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13/02/2005
-
12h18
RUBENS VALENTE
IURI DANTAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O advogado e ex-secretário do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) Rogério Tadeu Buratti disse em depoimento à Polícia Federal que foi sondado pela empresa GTech, que gerencia loterias federais, para atuar como lobista no processo de renovação do contrato da empresa com a CEF (Caixa Econômica Federal).
Buratti, 42, afirmou não ter aceitado a oferta que, segundo ele, foi feita por dois executivos da GTech num hotel de Brasília.
Avaliado em R$ 650 milhões, o contrato foi renovado em maio de 2003. Um ano depois, essa renovação virou parte importante do escândalo Waldomiro Diniz --ex-assessor parlamentar da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva flagrado em vídeo de 2002 negociando propina com um empresário de jogos de Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira-- porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal passaram a investigar se houve tráfico de influência ou pagamento de propina para a realização da renovação.
O depoimento sigiloso de Buratti foi prestado no prédio da PF de Ribeirão Preto (interior de São Paulo) no final de setembro do ano passado ao delegado federal que conduzia o inquérito policial na época, Antonio César Fernandes Nunes.
No depoimento, a que a Folha teve acesso, Buratti admite que se reuniu com Marcelo Rovai e Marcos Andrade, à época diretores da GTech, na sala de reuniões do hotel Blue Tree Park, em Brasília. Ele não soube dizer com exatidão o dia da reunião, mas teria sido "entre o dia 25 de março e início de abril [de 2003], mas com certeza antes da assinatura do contrato".
Segundo Buratti, ele foi apresentado aos dois executivos pelo advogado Enrico Gianelli, que atuaria em ações cíveis movidas pela GTech contra a Caixa Econômica Federal. Após a apresentação, Gianelli teria deixado os três reunidos na sala do hotel.
No início da reunião, sempre segundo Buratti, Rovai disse que resolver a renovação do contrato com a Caixa era assunto importante para a GTech porque a multinacional, com sede nos Estados Unidos, estava com "ações em baixa" na Bolsa de Valores de Nova York.
Rovai teria dito que o trabalho de Buratti era necessário no processo de negociação porque a GTech tinha por hábito "contratar pessoas com história política para fazer a relação institucional com o governo". Teria mencionado ainda que o ex-senador José Richa, morto em 2003, fazia esse papel para a GTech.
Passados 12 meses desde a explosão do caso Waldomiro Diniz, as suspeitas sobre o ex-assessor da Casa Civil ainda não se traduziram em medidas na Justiça.
Hoje, o único órgão do Executivo que continua buscando provas contra Waldomiro é a PF, num inquérito cujos resultados são vistos com ceticismo até pelo diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda.
Trajetória
A história política de Buratti passa por três figuras do primeiro escalão do PT. Desde a década de 80, Buratti foi assessor do hoje presidente da Câmara, João Paulo Cunha, e do atual ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, além de ter exercido o cargo de secretário de Governo de Palocci em Ribeirão Preto no ano de 1993.
Por duas vezes, Buratti diz em seu depoimento que a proposta era para que atuasse como lobista da GTech. O consultor alega que "prontamente" recusou a proposta da GTech.
Mesmo após ter recusado a proposta, Buratti relatou ter recebido um telefonema de Marcelo Rovai em meados de 2003. A ligação teria sido feita dos Estados Unidos, pela qual o executivo teria dito a Buratti que o contrato fora finalmente assinado.
Buratti disse ainda que "não conhece e nunca manteve contato" com Waldomiro e Cachoeira.
Dois promotores de Justiça do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para Repressão do Crime Organizado), tentaram acompanhar o depoimento, mas foram retirados da sala após protestos do advogado de Buratti.
O depoimento de Buratti acrescenta uma nova contradição ao inquérito sobre Waldomiro Diniz. O nome do consultor foi citado pela primeira vez nas investigações pelos executivos da GTech, em depoimento à PF.
Segundo disseram ao delegado Nunes, Waldomiro os teria procurado exigindo que a multinacional contratasse Buratti para que o contrato com a Caixa fosse fechado. O inquérito vai além: os executivos teriam enviado à matriz a documentação da Buratti & Siqueira Assessoria, empresa de Buratti e sua mulher, Elza Siqueira, mas a empresa vetou a contratação da consultoria.
Então diretor de Marketing da GTech, Rovai, em sua versão, orientado por Waldomiro, teria se reunido com Buratti para obter cópia de seus documentos. O objetivo era enviar os papéis à sede da multinacional para avaliação e aprovação da contratação.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a Gtech
Assessor do PT diz que GTech tentou recrutá-lo como lobista
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IURI DANTAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O advogado e ex-secretário do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) Rogério Tadeu Buratti disse em depoimento à Polícia Federal que foi sondado pela empresa GTech, que gerencia loterias federais, para atuar como lobista no processo de renovação do contrato da empresa com a CEF (Caixa Econômica Federal).
Buratti, 42, afirmou não ter aceitado a oferta que, segundo ele, foi feita por dois executivos da GTech num hotel de Brasília.
Avaliado em R$ 650 milhões, o contrato foi renovado em maio de 2003. Um ano depois, essa renovação virou parte importante do escândalo Waldomiro Diniz --ex-assessor parlamentar da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva flagrado em vídeo de 2002 negociando propina com um empresário de jogos de Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira-- porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal passaram a investigar se houve tráfico de influência ou pagamento de propina para a realização da renovação.
O depoimento sigiloso de Buratti foi prestado no prédio da PF de Ribeirão Preto (interior de São Paulo) no final de setembro do ano passado ao delegado federal que conduzia o inquérito policial na época, Antonio César Fernandes Nunes.
No depoimento, a que a Folha teve acesso, Buratti admite que se reuniu com Marcelo Rovai e Marcos Andrade, à época diretores da GTech, na sala de reuniões do hotel Blue Tree Park, em Brasília. Ele não soube dizer com exatidão o dia da reunião, mas teria sido "entre o dia 25 de março e início de abril [de 2003], mas com certeza antes da assinatura do contrato".
Segundo Buratti, ele foi apresentado aos dois executivos pelo advogado Enrico Gianelli, que atuaria em ações cíveis movidas pela GTech contra a Caixa Econômica Federal. Após a apresentação, Gianelli teria deixado os três reunidos na sala do hotel.
No início da reunião, sempre segundo Buratti, Rovai disse que resolver a renovação do contrato com a Caixa era assunto importante para a GTech porque a multinacional, com sede nos Estados Unidos, estava com "ações em baixa" na Bolsa de Valores de Nova York.
Rovai teria dito que o trabalho de Buratti era necessário no processo de negociação porque a GTech tinha por hábito "contratar pessoas com história política para fazer a relação institucional com o governo". Teria mencionado ainda que o ex-senador José Richa, morto em 2003, fazia esse papel para a GTech.
Passados 12 meses desde a explosão do caso Waldomiro Diniz, as suspeitas sobre o ex-assessor da Casa Civil ainda não se traduziram em medidas na Justiça.
Hoje, o único órgão do Executivo que continua buscando provas contra Waldomiro é a PF, num inquérito cujos resultados são vistos com ceticismo até pelo diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda.
Trajetória
A história política de Buratti passa por três figuras do primeiro escalão do PT. Desde a década de 80, Buratti foi assessor do hoje presidente da Câmara, João Paulo Cunha, e do atual ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, além de ter exercido o cargo de secretário de Governo de Palocci em Ribeirão Preto no ano de 1993.
Por duas vezes, Buratti diz em seu depoimento que a proposta era para que atuasse como lobista da GTech. O consultor alega que "prontamente" recusou a proposta da GTech.
Mesmo após ter recusado a proposta, Buratti relatou ter recebido um telefonema de Marcelo Rovai em meados de 2003. A ligação teria sido feita dos Estados Unidos, pela qual o executivo teria dito a Buratti que o contrato fora finalmente assinado.
Buratti disse ainda que "não conhece e nunca manteve contato" com Waldomiro e Cachoeira.
Dois promotores de Justiça do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para Repressão do Crime Organizado), tentaram acompanhar o depoimento, mas foram retirados da sala após protestos do advogado de Buratti.
O depoimento de Buratti acrescenta uma nova contradição ao inquérito sobre Waldomiro Diniz. O nome do consultor foi citado pela primeira vez nas investigações pelos executivos da GTech, em depoimento à PF.
Segundo disseram ao delegado Nunes, Waldomiro os teria procurado exigindo que a multinacional contratasse Buratti para que o contrato com a Caixa fosse fechado. O inquérito vai além: os executivos teriam enviado à matriz a documentação da Buratti & Siqueira Assessoria, empresa de Buratti e sua mulher, Elza Siqueira, mas a empresa vetou a contratação da consultoria.
Então diretor de Marketing da GTech, Rovai, em sua versão, orientado por Waldomiro, teria se reunido com Buratti para obter cópia de seus documentos. O objetivo era enviar os papéis à sede da multinacional para avaliação e aprovação da contratação.
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