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01/11/2004 - 21h10

Falhas na saúde pesaram na derrota do PT em Porto Alegre

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LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

Se é certo que nas eleições de ontem pesaram questões políticas, como a frustração de expectativas pelo governo federal, a pouca renovação de políticos e o desgaste após 16 anos de administrações petistas, também houve falhas gerenciais do PT em Porto Alegre, especialmente na saúde.

E o PT sabe disso. Tanto que o candidato Raul Pont, derrotado por José Fogaça (PPS), havia definido a sua vice, Maria do Rosário, como futura secretária do setor, caso vencesse.

Pesquisas qualitativas indicavam essa falha. Fogaça a explorou. Criticou o fato de o PT ter criado quatro postos 24 horas em 16 anos. ''É muito pouco'', disse.

O PT reconhece dificuldades no sistema de informação e triagem dos postos de saúde. Houve, também, redução nos recursos do SUS para hospitais, e a prefeitura deixou de destinar R$ 1,2 milhão mensais para a área. A ausência do programa de Saúde da Família em algumas comunidades e uma greve de médicos por 24 dias pioraram ainda mais a situação.

Para contrabalançar, há as conquistas dos 16 anos petistas em Porto Alegre, mas que se tornaram lugar-comum. A população quis mudança.
O transporte é tido como exemplar. Fogaça incluiu o setor como um dos que preservará, na lógica de ''manter o que está bem e mudar o que precisa''.

Há em Porto Alegre, para uma população de 1,4 milhão de pessoas (com uma classe média maior que em outras capitais brasileiras), 1.594 ônibus em 318 linhas. Desse total, 258 têm ar-condicionado e 208 contam com equipamentos para portadores de deficiência. A frota tem idade média de 4,5 anos.

Deficiências como a da saúde se sobrepuseram a conquistas que levaram Porto Alegre a ser considerada uma cidade com alto padrão na qualidade de vida. A ONU, em levantamento de 2001, atribuiu à cidade o mais alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre as 12 metrópoles brasileiras.

O Orçamento Participativo, marca da gestão petista, foi lançado em 1989 e, segundo a prefeitura, definiu investimentos de R$ 2,2 bilhões, escolhidos por 50 mil pessoas que se envolveram no processo.

Em outras campanhas, o PT havia sido criticado pela falta de obras viárias. O tema, neste ano, ficou fora da pauta oposicionista. Motivo: a avenida Terceira Perimetral, em obras, começou a ser construída na administração de Pont (1996-2000) e terá 12 quilômetros, ao custo de US$ 58 milhões, para rasgar a cidade de norte a sul, sem passar pelo centro.

A tendência, tal qual ocorreu com o sistema viário, era de o PT, se tivesse sido eleito, debruçar-se sobre a saúde. Pont definiu o setor como ''compromisso pessoal''.

Outro problema foi de verba. Para suplantar o déficit superior a R$ 30 milhões, após anos de superávit, a prefeitura cortou uma iniciativa sua: a bimestralidade de reajustes aos servidores, que, em parte, rumaram para a oposição.

A cientista política Céli Pinto, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), sustenta que as eleições em Porto Alegre foram delineadas pelo local. ''Foram o PT gaúcho e de Porto Alegre que perderam. Se há quatro razões, são estas: é muito difícil ganhar uma eleição pela quinta vez; há imensa fissura interna no partido; surgiu um forte discurso anti-PT no Estado, que tem um bipartidarismo de fato; e Fogaça conseguiu ter um discurso identificado com Porto Alegre.''

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