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21/04/2005 - 21h08

Rádios do PA fazem campanha contra projeto de irmã Dorothy

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SILVIO NAVARRO
da Agência Folha
JAQUELINE ALMEIDA
Colaboração para a Agência Folha, em Belém

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Pará gravou programas de duas rádios clandestinas no município de Anapu (oeste do Pará) que atacam a missionária Dorothy Stang, assassinada em fevereiro, e o PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) idealizado pela freira.

As gravações foram feitas pela presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, Mary Cohen, que visitou Anapu na semana passada.

Cópias e transcrições das quatro fitas foram enviadas à CPT (Comissão Pastoral da Terra) e ao Comando do Exército, que mantém 40 homens patrulhando a cidade, e também serão remetidas ao Ministério Público Federal.

Segundo a OAB, as rádios funcionam ilegalmente e são conhecidas como Anapu FM e 87.5 FM. A primeira delas, ainda conforme a entidade, funcionaria dentro da Câmara Municipal.

A Anapu FM transmitiu uma sessão especial da Câmara, no dia 1º de abril, na qual os vereadores reclamam do trabalho de Dorothy Stang, da perseguição aos madeireiros e criticam o PDS.

Em um dos trechos das gravações, o vereador Paulo Anacleto (PPS) afirma, em discurso inflamado, que sempre foi contra as ações da missionária.

"Hoje se fala em canonizar a irmã Dorothy, transformá-la numa santa. É um absurdo. Ela poderia ser santa lá na terra dela, mas aqui na nossa [terra] nunca foi e, para mim, nunca será. Eu morreria e morro sendo contra as ações que ela fazia aqui no nosso município", disse.

Aplaudido, o vereador continua: "Milhões estão sendo gastos por causa da morte de uma pessoa. Está na cara que isso é manipulado por ONGs estrangeiras".

Na seqüência, o vereador Apolinário Farias (PL) afirma na tribuna da Casa que "até o cão vai se assombrar quando esse PDS chegar lá no inferno". No discurso, o mesmo parlamentar defendeu os madeireiros, que, para ele, abrem estradas e levam o progresso à região.

PDS

A rádio também transmitiu mensagens de produtores rurais e comerciantes contra o PDS. Em um dos trechos, um comerciante, chamado apenas de "doutor Damasceno", afirma que "nada justifica tirar a vida de uma pessoa, exceto num caso de legítima defesa, defesa de terceiros ou defesa de seu patrimônio".

"Se você mora num país em que não pode defender o que é seu, o que você está fazendo aqui? Se eu não posso defender minha propriedade, o que eu estou fazendo aqui?", diz.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Travessão do Água Preta, Josildo Alves de Freitas, disse que "se o PDS fosse bom, todo mundo teria aceitado e não era preciso empurrar goela abaixo".

Na rádio 87.5 FM, um locutor que se identifica como Souza, afirma durante um programa evangélico que o PDS é "maldito" e pede a população que se una contra o projeto.

"Vamos lutar. Somos 35 mil pessoas sofrendo repressão por causa da morte da missionária Dorothy Stang."

Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, os vereadores e empresários promovem uma campanha para tentar transformar a imagem da missionária.

"A idéia é criar um clima para, quando o Exército sair de lá, eles entrarem com tudo e dominarem os pequenos agricultores", disse ela.

Especial
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