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13/09/2000 - 03h33

Vítima de explosão da esquerda tenta indenização

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FAUSTO SIQUEIRA, da Folha de S.Paulo

Atingido involuntariamente pelo confronto entre o regime militar e a guerrilha de esquerda nos anos 60, Orlando Lovecchio Filho, 54, acusa o atual governo de submetê-lo a "tortura psicológica".

Desempregado, casado, pai de um filho e alegando depressão, ele tenta, desde 1995, obter alguma compensação pelo dano que sofreu na madrugada de 19 de março de 1968, quando passava a pé em frente ao consulado dos Estados Unidos na rua Padre João Manoel (Jardins), em São Paulo.

À 1h15 daquele dia, uma bomba com 12 bananas de dinamite explodiu no local. Lovecchio, então com 22 anos, perdeu parte da perna esquerda: "Ainda tenho uns 80 estilhaços pelo corpo todo".

As indenizações e aposentadorias especiais concedidas pelo governo até agora às vítimas da repressão política no regime militar (1964-85) foram destinadas exclusivamente a cerca de 2.600 perseguidos, presos, torturados e familiares de desaparecidos. Para Lovecchio, os que, como ele, não se enquadram nessas categorias, vivem em um "limbo jurídico".

Embora o ministro da Justiça, José Gregori, já tenha reconhecido o direito de Lovecchio e de familiares de outras duas vítimas de atentados a receber indenização, os projetos que concedem pensão a eles estão parados há três meses na Presidência da República.

A assessoria da Secretaria Nacional de Direitos Humanos informou que os três projetos foram encaminhados em 22 de maio à Presidência, mas, devido à entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, dependem de previsão orçamentária antes de serem enviados ao Congresso.

Em todos os casos, os atingidos não eram militantes da esquerda armada nem integrantes do aparato repressivo, mas sofreram consequências desse embate.

Dos três, Lovecchio é o único sobrevivente. O sentinela Mário Kozel Filho morreu no quartel-general do Exército, em São Paulo, em 1978, após a explosão de um carro-bomba. Lyda Monteiro da Silva recebeu uma carta-bomba em agosto de 1980 na sede carioca da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual era secretária.

Na época do atentado, Lovecchio estava prestes a concluir o curso de piloto comercial, carreira que pretendia seguir. Desde então, foi dono, em Santos, de uma indústria de alto-falantes, que faliu, e vendedor de carros usados. Hoje, tenta montar e vender um sistema de câmaras robóticas de observação pela Internet.

"Eu era uma pessoa comum, que estava passando pela rua, e levei uma chumbada. Nunca tive envolvimento nem com grêmio estudantil. Sou apenas um cidadão que deveria ter recebido a proteção do Estado", disse Lovecchio, que se diz "apolítico".

Em 1993, o artista plástico Sérgio Ferro, atualmente na França, assumiu em entrevista ter sido um dos autores do atentado. Ao tomar conhecimento, Lovecchio moveu uma ação de indenização contra o artista, ex-militante da Ação Libertadora Nacional.

Ele chegou a obter como garantia a apreensão dos quadros de uma exposição de Ferro, mas a ação não teve êxito porque, passados mais de 20 anos, a Justiça considerou o caso prescrito.

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