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19/10/2004
-
09h06
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A divulgação de fotos que supostamente mostram o jornalista Vladimir Herzog momentos antes de sua morte provocou ontem uma crise entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Defesa.
A nota oficial sobre as fotos em que o jornalista, apresentado como suicida em 25 de outubro de 1975, aparece nu em uma cela sob custódia do Exército fez crescer um mal-estar que já havia sido desencadeado na semana passada.
Na sexta-feira, o comandante da Missão da ONU de Estabilização no Haiti, o general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, relacionou a onda de violência em Porto Príncipe a declarações do candidato democrata John Kerry em favor do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, que deixou o país em fevereiro após protestos e um levante armado.
Ontem, antes de embarcar para Curitiba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o ministro José Viegas (Defesa) para pedir explicações.
Segundo assessores do presidente, ele avalia que os dois casos passam a impressão de que Viegas não tem autoridade sobre o Exército.
Lula ficou particularmente irritado com o teor da nota do Exército, que em sua avaliação tem um estilo elogioso às práticas adotadas durante o regime militar contra militantes de esquerda.
Segundo Lula, o tipo de manifestação do general Heleno não poderia ser dada sem consultas ao governo brasileiro, especialmente ao ministro da Defesa. O comandante se retificou ontem, dizendo que foi mal interpretado.
Depois da cobrança de Lula, Viegas informou que iria conversar com o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, para saber quem havia decidido publicar a nota sobre Herzog. Viegas estava disposto a divulgar outra nota, dessa vez da Defesa, mas não o fez ontem.
O texto do Exército, divulgado em resposta à notícia publicada no domingo pelo "Correio Braziliense" sobre as fotos de Herzog ainda vivo e em condições humilhantes, diz que "as medidas tomadas pelas Forças Legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo, optaram pelo radicalismo e pela ilegalidade e tomaram a iniciativa de pegar em armas e desencadear ações criminosas".
Assessores de Lula avaliaram que esse trecho foi elaborado como se o país ainda estivesse sendo comandado pelos militares, o que ele considera inadmissível. Outro trecho do texto divulgado que irritou o presidente é o que afirma que "o movimento de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança".
A situação de Viegas no governo é delicada. Sua demissão é tida como certa na reforma ministerial que Lula deve promover após o segundo turno das eleições.
Os dois episódios envolvendo o Exército podem apenas reforçar a decisão do presidente de tirá-lo do ministério, ainda que ele não tenha tido participação direta nos episódios. Viegas pode ser substituído pelo ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Hoje, na reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Chico Alencar (PT-RJ) pretende propor que o Comando do Exército seja interpelado sobre o teor da nota oficial, que ele considera "obscurantista".
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A divulgação de fotos que supostamente mostram o jornalista Vladimir Herzog momentos antes de sua morte provocou ontem uma crise entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Defesa.
A nota oficial sobre as fotos em que o jornalista, apresentado como suicida em 25 de outubro de 1975, aparece nu em uma cela sob custódia do Exército fez crescer um mal-estar que já havia sido desencadeado na semana passada.
Na sexta-feira, o comandante da Missão da ONU de Estabilização no Haiti, o general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, relacionou a onda de violência em Porto Príncipe a declarações do candidato democrata John Kerry em favor do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, que deixou o país em fevereiro após protestos e um levante armado.
Ontem, antes de embarcar para Curitiba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o ministro José Viegas (Defesa) para pedir explicações.
Segundo assessores do presidente, ele avalia que os dois casos passam a impressão de que Viegas não tem autoridade sobre o Exército.
Lula ficou particularmente irritado com o teor da nota do Exército, que em sua avaliação tem um estilo elogioso às práticas adotadas durante o regime militar contra militantes de esquerda.
Segundo Lula, o tipo de manifestação do general Heleno não poderia ser dada sem consultas ao governo brasileiro, especialmente ao ministro da Defesa. O comandante se retificou ontem, dizendo que foi mal interpretado.
Depois da cobrança de Lula, Viegas informou que iria conversar com o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, para saber quem havia decidido publicar a nota sobre Herzog. Viegas estava disposto a divulgar outra nota, dessa vez da Defesa, mas não o fez ontem.
O texto do Exército, divulgado em resposta à notícia publicada no domingo pelo "Correio Braziliense" sobre as fotos de Herzog ainda vivo e em condições humilhantes, diz que "as medidas tomadas pelas Forças Legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo, optaram pelo radicalismo e pela ilegalidade e tomaram a iniciativa de pegar em armas e desencadear ações criminosas".
Assessores de Lula avaliaram que esse trecho foi elaborado como se o país ainda estivesse sendo comandado pelos militares, o que ele considera inadmissível. Outro trecho do texto divulgado que irritou o presidente é o que afirma que "o movimento de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança".
A situação de Viegas no governo é delicada. Sua demissão é tida como certa na reforma ministerial que Lula deve promover após o segundo turno das eleições.
Os dois episódios envolvendo o Exército podem apenas reforçar a decisão do presidente de tirá-lo do ministério, ainda que ele não tenha tido participação direta nos episódios. Viegas pode ser substituído pelo ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Hoje, na reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Chico Alencar (PT-RJ) pretende propor que o Comando do Exército seja interpelado sobre o teor da nota oficial, que ele considera "obscurantista".
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