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10/06/2004
-
07h33
ANDRÉA MICHAEL
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Lobistas e empresários acusados de fraudar compras de medicamentos do Ministério da Saúde usaram "offshores" --empresas com sede em paraísos fiscais-- para movimentar milhões de dólares. As operações, que estão sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público no âmbito da Operação Vampiro, representam fortes indícios de lavagem de dinheiro. O período em que ocorreram ainda não foi definido.
Até o momento, já foram identificadas quatro "offshores", todas com sede no Uruguai. O proprietário de duas delas --Fargin S.A. e Southwest Trade--, conforme a investigação, é o empresário Jaisler Jabour de Alvarenga.
A Fargin S.A. tem uma filial no Brasil, a Fargin Ltda., que recebeu, a título de investimento da matriz, pelo menos duas remessas de cerca de US$ 1 milhão cada uma. Suspeita-se que sejam operações para esquentar dinheiro obtido de fraude e remetido para o exterior. Trata-se de conhecida operação de lavagem de dinheiro, de acordo com a investigação.
A Fargin Ltda. tem como sócia uma das filhas de Jabour, Kely. A outra filha, Elen, tem participação na empresa ITCLAB, cuja sócia-gerente também é uma "offshore" uruguaia --a Southwest Trade.
Há elementos para indiciar Kely e Elen, segundo um investigador que trabalha no caso. A PF indiciou em maio os 17 lobistas, empresários e servidores, presos pela Operação Vampiro, por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Os dados levantados na investigação até o momento permitem concluir que os lobistas --entre eles Lourenço Rommel Peixoto, Laerte Corrêa Júnior e Francisco Danúbio Honorato-- intermediavam interesses de laboratórios.
O pagamento pelos "serviços" era contabilizado mediante a apresentação de notas fiscais de empresas de consultoria --Honorato, por exemplo, costumava emitir notas acima de R$ 100 mil. Ao menos parte do dinheiro recebido pelos lobistas foi para o exterior. De lá, pode ter sido repatriado ou movimentado no mercado financeiro internacional. Falta descobrir o caminho para mandar o dinheiro para fora do país.
Há pelo menos quatro contas bancárias de Jabour no exterior, de acordo com a investigação. E também são investigadas operações financeiras na Suíça e em países do Caribe.
Ao contrário de Jabour, o lobista Laerte Corrêa Júnior não costuma apresentar o próprio nome para registrar seu patrimônio. Antes de ser preso, usava dois automóveis Porsche, mas só tem oficialmente como seu um Gol. Um dos Porsche constava como pertencente à sua mãe, Maria Tereza Moregola de Arruda Corrêa, conforme dados levantados no caso.
Maria Tereza é dona da empresa MMV, de cuja conta o filho, preso, tentou, com a intermediação de um advogado, sacar R$ 4,5 milhões. É por meio da MMV que Corrêa estabeleceu seu vínculo com o exterior. Sócia-gerente da MMV, a "offshore" Hover West pertence ao lobista, que também é o seu procurador no Brasil.
Outra "offshore" uruguaia descoberta é a Belatir Investimentos S.A., que seria de Cadmo Peixoto, irmão de Lourenço Peixoto, preso, mas solto. Segundo as apurações, as composições societárias envolvendo as mesmas pessoas são indícios de rede criada para circular o dinheiro das fraudes.
Outro lado
O advogado de Jaisler Jabour de Alvarenga, Felipe Amodeo, disse ontem que, por ora, quaisquer acusações relacionadas a seu cliente e à família dele "são notícias de imprensa", que chegaram à mídia por conta da "inconfidência de alguém". "É especulativo comentar inconfidências de alguém", afirmou o advogado, que também responde pela família de Jabour.
Amodeo disse que só irá se pronunciar sobre as acusações depois que tomar "conhecimento das peças formais do processo".
A Folha não localizou os advogados de Lourenço Peixoto, Laerte Corrêa e Francisco Honorato, envolvidos na Operação Vampiro.
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EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Lobistas e empresários acusados de fraudar compras de medicamentos do Ministério da Saúde usaram "offshores" --empresas com sede em paraísos fiscais-- para movimentar milhões de dólares. As operações, que estão sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público no âmbito da Operação Vampiro, representam fortes indícios de lavagem de dinheiro. O período em que ocorreram ainda não foi definido.
Até o momento, já foram identificadas quatro "offshores", todas com sede no Uruguai. O proprietário de duas delas --Fargin S.A. e Southwest Trade--, conforme a investigação, é o empresário Jaisler Jabour de Alvarenga.
A Fargin S.A. tem uma filial no Brasil, a Fargin Ltda., que recebeu, a título de investimento da matriz, pelo menos duas remessas de cerca de US$ 1 milhão cada uma. Suspeita-se que sejam operações para esquentar dinheiro obtido de fraude e remetido para o exterior. Trata-se de conhecida operação de lavagem de dinheiro, de acordo com a investigação.
A Fargin Ltda. tem como sócia uma das filhas de Jabour, Kely. A outra filha, Elen, tem participação na empresa ITCLAB, cuja sócia-gerente também é uma "offshore" uruguaia --a Southwest Trade.
Há elementos para indiciar Kely e Elen, segundo um investigador que trabalha no caso. A PF indiciou em maio os 17 lobistas, empresários e servidores, presos pela Operação Vampiro, por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Os dados levantados na investigação até o momento permitem concluir que os lobistas --entre eles Lourenço Rommel Peixoto, Laerte Corrêa Júnior e Francisco Danúbio Honorato-- intermediavam interesses de laboratórios.
O pagamento pelos "serviços" era contabilizado mediante a apresentação de notas fiscais de empresas de consultoria --Honorato, por exemplo, costumava emitir notas acima de R$ 100 mil. Ao menos parte do dinheiro recebido pelos lobistas foi para o exterior. De lá, pode ter sido repatriado ou movimentado no mercado financeiro internacional. Falta descobrir o caminho para mandar o dinheiro para fora do país.
Há pelo menos quatro contas bancárias de Jabour no exterior, de acordo com a investigação. E também são investigadas operações financeiras na Suíça e em países do Caribe.
Ao contrário de Jabour, o lobista Laerte Corrêa Júnior não costuma apresentar o próprio nome para registrar seu patrimônio. Antes de ser preso, usava dois automóveis Porsche, mas só tem oficialmente como seu um Gol. Um dos Porsche constava como pertencente à sua mãe, Maria Tereza Moregola de Arruda Corrêa, conforme dados levantados no caso.
Maria Tereza é dona da empresa MMV, de cuja conta o filho, preso, tentou, com a intermediação de um advogado, sacar R$ 4,5 milhões. É por meio da MMV que Corrêa estabeleceu seu vínculo com o exterior. Sócia-gerente da MMV, a "offshore" Hover West pertence ao lobista, que também é o seu procurador no Brasil.
Outra "offshore" uruguaia descoberta é a Belatir Investimentos S.A., que seria de Cadmo Peixoto, irmão de Lourenço Peixoto, preso, mas solto. Segundo as apurações, as composições societárias envolvendo as mesmas pessoas são indícios de rede criada para circular o dinheiro das fraudes.
Outro lado
O advogado de Jaisler Jabour de Alvarenga, Felipe Amodeo, disse ontem que, por ora, quaisquer acusações relacionadas a seu cliente e à família dele "são notícias de imprensa", que chegaram à mídia por conta da "inconfidência de alguém". "É especulativo comentar inconfidências de alguém", afirmou o advogado, que também responde pela família de Jabour.
Amodeo disse que só irá se pronunciar sobre as acusações depois que tomar "conhecimento das peças formais do processo".
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