09/07/2004 - 23h15

"Vampiro" nega envolvimento e diz que seria candidato pelo PT

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

O ex-coordenador de recursos logísticos do Ministério da Saúde Luis Cláudio Gomes da Silva negou hoje, em depoimento à Justiça Federal, sua participação no suposto esquema de fraudes de licitações no ministério.
Ele disse também que os cerca de R$ 210 mil apreendidos pela Polícia Federal no apartamento dele, em Recife, foram obtidos, não por meio de propina, mas pela venda de esmeraldas.

Segundo Silva, o dinheiro financiaria sua campanha para vereador na capital pernambucana. O acusado declarou que pretendia se candidatar neste ano, pelo PT, partido ao qual afirmou ser filiado desde 1994.

Interrogado por meio de carta precatória pelo juiz federal Frederico José Pinto de Azevedo, da 13ª Vara de Pernambuco, o ex-coordenador negou ter beneficiado laboratórios. Disse que durante sua gestão conseguiu reduzir o preço de hemoderivados, provocando "reboliço" no mercado.
Questionado pelo juiz sobre a razão de manter tanto dinheiro em seu apartamento, e não em um banco, Silva afirmou que nunca teve poupança. "Sempre preferi guardar tudo em casa."

Para juntar os R$ 210 mil, ele afirmou ter vendido um Vectra 1999 por R$ 27 mil e obtido um empréstimo de R$ 45 mil de um irmão. Com o dinheiro, disse ter comprado as esmeraldas.

O vendedor das pedras foi identificado como sendo "Carlos Carvalho, representante em Pernambuco da mina Nova Era, sediada em Minas Gerais".

As esmeraldas supostamente vendidas pelo representante foram então revendidas, segundo Silva, a empresas endividadas, interessadas em utilizá-las como garantia de pagamento. Silva disse que trocou parte do que arrecadou em dólares e euros, moedas encontradas pela polícia no apartamento.

Ainda de acordo com Silva, o ministro da Saúde, Humberto Costa, que o convidou para ocupar o cargo no governo, sabia do seu sonho político. "Minha vontade de ser vereador é antiga."

O acusado declarou, entretanto, que desde a sua prisão, em 19 de maio, não manteve mais contato com Costa. De acordo com ele, após ser libertado, depois de passar cinco dias na carceragem da PF, escondeu-se em seu apartamento. "Só comecei a sair de casa há cinco dias."
O advogado do acusado, Ademar Rigueira, anunciou que vai reivindicar na Justiça a devolução do que foi apreendido. "É um dinheiro lícito", afirmou.

Defesa

Durante o depoimento, o ex-coordenador defendeu o ex-diretor-executivo do Fundo Nacional de Saúde Reginaldo Barreto, também investigado pela PF. Barreto foi secretário das Finanças da Prefeitura de Recife na época em que Humberto Costa comandava a Secretaria da Saúde do município e tinha Silva como diretor financeiro da pasta.

O acusado também defendeu o ministro e disse que as licitações suspeitas de fraude não foram feitas pelo atual governo. "Ele [Costa] sempre exigiu preços menores para os produtos."

De acordo com Silva, assim que as suspeitas de irregularidades vieram à tona, os integrantes da comissão de licitação foram substituídos. O sistema de compras, então baseado em licitações, declarou, foi trocado pelo de pregão, reduzindo o prazo de aquisição, de até 120 dias para 15 dias.

Segundo ele, não havia como aumentar o número de laboratórios nas concorrências porque a legislação só permitia a participação de empresas cadastradas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Apenas quatro indústrias cumpriam essa exigência, na época, declarou. "Mesmo que um laboratório estrangeiro quisesse fornecer o medicamento de graça, não poderia legalmente participar do processo", disse.

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