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16/07/2004 - 08h00

Maluf visita hospital e tumultua a UTI

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LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Folha de S.Paulo

Em campanha pela Prefeitura de São Paulo, Paulo Maluf (PP) entrou ontem em uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), onde cerca de 30 pacientes estavam internados em estado grave, com respiração artificial e sob controle de aparelhos. Cerca de 30 pessoas, entre médicos, assessores, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, acompanharam Maluf.

O diretor de Comunicação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Nacime Salomão Mansur, condenou a atitude do candidato e do hospital. "Dirijo cinco hospitais, tenho 23 anos de formado e nunca na minha vida ouvi uma história como esta. É uma situação absurda e irresponsável por parte do candidato, que colocou em risco a saúde dos pacientes, a dele e a de todos que o acompanhavam."

A "visita" pela UTI do Hospital e Maternidade Voluntários, no bairro de Santana (zona norte de São Paulo), durou de 10min. a 15min. e foi bastante tumultuada. Maluf andou de leito em leito, acenou para alguns e cumprimentou outros. A maioria dos pacientes estava desacordada. Um deles está internado há 20 dias com meningite bacteriana.

Enquanto Maluf passava pelos leitos, o paciente José Matias da Silva, 46, que estava com um tubo na boca e um controlador de batimento cardíaco, chamou o ex-prefeito com dificuldade. "Maluf, Maluf." O candidato, que estava se afastando do leito, voltou e se aproximou do paciente, que pediu: "Mate os bandidos, mate os bandidos".

"Com Maluf na prefeitura, a Rota vai para as ruas", respondeu o ex-prefeito --apesar de a Rota (unidade de elite da Polícia Militar) ser de responsabilidade do governo do Estado. Em seguida, Maluf segurou o pulso esquerdo do paciente e disse, em tom de apoio, que ele iria "sair dessa"
.
Ainda no pé do leito de Silva, o ex-prefeito perguntou a um médico que acompanhava a comitiva o que havia acontecido com o paciente. "Ele foi baleado, no último dia 12, em uma tentativa de assalto. A bala atingiu o fígado e está alojada no lado esquerdo", explicou o médico, que foi interrompido por um colega que pediu que todos se afastassem. O tumulto estava estressando os doentes. Na saída, ainda se podia ouvir os gritos de dor de um deles.

O dono do hospital, Francisco Antonio Tortorelli, disse ter ficado "assustado" com o número de pessoas que entraram na UTI. "Não sei de quem foi a idéia de entrar. Eu achei que iam olhar pelo vidro da porta e voltar, mas não. Foi um desagrado total. O hospital tem 15 anos, já recebeu outros políticos, mas isso nunca aconteceu. Fiquei chateado, nunca pensei que fosse ser esse tumulto", disse o médico, que também acompanhou a comitiva na UTI.

Tortorelli disse que a equipe de Maluf "se convidou" para conhecer o hospital. "Mas vou votar no José Serra [PSDB], que foi ministro da Saúde e é mais sério."

Conselho de médico

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo informou que irá instaurar um procedimento para apurar a responsabilidade do Hospital e Maternidade Voluntários na "visita" de Paulo Maluf à UTI.

"Como a situação é inusitada, absurda e sem precedentes, teremos de estudar o que aconteceu e avaliar eventuais punições", disse Nacime Salomão Mansur, diretor do órgão.

Segundo ele, todo hospital tem regulamentos próprios, mas alguns procedimentos são comuns. Em uma UTI, diz Mansur, é autorizada a visita de apenas um familiar e em horário determinado.

"Em época de campanha, visitar pacientes entubados e com respirador é uma burrice. Se isso não fosse verdade, seria uma piada de mau gosto", afirmou o diretor, para quem o próprio candidato se colocou em risco de eventual contaminação.

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