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27/08/2004 - 22h18

Índios esperam seis dias por audiência com ministro em Brasília

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HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Campo Grande

Após seis dias em Brasília, onde chegaram de ônibus viajando 36 horas, um grupo de 19 cintas-largas não conseguiu falar com o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) para discutir a regularização do garimpo na terra indígena Roosevelt, em Espigão d'Oeste (534 km de Porto Velho), no Estado de Rondônia, informaram três lideranças indígenas ouvidas hoje pela Agência Folha.

"Não posso confirmar se é verdade, mas chegou para a gente que o ministro disse que não queria receber assassinos", afirmou Pandere Cinta-Larga, 30, gerente do garimpo de diamantes. Segundo ele, a informação partiu de funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Em abril deste ano, guerreiros cintas-largas mataram 29 garimpeiros que entraram na terra indígena para extrair diamantes.

O grupo que estava em Brasília voltou ontem para a aldeia sem saber qual a posição do governo federal sobre a mineração em áreas indígenas.

As lideranças disseram que os 1.300 cintas-largas querem cuidar sozinhos do garimpo sem a participação de "brancos".

"Se acontecer algumas coisa daqui para a frente, o culpado é o governo [federal]", afirmou Pandere. Segundo ele, após os 29 assassinatos o garimpo foi fechado.

Desde agosto de 2003, os índios extraem ilegalmente diamantes na área. Em anos anteriores, o trabalho era feito por garimpeiros. Chegaram a existir 5.000 deles na área, mas foram retirados pela Policia Federal.
"É um pouco difícil. A gente se acostumou com o dinheiro [do diamante]. Mantínhamos a nossa comunidade, porque a Funai não tem recurso para isso", disse Júlio Cinta-Larga, 25. Segundo a Funai, em 2002, o garimpo enviou irregularmente para o exterior US$ 50 milhões por mês.

"Da nossa parte, estamos preocupados, mas o governo não mostrou interesse. A gente quer que seja regularizado [o garimpo] para atuar dentro da lei", acrescentou Júlio.

Devido às mortes de 29 garimpeiros e o contrabando das pedras preciosas, a PF montou em abril ao menos três barreiras nas entradas da reserva indígena que tem 2,7 milhões de hectares (18 vezes o tamanho da cidade de São Paulo).

"Não está funcionando [o garimpo] por motivo de não entrarmos [a PF barra] com petróleo [óleo diesel usado nas dragas do garimpo]", diz Pandere e avisa: "Não vamos desistir. Vamos trabalhar clandestinamente".

"Nossa proposta é para que o governo legalize para a gente não trabalhar no clandestino", diz o líder indígena Nacoça Pio Cinta-Larga que também foi a Brasília.

Segundo Pandere, a PF e o Ministério Público Federal estão ouvindo na aldeia ao menos 15 índios suspeitos de matar os 29 garimpeiros. "Depois vamos ver o que vai ser feito. Não sei se alguém vai ser punido. Não estamos preocupados. O conflito foi pela defesa de nosso território", afirmou Pandere, que nega ter participado dos assassinatos.

Outro lado

A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça informou que encaminhou os índios cintas-largas, quando eles estiveram em Brasília, até a presidência da Funai. Segundo a assessoria, os índios não pediram uma audiência com o ministro Márcio Thomaz Bastos.

"O ministro jamais diria isso", informou a assessoria sobre a informação do índio Pandere Cinta-Larga, segundo a qual Bastos teria dito que não receberia "assassinos".

O vice-presidente da Funai, Roberto Lustosa, afirmou que os índios tiveram uma conversa com o presidente do órgão, Mércio Pereira Gomes.

"O presidente estava de férias, mas deu uma passada por aqui e eles conversaram. Não sei o teor da conversa", disse Lustosa. Gomes ainda está de férias.

Lustosa disse que não se reuniu com os cintas-largas. Ele não soube dizer se funcionários da Funai teriam realmente passado a informação aos índios de que o ministro não queria recebê-los.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre garimpo na reserva Roosevelt
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