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26/09/2000
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03h45
CELSO BEJARANO JR., da Agência Folha, em Aquidauana
A comemoração dos 500 anos do Brasil motivou um ""boom" de candidaturas de índios no Mato Grosso do Sul. São pelo menos 50 concorrentes, recorde na história do Estado. Na disputa municipal de 1996, eram 30 os postulantes sul-matogrossenses, num universo de 80 candidatos pelo Brasil.
O espectro político das candidaturas varia do PMDB ao PT. O mote recorrente de todos os candidatos é o episódio em que a polícia baiana entrou em choque com índios que tentavam protestar em 22 de abril. "Chega de ver o índio sofrer, até o presidente do país manda bater na gente, queremos direitos iguais", disse o terena Mairson Francisco, 36.
Ele é petista desde 1987 e disputa a vaga de vereador no município de Aquidauana, a 150 km de Campo Grande. A cidade tem 13 vereadores, 2 dos quais terenas.
Na quinta-feira passada, Mairson arrancava aplausos de um grupo de cem índios que assistia a um comício promovido na aldeia Limão Verde, a 25 km do centro de Aquidauana. Os discursos dos índios são bem semelhantes aos dos demais candidatos: eles também prometem melhorias para a comunidade e demonstram conhecimento dos trâmites legislativos -no bom e no mau sentido.
"É preciso suar a camisa para aprovar um projeto. Primeiro temos de convencer os outros vereadores, depois o prefeito da cidade. Às vezes um prefeito até paga para os vereadores aprovarem projetos de interesse próprio, mas isso não vou fazer nunca", disse Mairson, que é pai de três filhos e recebe de um a dois salários mínimos trabalhando na lavoura.
O também terena Alceri Marques, 25, é professor do ensino fundamental e tem propostas parecidas com a de Mairson.
Só na região de Aquidauana e Miranda (que ficam no Pantanal), 13 índios disputam as eleições. São 5.000 os eleitores indígenas. Estima-se que, para vencer por um partido grande, cada índio precisa de pelo menos 500 votos.
"Antes, o político branco entrava na aldeia, fazia churrasco e pronto, arrancava nossos votos", disse Marques, que recebe um salário mínimo para sustentar mulher e quatro filhos. Um vereador local recebe em média R$ 2.000 mensais. Os dois índios que já são vereadores em Aquidauana disputam a reeleição. Edmilson Aurélio Marcos, disputa pelo PSDB e Enedino da Silva, pelo PPS.
Marcos é o candidato mais rico entre os índios. Aos 47 anos, aposentado pela Caixa Econômica, ele tem dois carros e três cabos eleitorais. Ele, que trocou recentemente o PMDB pelo PSDB, se elegeu em 96 com 534 votos -metade dos quais de eleitores não-índios, por suas contas.
O índio repete um fenômeno de algumas capitais: se recusou aparecer em uma fotografia ao lado de uma quadro com a foto de Fernando Henrique Cardoso, seu correligionário, que mantém na parede de seu gabinete. Só que ele é sincero: "Ele (FHC) não está bem com a minha comunidade, fica chato, posso perder voto".
Mato Grosso do Sul possui a segunda maior comunidade indígena do país, com 60 mil índios em 58 aldeias. Segundo a Funai, cerca de 20 mil estão aptos a votar -o comparecimento é facultativo.
Os 50 concorrentes disputam as eleições em 22 dos 77 municípios do Estado. Das seis etnias reconhecidas, apenas uma não disputa o pleito. São os ofayés-xavantes, comunidade formada por apenas 19 índios. Disputam as eleições os índios guaranis, caiovás, guatós, terenas e kadiwéus.
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MS bate recorde de índios candidatos
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A comemoração dos 500 anos do Brasil motivou um ""boom" de candidaturas de índios no Mato Grosso do Sul. São pelo menos 50 concorrentes, recorde na história do Estado. Na disputa municipal de 1996, eram 30 os postulantes sul-matogrossenses, num universo de 80 candidatos pelo Brasil.
O espectro político das candidaturas varia do PMDB ao PT. O mote recorrente de todos os candidatos é o episódio em que a polícia baiana entrou em choque com índios que tentavam protestar em 22 de abril. "Chega de ver o índio sofrer, até o presidente do país manda bater na gente, queremos direitos iguais", disse o terena Mairson Francisco, 36.
Ele é petista desde 1987 e disputa a vaga de vereador no município de Aquidauana, a 150 km de Campo Grande. A cidade tem 13 vereadores, 2 dos quais terenas.
Na quinta-feira passada, Mairson arrancava aplausos de um grupo de cem índios que assistia a um comício promovido na aldeia Limão Verde, a 25 km do centro de Aquidauana. Os discursos dos índios são bem semelhantes aos dos demais candidatos: eles também prometem melhorias para a comunidade e demonstram conhecimento dos trâmites legislativos -no bom e no mau sentido.
"É preciso suar a camisa para aprovar um projeto. Primeiro temos de convencer os outros vereadores, depois o prefeito da cidade. Às vezes um prefeito até paga para os vereadores aprovarem projetos de interesse próprio, mas isso não vou fazer nunca", disse Mairson, que é pai de três filhos e recebe de um a dois salários mínimos trabalhando na lavoura.
O também terena Alceri Marques, 25, é professor do ensino fundamental e tem propostas parecidas com a de Mairson.
Só na região de Aquidauana e Miranda (que ficam no Pantanal), 13 índios disputam as eleições. São 5.000 os eleitores indígenas. Estima-se que, para vencer por um partido grande, cada índio precisa de pelo menos 500 votos.
"Antes, o político branco entrava na aldeia, fazia churrasco e pronto, arrancava nossos votos", disse Marques, que recebe um salário mínimo para sustentar mulher e quatro filhos. Um vereador local recebe em média R$ 2.000 mensais. Os dois índios que já são vereadores em Aquidauana disputam a reeleição. Edmilson Aurélio Marcos, disputa pelo PSDB e Enedino da Silva, pelo PPS.
Marcos é o candidato mais rico entre os índios. Aos 47 anos, aposentado pela Caixa Econômica, ele tem dois carros e três cabos eleitorais. Ele, que trocou recentemente o PMDB pelo PSDB, se elegeu em 96 com 534 votos -metade dos quais de eleitores não-índios, por suas contas.
O índio repete um fenômeno de algumas capitais: se recusou aparecer em uma fotografia ao lado de uma quadro com a foto de Fernando Henrique Cardoso, seu correligionário, que mantém na parede de seu gabinete. Só que ele é sincero: "Ele (FHC) não está bem com a minha comunidade, fica chato, posso perder voto".
Mato Grosso do Sul possui a segunda maior comunidade indígena do país, com 60 mil índios em 58 aldeias. Segundo a Funai, cerca de 20 mil estão aptos a votar -o comparecimento é facultativo.
Os 50 concorrentes disputam as eleições em 22 dos 77 municípios do Estado. Das seis etnias reconhecidas, apenas uma não disputa o pleito. São os ofayés-xavantes, comunidade formada por apenas 19 índios. Disputam as eleições os índios guaranis, caiovás, guatós, terenas e kadiwéus.
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