cacique Japão Cinta-Larga tinha uma preocupação especial com os adolescentes que estudavam fora da reserva, alguns com namoradas "brancas". "É difícil controlar as pessoas. Tem teimosos que saem e não dão satisfação", dizia ele.

No dia 12 de maio, os índios cintas-largas desativaram os garimpos dentro da reserva Roosevelt, até que sejam recebidos em um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília.

O encontro foi solicitado pelos índios, mas até ontem Lula não havia dado resposta. O presidente, no entanto, destacou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Armando Felix, para fazer nova visita a Espigão d'Oeste.

Felix, que já havia visitado a cidade a pedido de Lula em 21 de abril, voltou ao local anteontem. Conversou com índios, garimpeiros e políticos, mas não divulgou parecer sobre a questão.

Para a PF, a suspensão dos garimpeiros diminuiu a pressão de possível invasão à reserva. Os cintas-largas querem a regularização da exploração de diamantes por eles em suas terras, o que hoje é ilegal.
 

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