Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/06/2005 - 20h45

Cacique diz que Cassol pediu comissão sobre diamantes

Publicidade

KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus

Um dos principais líderes da terra indígena Roosevelt, cacique Nacoça Pio Cinta Larga, disse nesta segunda-feira que o governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), pediu uma comissão de 2% sobre a produção de diamantes explorados ilegalmente por índios e garimpeiros em troca de benefícios como estradas, escolas, postos de saúde e até da legalização da atividade do garimpo dentro da reserva.

Pio, como é mais conhecido dentro da reserva Roosevelt (que fica em Espigão d'Oeste, a 534 km de Porto Velho), afirmou que Cassol participou de uma reunião com líderes indígenas no escritório da representação do governo no município de Rolim de Moura (220 km de Espigão), no início de 2003.

"Nós pedimos para ele ajudar a legalizar o garimpo. Ele disse que ia colocar escola, arrumar a estrada, mas ele falou assim: 'Vamos colocar dez pares de máquinas [retroescavadeiras] lá'", afirmou Pio Cinta-Larga, por telefone, de Cacoal (a 150 km da reserva).

O segundo encontro com o governador, segundo Pio Cinta-Larga, aconteceu em junho ou julho do mesmo ano, na aldeia Tenente Marques, já na terra indígena Roosevelt.

"Ele dizia que queria ajudar. Nós pedimos coisas simples: escolas, estradas, saúde... O interesse [dele Cassol] era outro, ele queria colocar empresas grandes [dentro do garimpo], queria 2% dos diamantes", afirmou.

Pio disse que, nas conversas com Cassol, o interesse dos índios era buscar apoio para legalizar os garimpos. "Queríamos que ele nos levasse a Brasília para a gente conversar com o Congresso."

O cacique afirmou que as lideranças não aceitaram as propostas de Cassol. "Não aceitamos as máquinas. Ele sabia que o índio não era treinado para trabalhar no garimpo, não entendíamos isso. Dependíamos de máquinas e do pessoal [não-índio]. O governador sabia das nossas riquezas e dizia que, se trabalhássemos com a firma [dele], ganharíamos US$ 1 bilhão. E eu nem sei o que é isso [dólares]. Só o branco sabe", afirmou Pio.

O cacique disse que à época dos encontros com o governador Ivo Cassol os garimpos dentro da reserva estavam parados, já que, em janeiro de 2003, a Polícia Federal e a Funai (Fundação Nacional do Índio) haviam retirado 5.000 garimpeiros da área. Em agosto do mesmo ano, os cintas-largas retomaram, por conta própria, a atividade do garimpo. Em 7 de abril do ano passado, 29 garimpeiros foram mortos em massacre comandado pelos índios.

Atualmente, cem pessoas, entre índios e não-índios, estão garimpando ilegalmente dentro da reserva, segundo a Polícia Federal.

Em novembro, último, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) instaurou investigação para apurar o suposto envolvimento do governador Ivo Cassol na extração ilegal de diamantes dentro da reserva Roosevelt.

Duas suspeitas recaíram contra ele: o depoimento do doleiro Marcos Glikas, preso em março do ano passado em Porto Velho (RO), que afirmou que agia com o consentimento de Cassol; e o depoimento de comerciante de pedras preciosas José Roberto Gonsalez, que, detido pela Funai na reserva em setembro de 2003, se identificou como funcionário da empresa estadual CMR (Companhia de Mineração de Rondônia).

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Ivo Cassol
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página