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16/08/2004 - 08h00

Banco confirma peça-chave em apuração sobre Maluf

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ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília
RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

Transações financeiras registradas na base de dados do MTB Bank (hoje Hudson Bank) de Nova York (EUA), em poder da CPI do Banestado, confirmam parte do depoimento de uma peça-chave nas investigações sobre a movimentação de recursos no exterior de Paulo Maluf, candidato do PP à Prefeitura de São Paulo.

O nome de Simeão Damasceno de Oliveira, advogado e ex-diretor financeiro da empreiteira Mendes Júnior, aparece no CD do MTB --enviado pelas autoridades americanas ao Congresso Nacional-- como autor de sete transferências, no valor total de US$ 485 mil, para contas da agência nova-iorquina do MTB em nome das empresas Venus International e Solid Financial.

No mesmo MTB consta o registro de um depósito de US$ 406,5 mil para o "beneficiário" "Maluf Paolo Salim", identificado pelo endereço residencial correto do candidato, como a Folha revelou na última sexta-feira.

Localizado ontem pela reportagem, por telefone, Oliveira não negou nem confirmou as transferências. Indagado se se recordava das operações, desconversou: "Eu não gostaria de falar sobre esse assunto". Em nota divulgada ontem a respeito do assunto, o ex-prefeito de São Paulo acusou "o repórter da Folha" de estar "a serviço de algum partido político interessado no resultado da eleição para prefeito de São Paulo".

Em três depoimentos prestados em 2002 aos promotores de Justiça de São Paulo, Oliveira havia dito que fizera depósitos no MTB e em outros dois bancos, o Citibank nova-iorquino e o "Safra de Genebra", na Suíça, com recursos supostamente desviados da obra de construção da antiga avenida Água Espraiada (hoje Jornalista Roberto Marinho). Segundo ele, o dinheiro iria para contas na Suíça atribuídas a Paulo Maluf.

Oliveira disse que o desvio na obra chegou a R$ 550 milhões.
Um ano depois, Damasceno voltou atrás e alterou seu primeiro depoimento. Ele foi ao 12º Cartório de Notas, em São Paulo, local indicado por um advogado de Maluf, e registrou seu desmentido. À CPI do Banestado, em agosto de 2003, também afirmou que "acabou falando coisas que não eram para ser ditas".

De acordo com a base de dados do MTB, seis, das sete transferências de Damasceno, foram para a conta da "offshore" Venus.

A Venus abastece bancos da Suíça. Um extrato em poder da Promotoria mostrou que o UBP (Union Bancaire Privée) suíço recebeu, em 21 de maio de 1996, uma transferência de US$ 3,18 milhões. O dinheiro havia saído de uma conta chamada "Venus", no MTB nova-iorquino.

Sobre a Venus, a polícia e o Ministério Público Estadual sabem muito pouco. É uma "offshore" (empresa virtual, cujos donos são desconhecidos) sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Mas o próprio CD traz indício de que na verdade a Venus pode ser, como várias outras contas do MTB, controlada por doleiros do Brasil . Uma operação indica como endereço da Venus um prédio da avenida Ipiranga, no centro paulistano.

De acordo com as investigações da Polícia Federal e da CPI, a Venus e a Solid funcionam como "contas de passagem" --normalmente controladas por um doleiro, esse tipo de conta serve como ponto intermediário entre a origem e o beneficiário real do dinheiro.

O depósito registrado em nome de Simeão para a Solid Financial, de US$ 130 mil, seria, depois de passar na conta da Solid, remetido para outra conta no banco Republic de Genebra, na Suíça, um braço do grupo Safra.

Outras duas operações registradas no MTB confirmam que "Maria Rodrigues" está associada ao banco UBP --ela recebeu, aos seus cuidados, duas transferências de US$ 138 mil de uma empresa localizada no Uruguai.

Em seu depoimento ao Ministério Público, Simeão Oliveira havia dito que a conta na Suíça chamada "Maria Rodrigues" também recebera recursos públicos desviados. Investigações posteriores dos promotores indicaram que Maria era funcionária de uma agência do UBP na Suíça que gerenciava contas bancárias.

Outro lado

O ex-diretor financeiro da empreiteira Mendes Júnior, Simeão Damasceno de Oliveira, disse que não comentaria as transferências bancárias em seu nome no MTB Bank. Em 2003, à CPI, disse que "não queria fazer injustiças".

Paulo Maluf, candidato do PP à Prefeitura de São Paulo, emitiu ontem uma nota, assinada pelo assessor Adilson Laranjeira: "O senhor Simeão voltou atrás sobre a mentira que havia dito contra Paulo Maluf, por medo de ser processado, através de uma declaração pública feita e registrada em cartório, onde reconheceu que nada sabe que envolva o nome do ex-prefeito de São Paulo.

"A divulgação dessa mentira, dita na CPI do Banestado no ano passado, apenas demonstra, mais uma vez, que quem está divulgando isso agora, véspera de eleição, inclusive o repórter da Folha, está a serviço de algum partido político interessado no resultado da eleição para prefeito de São Paulo. Mais estranho ainda é que a Folha, que condenou em editorial os vazamentos desta CPI, permita desonestamente que um repórter dela faça uso desse material mentiroso a serviço eleitoral."

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