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06/08/2004 - 08h45

Já comi torresmo com mais cabelo, diz diretor do BB

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ELIANE CANTANHÊDE
colunista da Folha de S.Paulo

O catarinense Henrique Pizzolato, 51, apontado como o responsável por destinar verbas do Banco do Brasil para um show em benefício do PT, desdenha tanto das notícias da imprensa quanto da possibilidade de ser afastado da Diretoria de Marketing do Banco do Brasil: "Já comemos torresmo com muito mais cabelo", disse ele ontem à Folha.

Filiado ao PT desde a fundação do partido e enfatizando que conhece "no mínimo a metade dos ministros", Pizzolato diz que só sabe dessa história de demissão pelos jornais e invoca seu espírito franciscano: "Se tiver um céu, vou ficar muito pouco no limbo, pelo que já passei, pelo que já fiz e por todas as orações que fiz para São Francisco".

Enumerando os ministros amigos, ele citou, por exemplo, dois que têm origem bancária, Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Ricardo Berzoini (Trabalho), e um com origem na Pastoral Operária, da Igreja Católica, Miguel Rossetto (Reforma Agrária).

Curiosamente, porém, Pizzolato disse que tem pouco contato com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, apontado como o principal responsável pela designação de vários petistas para cargos-chave no Banco do Brasil.

"É com quem tenho menos contato. Ele [Dirceu] não é bancário nem é ligado à Pastoral", justificou ontem, numa conferência por telefone da qual participou pelo menos um de seus assessores diretos.

Pizzolato também menospreza sua ligação com o tesoureiro do PT e da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, Delúbio Soares, e garante que viu pela imprensa a informação de que teria sido indicado por ele para o cargo: "Eu conheço o Delúbio, sim, mas conheço o Lula também".

E mais: Pizzolato afiançou que nunca foi do comitê financeiro da campanha de Lula, ao lado de Delúbio: "Eu fazia de tudo, cuidei de gerador de luz, de estacionamento, de lojinha e até do carnê de contribuição dos filiados".

Pergunta da Folha: "Então, por que o sr. andava com um cartão de visitas anunciando que era do comitê financeiro, com timbre da campanha?"
Resposta: "Para não ficar muito solto lá dentro [do comitê]. Aí, me deram esse cartão".

Pizzolato se negou a dizer quem o indicou para a diretoria do BB no governo Lula, repetindo várias vezes sua longa convivência no banco, interrompida durante a campanha presidencial.

Ele começou a carreira como funcionário do Banco do Brasil, virou presidente do Sindicato dos Bancários de Toledo (PR) e depois presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Paraná, até ser eleito por voto direto, em 1992, representante dos funcionários do BB na diretoria da instituição, com assento no Conselho de Administração.

Dali, Pizzolato foi para a Previ, o fundo de pensões do BB que, no ano passado, acumulava um patrimônio estimado em R$ 38 bilhões, tem representantes em empresas privadas e é decisivo no mercado imobiliário brasileiro.

Da Previ para a campanha e, da campanha, de volta à direção do BB em Brasília, onde é apontado agora como o responsável pela compra de R$ 70 mil em ingressos de um show da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, na churrascaria Porcão. A renda do show era para a construção da nova sede do PT.

Na sua versão, ele foi procurado por um dos sócios do restaurante --"era goiano ou mineiro, não lembro o nome"-- em abril deste ano, pedindo patrocínio para o show. Não gostou muito da idéia, apesar de o BB receber "uma média de 40 a 50 pedidos de patrocínio por dia", e sugeriu que os gerentes do Porcão acertassem outras opções com gerentes do BB.

Daí, enquanto os gerentes negociavam, viajou "cerca de 15 dias" para a Europa. Tudo acertado entre eles, a compra dos ingressos foi fechada numa reunião na sua diretoria, a de Marketing, com o intuito de premiar funcionários de Brasília que tivessem atingido metas de incremento dos negócios de cartão de crédito.

Segundo ele, o show veio cobrir um buraco: todos os anos, o BB patrocina um torneio de vôlei em Brasília, mas neste ano não foi realizado. Os funcionários de Brasília, portanto, estavam sem premiação por desempenho:

Folha - O sr. não sabia que o show era para o PT? Nem a diretoria?
Pizzolato
- Não. Só soube dois dias depois, pelos jornais.

Folha - Mas o presidente do banco [Cássio Casseb] escreveu para a Comissão de Ética Pública que soube antes e não deu tempo de reverter. Como o sr. não soube?
Pizzolato
- Porque naquele dia [terça-feira, 13 de julho] teve reunião de diretoria, que dura quase o dia inteiro, de 14h30 até terminar.

Folha - O presidente não participou? E não se falou sobre isso?
Pizzolato
- O assunto não estava na pauta.
Ainda segundo o diretor de Marketing, era difícil Casseb saber que o show reverteria para o PT, porque ele comprou um convite comum, sem usar o do banco, "que era vermelho, com o nome do Porcão e do show".

Folha - Vermelho? A cor do PT?
Pizzolato
- Era mais ou menos vermelho. Um vermelho meio rosa.

Especial
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