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23/01/2005 - 09h14

Divergência no governo paralisa o projeto de Angra 3

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MARTA SALOMON
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A oposição da ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) à retomada das obras na usina Angra 3 adiou indefinidamente a decisão do governo Lula sobre os rumos do programa nuclear brasileiro.

Com as obras paralisadas há quase dez anos por falta de dinheiro, a terceira usina nuclear brasileira custa por ano US$ 20 milhões (cerca de R$ 54 milhões de reais ou quase um terço do AeroLula) aos cofres públicos só para guardar os equipamentos importados durante o regime militar e evitar que se transformem em sucata.

Concluir a usina custará mais US$ 1,8 bilhão (R$ 4,8 bilhões) ao contribuinte. Desistir dela significará jogar fora outros US$ 750 milhões (R$ 2 bilhões) já investidos em equipamentos, além de deixar no meio do caminho os planos de domínio da tecnologia de energia nuclear.

A escolha, difícil, foi transferida no final do governo Fernando Henrique Cardoso para a gestão Lula, que marcou data para anúncio da decisão: dezembro do ano passado.

Em maio, a ministra de Minas e Energia criou grupo de trabalho conjunto com os ministérios de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia e Planejamento para estudar a conveniência de retomar as obras de Angra 3.

A usina é tida como desejável em todos os cenários traçados pelo governo para o programa nuclear em trabalho coordenado pela equipe do ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia).

Ao final do prazo de 180 dias, expirado em meados de novembro, o relatório produzido no grupo e favorável à usina por motivos econômicos --e sobretudo estratégicos-- foi desprezado. Foi como se o grupo de trabalho não tivesse existido.

Dias depois, Rousseff sugeriu que cada pasta listasse pontos positivos e negativos da obra e encaminhasse separadamente as conclusões ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), que assessora o presidente da República. A próxima reunião do conselho está prevista para março.

Segundo o ministro José Dirceu (Casa Civil), integrante do CNPE, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai tomar uma decisão, mas já não há data marcada para isso.

Custo

O principal argumento do Ministério de Minas e Energia contrário à Angra 3 é o custo da energia nuclear. Segundo o ministério, a energia produzida a partir do urânio enriquecido sai, pelo menos, pelo dobro do preço de produção da energia hidrelétrica.

Em abril, o governo pretende licitar 17 novos projetos de construção de usinas hidrelétricas. Juntos, poderão representar 2.830 MW a mais no sistema elétrico do país no final da década, contra 1.350 MW de potência estimada em Angra 3. A usina ficaria pronta em cinco anos e meio.

A ministra também investe nas recém-aprovadas Parcerias Público-Privadas para tentar levar adiante os planos de construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que poderá produzir mais de 7.000 MW. Para atender à demanda de energia provocada pelo crescimento econômico, o país precisa somar cerca de 3.000 MW de energia por ano ao sistema elétrico, segundo estimativa do ministério.

Estratégico

Principais entusiastas de Angra 3 no governo, os ministérios de Ciência e Tecnologia e da Defesa lançam mão de interesses estratégicos para defender a obra --peça importante do programa nuclear brasileiro. O programa nasceu na Marinha, que ainda hoje desenvolve projeto de um submarino movido a combustível nuclear.

A terceira usina integra os planos de o país dominar a tecnologia nuclear, dos quais fazem parte a auto-suficiência no enriquecimento de urânio -minério do qual o Brasil detém uma das maiores reservas do mundo e que, em estado bruto, é a base do combustível nuclear.

Um passo importante no caminho da auto-suficiência será dado em breve, com a inauguração da primeira fábrica brasileira de enriquecimento de urânio, em Resende, no Rio de Janeiro. O funcionamento da unidade obteve o aval da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) em novembro.

O primeiro módulo da fábrica deve começar a funcionar em agosto. Nesse módulo, as Indústrias Nucleares do Brasil poderão enriquecer uma primeira parcela (menos de 15%) do urânio que alimenta as usinas de Angra 1 e 2.

Interessada na construção de Angra 3, a multinacional francesa Areva mandará no mês que vem sua presidente, Anne Lauvergeon.

Especial
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