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12/08/2004
-
08h13
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Charuto Cohiba (cubano) na mão, fala pausada, terno e gravata azuis-marinhos, camisa azul claro, o ex-presidente Fernando Collor de Mello fez ontem sua mais dura crítica à gestão Luiz Inácio Lula da Silva, comparando o tesoureiro petista, Delúbio Soares, ao homem do dinheiro collorido, Paulo César Farias.
"O Delúbio é muito mais abrangente do que foi o Paulo César. A situação do Delúbio é, no mínimo, muito parecida com a situação em que esteve envolvido o PC", declarou o ex-presidente durante um almoço ontem, em Brasília, no restaurante Piantella.
"O Brasil inteiro conhece o ex-presidente. Não vou polemizar com ele", respondeu Delúbio ao saber da declaração.
Collor completa 55 anos hoje. Governou o Brasil de 1990 a 1992. Saiu do cargo depois que o Congresso aprovou um processo de impeachment, acusando-o de corrupção. Está agora filiado ao minúsculo PRTB.
Planos políticos eleitorais? "Nenhum", responde. "Voto em Maceió", esclarece, para deixar claro que não apoiará a candidatura de Marta Suplicy (PT) à reeleição para prefeita de São Paulo --o PRTB está na coligação paulistana petista.
Em conversa de pouco mais de uma hora com a Folha --quando deu apenas algumas garfadas num prato de carne seca desfiada, acompanhado de caldo de feijão preto, purê de abóbora e arroz--, Collor saiu de um silêncio mantido desde a posse de Lula. Até ontem, restringia-se a falar sobre a sua torcida para que a administração petista fosse bem-sucedida.
Ontem, além de comparar Delúbio a PC Farias, atacou Lula. "O Lula não é uma pessoa preparada (...) Na diplomacia presidencial, o que conta é o contato pessoal. É preciso haver conversas a dois, sem intérpretes. O Lula não tem como ter conversas com o Bush, o Chirac, o Schröder", afirmou.
No governo Collor, a Polícia Federal invadiu o prédio da Folha em São Paulo. Hoje, o ex-presidente defende valores diferentes. Critica a criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo). "É inacreditável, inadmissível", diz ele.
A seguir, trechos da entrevista de Collor à Folha:
Alianças de Lula
"Excepcionais. Excepcionais".
Delúbio Soares
"O Delúbio é muito mais abrangente do que foi o Paulo César. A situação do Delúbio é, no mínimo, muito parecida com a situação em que esteve envolvido o PC".
"Dizia-se que ele [PC] fazia tráfico de influência no governo, que contatava empresários, que fazia isso com a anuência do presidente da República. Depois, ficou constatado que fazia muito por conta própria".
"Ele [PC] não fazia parte do organograma do poder. O Delúbio, não. Faz parte do organograma do poder. Ele faz parte da direção do PT. Age tanto à luz do sol do meio-dia quanto à luz da lua cheia da meia-noite".
"Faz tudo o que faz com 'transparência', como ele mesmo diz". O PC foi meu tesoureiro de campanha. O Delúbio é o tesoureiro do PT. Ele transita com absoluta desenvoltura e não esconde de ninguém. Ao fazer à luz do dia, confunde as pessoas. Quer fazer parecer que é algo absolutamente natural. E pode ser tudo, menos natural".
"Gostaria que nada disso estivesse acontecendo. Passei por tanta coisa e parece que estamos passado agora por uma reedição do que já ocorreu".
"Delúbio pode atingir a política econômica. Não tenho nenhuma dúvida de que há vasos comunicantes entre o que ele faz e todos no governo, inclusive na área econômica --até para dar credibilidade ao que vocês publicam. Muito embora eu já aprendi que em questão de voto, santidade, dinheiro e notícia de jornal, é sempre bom dar um desconto: é sempre a metade da metade".
"Mas esse caso Delúbio pode atingir o âmago da questão econômica e do governo por conta da capilaridade das relações".
Lula
"O Lula não tem a consciência de tudo isso [Delúbio e eventual tendência autoritária do governo atingir a política econômica]. Não tem como entender as conseqüências".
"Quero dizer que tenho boas recordações do Lula. Recordo-me que estivemos juntos no final da campanha das Diretas-já [1983-1984]. Acho o Lula uma pessoa bem intencionada".
"Só o fato de ele ter sido eleito presidente não o torna mais preparado. É claro que o exercício da presidência ajuda. Os briefings que recebe antes das viagens, os contatos. Mas o Lula não é uma pessoa preparada. E falo isso como uma pessoa que torce para que dê tudo certo. O Lula é o dirigente de um partido político que foi depositário de todas as esperanças, de todos os anseios do país".
Governo Lula
"José Dirceu é preparado. Esse é. Se o José Dirceu não tivesse sofrido o abalo do caso Waldomiro, o governo seria outro. O caso Waldomiro neutralizou um operador político extraordinário que é o José Dirceu. O restante [outros ministros] faz parte de uma 'petite bourgeoisie'".
"[Todos os outros? Aldo Rebelo?] Não. O Aldo Rebelo eu reputo como uma pessoa extremamente preparada, mas não tem o peso político necessário para o jogo do poder".
"O Palocci também é uma surpresa para mim. O Roberto Campos, se vivo fosse, ficaria enrubescido ao ver o vigor com que o Palocci aplica o receituário liberal."
"A política externa é um dos pontos mais fracos do governo. O Celso Amorim é da turma dos barbudinhos esquerdistas do Itamaraty dos anos 70, com uma visão terceiro-mundista".
"Os frutos colhidos agora na Organização Mundial do Comércio foram plantados antes do governo Lula. A inserção internacional do Brasil vem sendo plantada ao longo dos anos".
"Na diplomacia presidencial, o que conta, o número um, é o contato pessoal de presidente com presidente. O que vale é a empatia entre presidentes. É preciso haver conversas a dois, sem intérpretes. O Lula não tem como ter conversas com o Bush, o Chirac, o Schröder. É preciso que um entenda o outro, que falem a mesma língua".
FHC e liberalismo
"Depois de ter me cortejado como uma debutante que vai dançar a primeira valsa, para ser ministro das Relações Exteriores, fez discurso feroz no Senado destruindo a política econômica. Depois, abraçou a minha agenda econômica".
"O Itamar seguiu a agenda econômica de 89. O Fernando Henrique a seguiu rigidamente. E o Lula a executa até exacerbadamente. O problema é que esse pessoal ainda não percebeu que a agenda inaugurada por mim já está ultrapassada. Precisa de uma atualização. Não digo que seja o caminho, mas acho que o Nestor Kirchner, na Argentina, está fazendo um trabalho interessante. Disse que pagaria só 25% da dívida e a Argentina está crescendo".
Meirelles e Casseb
"Se fosse no meu governo, seria grave. Mas acho, sem entrar no mérito da questão, que o governo acerta ao defender as posições do Meirelles e do Casseb. É bom para o mecanismo de funcionamento do governo".
Stalinismo
"Esse CFJ [Conselho Federal de Jornalismo] é uma coisa inacreditável, inadmissível. Querem também amordaçar o Ministério Público. Há dirigismo cultural. A única coisa que me parece semelhante aconteceu na época do Stalin".
Especial
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Delúbio é mais abrangente que PC Farias, diz Collor
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"O Delúbio é muito mais abrangente do que foi o Paulo César. A situação do Delúbio é, no mínimo, muito parecida com a situação em que esteve envolvido o PC", declarou o ex-presidente durante um almoço ontem, em Brasília, no restaurante Piantella.
"O Brasil inteiro conhece o ex-presidente. Não vou polemizar com ele", respondeu Delúbio ao saber da declaração.
Collor completa 55 anos hoje. Governou o Brasil de 1990 a 1992. Saiu do cargo depois que o Congresso aprovou um processo de impeachment, acusando-o de corrupção. Está agora filiado ao minúsculo PRTB.
Planos políticos eleitorais? "Nenhum", responde. "Voto em Maceió", esclarece, para deixar claro que não apoiará a candidatura de Marta Suplicy (PT) à reeleição para prefeita de São Paulo --o PRTB está na coligação paulistana petista.
Em conversa de pouco mais de uma hora com a Folha --quando deu apenas algumas garfadas num prato de carne seca desfiada, acompanhado de caldo de feijão preto, purê de abóbora e arroz--, Collor saiu de um silêncio mantido desde a posse de Lula. Até ontem, restringia-se a falar sobre a sua torcida para que a administração petista fosse bem-sucedida.
Ontem, além de comparar Delúbio a PC Farias, atacou Lula. "O Lula não é uma pessoa preparada (...) Na diplomacia presidencial, o que conta é o contato pessoal. É preciso haver conversas a dois, sem intérpretes. O Lula não tem como ter conversas com o Bush, o Chirac, o Schröder", afirmou.
No governo Collor, a Polícia Federal invadiu o prédio da Folha em São Paulo. Hoje, o ex-presidente defende valores diferentes. Critica a criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo). "É inacreditável, inadmissível", diz ele.
A seguir, trechos da entrevista de Collor à Folha:
Alianças de Lula
"Excepcionais. Excepcionais".
Delúbio Soares
"O Delúbio é muito mais abrangente do que foi o Paulo César. A situação do Delúbio é, no mínimo, muito parecida com a situação em que esteve envolvido o PC".
"Dizia-se que ele [PC] fazia tráfico de influência no governo, que contatava empresários, que fazia isso com a anuência do presidente da República. Depois, ficou constatado que fazia muito por conta própria".
"Ele [PC] não fazia parte do organograma do poder. O Delúbio, não. Faz parte do organograma do poder. Ele faz parte da direção do PT. Age tanto à luz do sol do meio-dia quanto à luz da lua cheia da meia-noite".
"Faz tudo o que faz com 'transparência', como ele mesmo diz". O PC foi meu tesoureiro de campanha. O Delúbio é o tesoureiro do PT. Ele transita com absoluta desenvoltura e não esconde de ninguém. Ao fazer à luz do dia, confunde as pessoas. Quer fazer parecer que é algo absolutamente natural. E pode ser tudo, menos natural".
"Gostaria que nada disso estivesse acontecendo. Passei por tanta coisa e parece que estamos passado agora por uma reedição do que já ocorreu".
"Delúbio pode atingir a política econômica. Não tenho nenhuma dúvida de que há vasos comunicantes entre o que ele faz e todos no governo, inclusive na área econômica --até para dar credibilidade ao que vocês publicam. Muito embora eu já aprendi que em questão de voto, santidade, dinheiro e notícia de jornal, é sempre bom dar um desconto: é sempre a metade da metade".
"Mas esse caso Delúbio pode atingir o âmago da questão econômica e do governo por conta da capilaridade das relações".
Lula
"O Lula não tem a consciência de tudo isso [Delúbio e eventual tendência autoritária do governo atingir a política econômica]. Não tem como entender as conseqüências".
"Quero dizer que tenho boas recordações do Lula. Recordo-me que estivemos juntos no final da campanha das Diretas-já [1983-1984]. Acho o Lula uma pessoa bem intencionada".
"Só o fato de ele ter sido eleito presidente não o torna mais preparado. É claro que o exercício da presidência ajuda. Os briefings que recebe antes das viagens, os contatos. Mas o Lula não é uma pessoa preparada. E falo isso como uma pessoa que torce para que dê tudo certo. O Lula é o dirigente de um partido político que foi depositário de todas as esperanças, de todos os anseios do país".
Governo Lula
"José Dirceu é preparado. Esse é. Se o José Dirceu não tivesse sofrido o abalo do caso Waldomiro, o governo seria outro. O caso Waldomiro neutralizou um operador político extraordinário que é o José Dirceu. O restante [outros ministros] faz parte de uma 'petite bourgeoisie'".
"[Todos os outros? Aldo Rebelo?] Não. O Aldo Rebelo eu reputo como uma pessoa extremamente preparada, mas não tem o peso político necessário para o jogo do poder".
"O Palocci também é uma surpresa para mim. O Roberto Campos, se vivo fosse, ficaria enrubescido ao ver o vigor com que o Palocci aplica o receituário liberal."
"A política externa é um dos pontos mais fracos do governo. O Celso Amorim é da turma dos barbudinhos esquerdistas do Itamaraty dos anos 70, com uma visão terceiro-mundista".
"Os frutos colhidos agora na Organização Mundial do Comércio foram plantados antes do governo Lula. A inserção internacional do Brasil vem sendo plantada ao longo dos anos".
"Na diplomacia presidencial, o que conta, o número um, é o contato pessoal de presidente com presidente. O que vale é a empatia entre presidentes. É preciso haver conversas a dois, sem intérpretes. O Lula não tem como ter conversas com o Bush, o Chirac, o Schröder. É preciso que um entenda o outro, que falem a mesma língua".
FHC e liberalismo
"Depois de ter me cortejado como uma debutante que vai dançar a primeira valsa, para ser ministro das Relações Exteriores, fez discurso feroz no Senado destruindo a política econômica. Depois, abraçou a minha agenda econômica".
"O Itamar seguiu a agenda econômica de 89. O Fernando Henrique a seguiu rigidamente. E o Lula a executa até exacerbadamente. O problema é que esse pessoal ainda não percebeu que a agenda inaugurada por mim já está ultrapassada. Precisa de uma atualização. Não digo que seja o caminho, mas acho que o Nestor Kirchner, na Argentina, está fazendo um trabalho interessante. Disse que pagaria só 25% da dívida e a Argentina está crescendo".
Meirelles e Casseb
"Se fosse no meu governo, seria grave. Mas acho, sem entrar no mérito da questão, que o governo acerta ao defender as posições do Meirelles e do Casseb. É bom para o mecanismo de funcionamento do governo".
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