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28/04/2005 - 20h20

De "azarão" a emergente, Severino expõe a fragilidade política do governo

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da Folha Online

Em menos de três meses de mandato, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), protagonizou as mais recentes polêmicas envolvendo as disputas em Brasília. Sem pudores, levantou a bandeira do aumento salarial para os colegas congressistas, defendeu a contratação de parentes nos gabinetes, bateu de frente com militantes gays e com grupos pró-aborto.

Evitou entrar em colisão com o Planalto, mas exigiu um ministério para o PP. Acabou atrasando a reforma ministerial e saiu de mãos vazias nas negociações, pelo menos até o momento.

Perdeu na reivindicação de aumento para os colegas, mas não deixou de criticar a edição de medidas provisórias que tanto atrapalha os trabalhos no Congresso.

Católico praticante, o deputado considera "absurda" a união civil de pessoas do mesmo sexo, foi a público condenar o beijo gay na televisão, mas não se recusou a receber militantes homossexuais na Câmara.

Contrário ao aborto, Severino afirma que a interrupção da gravidez não deve ocorrer nem em caso de estupro ou risco de morte para a mãe, como está previsto na lei.

A mais recente polêmica envolvendo Severino ocorreu na última quarta-feira, quando o congressista apresentou proposta para reduzir os poderes do Banco Central, tirando sua responsabilidade exclusiva de decidir sobre a taxa básica de juros da economia brasileira. A proposta teve apoio do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar.

Azarão

Severino tornou-se presidente da Câmara em uma das eleições mais disputadas da Casa. Embora tenha sido candidato pela terceira vez, a vitória causou surpresa principalmente entre os partidos aliados, que acreditavam na vitória do candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).

A vitória de Severino também quebrou a tradição da Casa, que normalmente dá o cargo a deputados do partido que tem maioria.

O deputado construiu sua candidatura com a promessa de elevar salários e de melhorar as condições financeiras de atuação dos colegas deputados.

Com forte apelo no chamado baixo clero, o deputado pernambucano faz parte da mesa diretora da Câmara há oito anos --mesmo período em que tenta a presidência da Casa.

Severino ficou conhecido na Câmara por lançar sua candidatura independente em outras duas ocasiões. Apesar da candidatura, o deputado sempre acabava entrando em acordo com os demais candidatos e desistia da disputa. Pelo acordo, ele apresentava a sua desistência e, em contrapartida, recebia um outro cargo na mesa.

Dessa vez, porém, Cavalcanti preferiu pagar para ver e foi até o fim com sua candidatura.

Severino foi prefeito de João Alfredo, sua cidade natal, de 1964-1966, pela UDN (União Democrática Nacional), partido que liderou a oposição a Getúlio Vargas quando o presidente ainda era vivo --morreu em agosto de 1954.

Hoje no PP, Cavalcanti passou por diversos partidos após sua estréia pela UDN. Em 1966, entrou para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), o partido de sustentação da ditadura militar. Em 1980, foi para o PDS e, em 1987, para o PDC (Partido Democrata Cristão), onde permaneceu até 1990, quando entrou no PL (Partido Liberal).

Ficou pouco no PL, apenas até 1992, quando foi para o PPR. Em 1994, transferiu-se para o PFL e no ano seguinte, para o PPB, onde permaneceu até 2003, quando o partido mudou o nome para PP.

Denúncia

O novo presidente da Câmara foi o autor da denúncia que levou o governo militar a expulsar do país o padre italiano Vito Miracapillo, em 31 de outubro de 1980.

Cavalcanti liderou o movimento contra o religioso porque ele se recusou a celebrar uma missa comemorativa à Independência. Miracapillo alegou que o país ainda não havia efetivamente conquistado a sua independência.

Ligado à ala progressista da Igreja Católica, o padre, que vivia no Brasil desde 1975, atuava em Ribeirão (a 100 km de Recife, PE), município localizado na Zona da Mata, uma das áreas de influência do deputado, à época.

O parlamentar formalizou a denúncia ao então ministro da Justiça, Ibrahim Abi Ackel, e, pouco mais de um mês depois, no dia 15 de outubro, o presidente da República, general João Baptista Figueiredo, assinou a expulsão.

A expulsão de Miracapillo teve repercussão internacional, mas em nenhum momento o parlamentar, na época filiado ao PDS, mostrou arrependimento. Ele justificou seu ato afirmando que o padre estava desagregando os moradores de Ribeirão.
 

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