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26/04/2005 - 09h12

Dirceu vai à Venezuela para falar sobre Cuba com Chávez

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ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha

EDUARDO SCOLESE
da Sucursal de Brasília

Na véspera da chegada a Brasília da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, viajou ontem à tarde a Caracas para se encontrar com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, justamente o maior adversário de Washington na América do Sul.

A agenda de Dirceu com Chávez não foi divulgada, mas o Itamaraty especulava ontem que um dos assuntos tratados deveria ser Cuba, uma das especialidades de Dirceu. Durante o regime militar (1964-1985) ele foi acolhido pela ilha de Fidel Castro.

De acordo com a Casa Civil, a idéia do ministro era conversar ainda na noite de ontem com Chávez, na sede do governo local, para retornar logo em seguida a Brasília num vôo da FAB (Força Aérea Brasileira), a tempo de acompanhar uma parte da visita de Rice, com quem se encontrou no início do mês passado, em Washington (EUA).

Na ocasião, Dirceu e a secretária de Estado divulgaram que falaram de Mercosul, América Latina e Alca (Área de Livre Comércio das Américas), tema que, na semana passada, foi tratado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "fora da agenda". Como Dirceu havia saído de uma viagem a Havana, o assunto da conversa pode ter sido uma flexibilização nas relações EUA-Cuba.

A iniciativa da viagem de Dirceu à Venezuela surgiu justamente logo após seu encontro com Rice. Na mesma época, Lula esteve com Chávez, que defendeu a necessidade de Brasil e Venezuela intensificarem os contatos.

Chávez queria ouvir Dirceu sobre seus contatos com a Casa Branca, nos quais o ministro brasileiro enfatizou que não há nenhum movimento anti-americanista nem por parte do Brasil nem dos seus vizinhos sul-americanos.

EUA e Venezuela vivem relações conflitantes. Dois dos motivos são a estreita ligação de Chávez com o ditador cubano, inimigo declarado de Washington, e a suspeita de apoio venezuelano às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Os EUA são o principal aliado do governo da Colômbia contra a guerrilha.

Enquanto os americanos armam a Colômbia, a Venezuela se arma. Chávez acaba de acertar a compra de US$ 1 bilhão em armamento da Espanha e de se deixar fotografar com uma milícia de 30 mil soldados. Até o Brasil vê essa postura com desconfiança.

No último domingo, Chávez fez mais um lance contra Washington, ao romper o tradicional acordo militar entre os dois países.

Apesar de todo o contencioso, tem havido nos últimos meses uma tímida sinalização de aproximação, tanto por parte da Venezuela como dos EUA. Os protagonistas foram justamente Rice, que afirmou não querer a Venezuela como "inimiga", e Chávez, que rotulou de "interessante" a posição da secretária de Estado.

O clima em geral continua tenso, mas nenhum dos dois países tem interesse em confronto, até porque a Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, e os EUA, um dos maiores compradores.

Auto-investido da função de mediador de conflitos nas Américas, o Brasil tenta intermediar negociações entre os dois governos, inclusive para tentar pavimentar um futuro sem traumas para Cuba depois de Fidel. Além da hierarquia diplomática, Dirceu tem tido papel nisso por sua tradicional ligação com Havana.

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