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12/03/2005 - 09h35

Marta se lança ao governo e fala em guerra com PSDB

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CATIA SEABRA
CONRADO CORSALETTE
da Folha de S.Paulo

De volta ao país com "energia renovada" após passar pela Índia e pela Europa durante cerca de 40 dias, a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT) começou a costurar sua volta à política paulista. Colocando-se como pré-candidata petista à sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e negando qualquer acordo para o lançamento do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao posto, ela afirma que os ataques que vem recebendo de seu sucessor, o prefeito José Serra (PSDB), são uma "guerra estrategicamente estudada" para desestabilizar seu partido e a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.

Marta já se instalou em seu instituto, uma das principais ferramentas para o fortalecimento de sua candidatura ao governo estadual. Na semana que vem, ela inicia a série de visitas ao interior do Estado, começando pelo Vale do Paraíba. Visitará prefeitos, diretórios de seu partido e gastará boa parte de seu tempo dando entrevistas.

A ex-prefeita diz não estar preocupada com a principal suspeita que pesa hoje sobre ela: ter descumprido a Lei de Responsabilidade Fiscal ao ter gasto em seu último ano de mandato mais do que arrecadou. Mantém a versão segundo a qual deixou dinheiro em caixa.

Nesta entrevista à Folha, a ex-prefeita se defende das críticas de Serra, acusa o prefeito de manipular dados financeiros, "humilhar" os fornecedores da administração paulistana e criar apenas factóides. Vê ainda "marasmo" no governo Alckmin e afirma que o Estado precisa de "sangue novo" em seu comando.

Folha - O giro pelo Estado é uma base para sua pré-candidatura?
Marta
- O PT tem candidatos excepcionais, diferentemente do partido adversário. [O senador] Aloizio Mercadante é um quadro excepcional. [O deputado] João Paulo fez uma presidência da Câmara fantástica. Tem [o ministro José] Dirceu e [o ministro Antonio] Palocci que poderiam ser excelentes candidatos. E eu tenho a experiência de prefeita. Temos de dar um tempo, colocar as realizações do governo Lula e batalhar a candidatura de 2006. O que vejo é que a guerra começou. O que estão fazendo aqui em São Paulo é a desconstrução do meu governo de forma não-honesta. É uma guerra estrategicamente estudada para desestabilizar a eleição de 2006, porque o governo do Estado é muito importante para a reeleição do Lula. Uma das formas de poder alavancar o PSDB é destruir nossa gestão. Por isso questionei o balanço [financeiro] provisório [de Serra]. Utilizaram dados que não são do SEO [Sistema de Execução Orçamentária]. De onde eles tiraram R$ 16 mil [valor em caixa em 1º de janeiro]? Comecei a pensar por que estão agindo dessa forma tão pouco ética. Paguei a dívida do [ex-prefeito Celso] Pitta sem discussão, sem humilhar as pessoas. Não precisava a humilhação que foi aquelas pessoas irem lá [reclamar as dívidas]. Foi para tirar foto de jornal.

Folha - Acha que o Serra impôs uma humilhação às pessoas?
Marta
- Foi uma humilhação aos fornecedores para criar um clima de crise financeira. O que tem de se perceber é que a administração é uma continuidade. Isso poderia ser tratado da forma como quando assumi. Com com respeito, e depois averiguar o que foi executado. Tinha dinheiro em caixa.

Folha - A senhora diz que os dados não batem com o SEO. Mas Serra diz que, como o SEO é sistema novo, gera uma defasagem em relação à verdadeira realidade das contas. Um extrato do Banco do Brasil da conta movimento da prefeitura mostra que saldo em caixa no dia 3 de janeiro era de R$ 16 mil.
Marta
- Mas não mostra as emendas que vieram, de R$ 55 milhões, o precatório de R$ 77 milhões que [o governador Geraldo] Alckmin pagou dia 31 de dezembro e isso só entrou na conta da prefeitura dia 4 ou 5.

Folha - Mas em um momento houve o saldo de R$ 16 mil.
Marta
- O que vale não é esse saldo, pois não é a única conta.

Folha - Mas o resto das contas são de recursos vinculados.
Marta
- Isso tudo também é para criar cortina de fumaça. Se há recurso vinculado para a saúde, você pode pagar a folha da saúde com esses recursos e usar o dinheiro que você pagaria a folha para outra coisa. Cria-se um caos. E depois o que faz? Pára os programas sociais, tira dinheiro do Renda Mínima, abandona os Telecentros, faz a coisa ridícula de mudar cor de uniforme. Ele parou tudo, como as obras de extensão da avenida Jacu-Pêssego.

Folha - Mas já estava parada.
Marta
- Tinha um trâmite. Fui a Brasília e pedi para liberarem o dinheiro. Tá lá o dinheiro. Paralisou para daqui a seis meses dizer que é um bom administrador, que pôs ordem na cidade.

Folha - Mas a prefeitura gastou mais do que tinha.
Marta
- Não. Acho que cumprimos a lei. Cancelar empenho [reserva de pagamento] que não tinha sido liquidado [atestado o serviço] está dentro do processo de continuidade administrativa que ele [Serra] quer interromper.

Folha - Aqui estão mais de mil fornecedores que foram cobrar a prefeitura por cancelamentos indevidos [a reportagem mostra a lista].
Marta
- Empenho cancelado é empenho que você não teve tempo para averiguar se foi feito ou não. Eu recebi muito disso [do Pitta]. Verifiquei e paguei.

Folha - O discurso de Serra sobre a falta de dinheiro tem prazo?
Marta
- Eu tinha me comprometido que daria cem dias para o prefeito. Mas cheguei aqui e encontrei esse balanço manipulado.

Folha - O que achou das declarações de Serra sobre a existência de corrupção nas subprefeituras.
Marta
- Mudamos o panorama das subprefeituras, informatizamos, ficou mais difícil de roubar. Se tem corrupção, prenda. É factóide, é factóide, é factóide. Serra foi eleito sem proposta. Era "ampliar e melhorar" o que fiz, além de tirar as taxas. Qual é a proposta?

Folha - O que a paulista Marta Suplicy, pré-candidata ao governo do Estado, acha do governo Alckmin?
Marta
- Não gostaria de responder isso como pré-candidata. Como paulista, acho que está na hora de mudar. São 12 anos de PSDB com situações graves, que eles tiveram tempo para modificar. Estou falando da Febem. Parece que não é com o governador. O Rodoanel está sendo recapeado e não completaram a obra. O metrô é o mais grave de todos. Foram feito 7 km em 12 anos.

Folha - Por que, como prefeita, não ajudou no metrô e Rodoanel?
Marta
- Pois recebi o transporte caótico. Então, eu tinha que dar conta primeiro da minha responsabilidade [ônibus municipais].

Folha - Ainda em relação ao governo Alckmin, mais algum ponto?
Marta
- São Paulo precisa de sangue novo, um partido que possa trazer uma administração mais audaz, que possa ter uma presença de Estado mais eficaz.

Folha - Mas o PT é novidade?
Marta
- O jeito de administrar é novidade. Na maior cidade do país, a gente fez novidade. No governo do Estado, qualquer um dos candidatos pode fazer uma administração muito mais criativa do que o marasmo do PSDB.

Folha - No fim da campanha, a senhora chegou a co-responsabilizar o Lula pela sua derrota. A senhora se arrepende de ter feito isso?
Marta
- Não fiz isso. O que disse foi que fui responsável pela minha derrota, várias ações em relação à comunicação, principalmente de taxa, que não foram bem explicados. Disse que as taxas, junto com a situação que o país ainda vive, fruto do governo Fernando Henrique, levam a uma insatisfação.

Folha - Ao dizer "fruto do governo FHC", a senhora não está fazendo com o ex-presidente o mesmo que Serra faz com a senhora?
Marta
- De jeito nenhum. Onde você está vendo paralelo? Não deixei herança maldita para ele. Deixei R$ 15 bilhões [de Orçamento]. Recebi R$ 9,8 bilhões.

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