28/06/2005 - 20h25

Conselho de Ética vira palco de disputa entre governo e oposição

ROSE ANE SILVEIRA
da Folha Online, em Brasília

O depoimento de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária da SMPB Comunicação, ao Conselho de Ética da Câmara evidenciou nesta terça-feira a disputa política que se instalou no Casa. De um lado, governistas tentando desacreditar as testemunhas. Do outro, a oposição tentando validar os depoimentos.

"Os trabalhos do Conselho estão virando uma disputa política. Os governistas tentam desqualificar todas as testemunhas, não somente a senhora Fernanda Somaggio. A oposição não tenta validar, mas sim evitar a desqualificação. Não é um depoimento que vai definir os trabalhos do Conselho, mas temos que evitar a disputa política", avaliou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Sergio Lima / FI

A ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio

Em seu depoimento, a ex-secretária desmentiu algumas declarações dadas anteriormente. Para a oposição, isto foi resultado da pressão dos governistas que tentam desacreditar a testemunha. Segundo a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), as declarações contraditórias são fruto da falta de credibilidade da testemunha. Fernanda Karina foi, por nove meses, secretária do suposto operador do esquema do "mensalão", o publicitário Marcos Valério de Souza.

"O que desqualificou o depoimento dela foi ela afirmar que dizia a verdade. A cada momento ela entrou em diversas contradições. Estamos pressionando mesmo. Este é um Conselho de Ética. Buscamos a verdade sobre a quebra de decoro parlamentar ou não por parte do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele caiu em contradição várias vezes em seu depoimento. Falta credibilidade a ele e precisamos ver se também falta às suas testemunhas", afirmou Guadagnin.

E foi justamente o questionamento de Gudagnim que levou Fernanda Karina Somaggio perto das lágrimas durante as mais de cinco horas de seu depoimento. Apesar de cair em contradição, a ex-secretária se manteve firme na maior parte do depoimento. Mesmo nervosa ela tentou responder a todas as perguntas que lhe foram feitas, mesmo as que foram várias vezes repetidas.

Munida do processo que corre na Justiça contra Fernanda Karina por suposta prática de extorsão, a deputada petista quis saber porque o publicitário Marcos Valério processou a ex-secretária. A deputada também questionou os motivos de Somaggio para procurar a imprensa.

Guadagnin ainda mostrou um e-mail enviado pela ex-secretária para a revista "Isto é Dinheiro", se oferecendo para denunciar o esquema do mensalão.

Movimentações financeiras

Em uma fala repleta de negativas, a ex-secretária não soube informar detalhes das movimentações financeiras da empresa onde trabalhou de abril de 2003 a janeiro de 2004.

Os parlamentares procuraram saber de que forma a ex-secretária baseou suas denúncias de supostas negociatas e contratos ilícitos da agência de publicidade onde trabalhou com estatais. A ex-secretária indicou que somente ouviu de terceiros várias das informações que citou em suas entrevistas à imprensa, como as quantias de dinheiro que teriam sido transportadas na agência.

Na primeira parte de seu testemunho, ela chegou a desmentir uma informação de que tinha conhecimento efetivo de quais empresas forneceram recursos para agência e que ela teria visto em "malas de dinheiro". Karina Somaggio negou saber a origem do dinheiro. Ela, no entanto, fez questão de ressaltar que tudo o que denunciou em suas entrevistas à imprensa está sendo comprovado pelas investigações.

A ex-secretária disse que seu ex-patrão conversava "freqüentemente" com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral do PT, Silvio Pereira. Somaggio também incluiu o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, na rede de conversações de Marcos Valério.

Mais envolvidos

Ela também afirmou que os funcionários das empresas de Marcos Valério também teriam testemunhado o transporte de dinheiro. Essas supostas "malas de dinheiro" foram mencionadas pela ex-secretária em suas entrevistas anteriores.

A ex-secretária também reafirmou que seu ex-patrão conversava com muitos parlamentares, entre eles deputados federais. Mais uma vez pressionada por Guadagnin, Fernanda Karina Somaggio acabou confirmando que o publicitário Marcos Valério também manteve encontros com integrantes do PSDB, como o governador de Minas Gerais, Aécio Neves e o ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, Pimenta da Veiga.

As tentativas de Guadagnin de incluir integrantes do PSDB no rol de conhecimentos de Marcos Valério gerou protestos por parte do líder do partido. O governador mineiro foi acionado e por meio da liderança tucana afirmou que manteve apenas um encontro com Marcos Valério, encontro público para tratar de questões do Estado e que esta informação foi divulgada para a imprensa.

Especial

Leia a cobertura completa sobre o caso da mesada no Congresso