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10/11/2004 - 22h00

Operário de barragem contestada é morto na divisa entre RS e SC

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LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

Um operário que trabalha no corte de 1,4 mil hectares de mata entre os municípios de Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS) foi morto hoje com um tiro na cabeça. Lourival Tadeu da Silva, 36, trabalhava no desmatamento para a formação do lago onde se pretende construir a Usina Hidrelétrica de Barra Grande, na divisa entre os dois Estados.

Agricultores que terão terras alagadas pela usina, organizados pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), montaram há duas semanas um acampamento na região para impedir o desmatamento. Alegam questões ecológicas e pedem a ampliação do número de famílias indenizadas. Há um total de 1.500 famílias (6.000 pessoas) a serem despejadas do local.

A polícia apura se os acampados teriam alguma relação com o crime. Uma possibilidade investigada é que Lourival Tadeu da Silva tenha sido atingido pela bala quando se dirigia ao local de trabalho, dentro do ônibus. A outra, defendida pelo MAB, diz que a morte dele foi conseqüência de briga entre operários.

O delegado Antônio Rogério Ribeiro, que investiga o caso, ainda não sabe quem foi o autor do crime nem suas circunstâncias.

Natural de Mangueirinha (PR), Silva foi levado ao Hospital Frei Rogério, em Anita Garibaldi. Não resistiu, porém, ao ferimento provocado pela bala.

A briga pela desocupação da área se iniciou seis anos atrás, quando o governo abriu estudo ambiental para a instalação da hidrelétrica. O estudo indicou que a área a ser alagada pela futura hidrelétrica tinha vegetação nativa. Mesmo assim, foi concedida licença para a construção.

O Ministério Público exigiu que a Baesa (Consórcio Energética Barra Grande S.A.), empresa responsável, compense o desmatamento com projetos de preservação de araucárias e vegetação nativa.

Há cerca de 300 integrantes do MAB acampados próximo do local onde haverá a represa. Uma liminar chegou a impedir que a Baesa desmatasse a área para formar o lago e iniciar os trabalhos da usina. A medida, porém, foi suspensa pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, com sede em Porto Alegre.

Em reunião hoje com representantes do Ministério de Minas e Energia e a Secretaria Geral de Governo, em Brasília, integrantes do MAB pediram uma solução negociada para as questões ambiental e social.

Em nota, a Baesa classifica a morte do operário como um ''atentado''. Sustenta que a obra ''é essencial no abastecimento de energia elétrica do país''.

A assessoria do MAB afirma que houve briga entre operários, o que é comum, e sustenta que o movimento não teria interesse em agredir um trabalhador.

Origem

O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) surgiu no início dos anos 80, a partir dos protestos de desalojados pela construção de barragens, especialmente nas regiões Sul, Norte e Nordeste.

Mantém parcerias com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e com o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores).

No final dos anos 90, iniciou-se a nacionalização do movimento. Em 1989, houve o 1º Encontro Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens. Em março de 1991, durante o 1º Congresso Nacional de Atingidos por Barragens, nasceu oficialmente o Movimento Nacional dos Atingidos por Barragens.

Segundo seus líderes, o MAB se opõe às grandes barragens estatais, privadas, financiadas ou não por agências internacionais. De acordo com eles, o movimento incentiva a busca de alternativas para a geração e distribuição de energia que modifiquem a atual matriz energética brasileira.

''O MAB reconhece como seus aliados todos os movimentos populares, em primeiro lugar aqueles que lutam pela reforma agrária'', diz o site oficial do movimento (www.mabnacional.org.br). O dia 14 de Março foi instituído como o Dia Nacional de Luta Contra as Barragens.

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