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29/08/2004 - 04h03

Lula agora usa "todos e todas" em discurso

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MARTA SALOMON
da Folha de S.Paulo

Abandonaram a gramática no governo petista. Ou reinventaram as regras do português, prefere dizer a ministra Nilcéa Freire (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) sobre uma das marcas impressas nos discursos de autoridades. Sob Luiz Inácio Lula da Silva, já não basta dizer apenas cidadãos ou companheiros para se dirigir aos homens e às mulheres da platéia. A moda agora é dizer "todos e todas".

"Estivemos [as mulheres] invisíveis na denominação genérica durante séculos. Essa generalização embute um conceito, como se quem contasse na sociedade, na família, no espetáculo fosse apenas o homem", justifica Nilcéa, que vê no cuidado com a linguagem um significado político importante. "A incorporação do vocabulário está no automático. A maioria dos ministros se refere especificamente às mulheres."

Nilcéa não está só na cruzada, tem o apoio do principal redator de discursos de Lula, o secretário-geral Luiz Dulci, um ex-professor de língua e literatura. Nas viagens pelo país, Dulci ouviu a reivindicação formal do movimento de mulheres contra o uso de palavras masculinas para tratar de ambos os sexos. Aderiu.

"A regra gramatical invisibiliza a mulher. Entendemos que a palavra todos, por exemplo, não nos inclui", diz Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão, uma organização feminista que trabalha com comunicação.

O apelo foi ouvido primeiro pelo ex-presidente José Sarney (1985-90), cujos discursos começavam pelo famoso "brasileiros e brasileiras". Isso foi antes de Sarney virar membro da Academia Brasileira de Letras.

Para os puristas, "brasileiros e brasileiras" e "todos e todas" não passam de redundância. Como o português é uma língua desprovida do gênero neutro, o gênero masculino ocupa esse papel. Seria uma característica da língua, mais do que um sinal de machismo notado por feministas.

Se os discursos quisessem mesmo dar mais atenção às mulheres deveriam dizer "cidadãs e cidadãos", "brasileiras e brasileiros". O resultado seria uma ênfase no feminino e um respeito maior à gramática. A radicalizar a moda petista, preocupam-se alguns, o Brasil teria de reescrever seus dicionários. Opções no feminino não aparecem entre os verbetes. Nem no plural. Seriam machistas os dicionários?

Embora o reforço do gênero feminino não conste de nenhuma norma oficial do governo, a Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica enviou, no ano passado, ofício aos ministérios para que a propaganda oficial cuidasse de dar mais visibilidade às mulheres.

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