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24/09/2000
-
09h32
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Folha de S.Paulo
Documento confidencial da Prefeitura do Rio de Janeiro revela que o município não terá dinheiro suficiente para cobrir compromissos assumidos este ano e que, por isso, deixará contas a pagar para 2001.
Com data de 9 de agosto deste ano, o ofício é assinado pela secretária municipal de Fazenda, Sol Garson. Um mês antes, em 30 de junho, o prefeito Luiz Paulo Conde (PFL), que é candidato à reeleição e está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, concedeu um abono para todo o funcionalismo público municipal. A medida beneficiou 109 mil funcionários.
Ele foi concedido no último dia permitido pela legislação eleitoral. Segundo a assessoria de Conde, o abono trouxe um impacto de R$ 32 milhões aos cofres.
No ofício obtido pela Folha, a secretária de Fazenda informa à controladora-geral do município, Elizabeth Riguete, que a prefeitura deixará "restos a pagar sem cobertura financeira" para o próximo ano.
O documento não especifica o valor, diz apenas que o montante deve ser igual ao deste ano. Procurada pela Folha, Sol afirmou que foram deixados pouco mais de R$ 300 milhões de restos a pagar de 1999 para este ano -destes, cerca de R$ 120 milhões não tinham cobertura financeira.
"Se ela diz "sem cobertura financeira", é porque não vai ter caixa para pagar dentro do exercício fiscal", explica o economista Raul Velloso, especialista em orçamento e em finanças públicas.
"No mínimo, isso mostra uma gestão financeira temerária", afirma ele.
No ofício, que tem uma página, Sol Garson diz que segue "orientação superior" para a rolagem dos restos a pagar.
Ela cita pareceres da Procuradoria Geral do município. Garson, no entanto, se recusou a comentar o caso e não quis dizer quem deu a orientação.
O documento tem como anexo o relatório de execução orçamentária da prefeitura de junho deste ano. As despesas de custeio e de investimento já comprometidas representam "75% e 87% dos valores globais das dotações referentes a cada um desses grupos de despesas", segundo o relatório.
"Como a receita deve ser no máximo igual ao total do orçamento já liberado, e dado o ritmo de execução da despesa constatado, é fundamental que se possa inscrever em restos a pagar sem cobertura financeira, em 2001, o mesmo valor inscrito na passagem de 1999 para 2000", diz o texto.
A questão sobre a legalidade da operação é polêmica. Sancionada em maio, a Lei de Responsabilidade Fiscal impôs limites, inclusive nos restos a pagar.
Por se tratar de lei nova, a prefeitura pediu pareceres à Procuradoria do município do Rio de Janeiro. Esses pareceres foram produzidos em meados de julho, embora a discussão interna do assunto tenha sido provocada em maio. Ou seja, a questão estava em discussão na prefeitura quando Conde concedeu o abono.
Além disso, os pareceres não são concludentes. O procurador-geral do município, Alexandre Nery Brandão, os aprovou com ressalvas e salientou : "Caberá ao Supremo Tribunal Federal, em última análise, dizer acerca da constitucionalidade de suas normas e, se for o caso, interpretá-las conforme a Constituição".
Mesmo considerando a possibilidade de a Justiça entender que não há ilegalidade em deixar contas para o próximo governo pagar, permanece outra questão.
"A tese do parecer pode até ser defensável, mas conceder abono quando de antemão já se sabe que haverá restos a pagar é o tipo de populismo orçamentário que a Lei de Responsabilidade Fiscal quer evitar", afirmou o advogado Luiz Roberto Barroso, professor de direito administrativo da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Confira os gráficos das pesquisas Datafolha:
São Paulo
Rio de Janeiro
Belo Horizonte
Curitiba
Porto Alegre
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São Luís
Recife
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Prefeitura de Conde, no Rio, deixará contas a pagar para 2001
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da Folha de S.Paulo
Documento confidencial da Prefeitura do Rio de Janeiro revela que o município não terá dinheiro suficiente para cobrir compromissos assumidos este ano e que, por isso, deixará contas a pagar para 2001.
Com data de 9 de agosto deste ano, o ofício é assinado pela secretária municipal de Fazenda, Sol Garson. Um mês antes, em 30 de junho, o prefeito Luiz Paulo Conde (PFL), que é candidato à reeleição e está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, concedeu um abono para todo o funcionalismo público municipal. A medida beneficiou 109 mil funcionários.
Ele foi concedido no último dia permitido pela legislação eleitoral. Segundo a assessoria de Conde, o abono trouxe um impacto de R$ 32 milhões aos cofres.
No ofício obtido pela Folha, a secretária de Fazenda informa à controladora-geral do município, Elizabeth Riguete, que a prefeitura deixará "restos a pagar sem cobertura financeira" para o próximo ano.
O documento não especifica o valor, diz apenas que o montante deve ser igual ao deste ano. Procurada pela Folha, Sol afirmou que foram deixados pouco mais de R$ 300 milhões de restos a pagar de 1999 para este ano -destes, cerca de R$ 120 milhões não tinham cobertura financeira.
"Se ela diz "sem cobertura financeira", é porque não vai ter caixa para pagar dentro do exercício fiscal", explica o economista Raul Velloso, especialista em orçamento e em finanças públicas.
"No mínimo, isso mostra uma gestão financeira temerária", afirma ele.
No ofício, que tem uma página, Sol Garson diz que segue "orientação superior" para a rolagem dos restos a pagar.
Ela cita pareceres da Procuradoria Geral do município. Garson, no entanto, se recusou a comentar o caso e não quis dizer quem deu a orientação.
O documento tem como anexo o relatório de execução orçamentária da prefeitura de junho deste ano. As despesas de custeio e de investimento já comprometidas representam "75% e 87% dos valores globais das dotações referentes a cada um desses grupos de despesas", segundo o relatório.
"Como a receita deve ser no máximo igual ao total do orçamento já liberado, e dado o ritmo de execução da despesa constatado, é fundamental que se possa inscrever em restos a pagar sem cobertura financeira, em 2001, o mesmo valor inscrito na passagem de 1999 para 2000", diz o texto.
A questão sobre a legalidade da operação é polêmica. Sancionada em maio, a Lei de Responsabilidade Fiscal impôs limites, inclusive nos restos a pagar.
Por se tratar de lei nova, a prefeitura pediu pareceres à Procuradoria do município do Rio de Janeiro. Esses pareceres foram produzidos em meados de julho, embora a discussão interna do assunto tenha sido provocada em maio. Ou seja, a questão estava em discussão na prefeitura quando Conde concedeu o abono.
Além disso, os pareceres não são concludentes. O procurador-geral do município, Alexandre Nery Brandão, os aprovou com ressalvas e salientou : "Caberá ao Supremo Tribunal Federal, em última análise, dizer acerca da constitucionalidade de suas normas e, se for o caso, interpretá-las conforme a Constituição".
Mesmo considerando a possibilidade de a Justiça entender que não há ilegalidade em deixar contas para o próximo governo pagar, permanece outra questão.
"A tese do parecer pode até ser defensável, mas conceder abono quando de antemão já se sabe que haverá restos a pagar é o tipo de populismo orçamentário que a Lei de Responsabilidade Fiscal quer evitar", afirmou o advogado Luiz Roberto Barroso, professor de direito administrativo da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Confira os gráficos das pesquisas Datafolha:
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