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02/03/2010 - 10h54

Câmara do DF oficializa renúncia de deputado da meia

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MÁRCIO FALCÃO
da Folha Online, em Brasília

A renúncia do deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido), flagrado colocando dinheiro de suposta propina nas meias, foi oficializada nesta terça-feira pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. A carta entregue por Prudente na sexta-feira foi lida em plenário.

O deputado foi o primeiro a renunciar ao mandato por causa das denúncias de que estaria envolvido no esquema de arrecadação e pagamento de propina que atinge o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido).

Com a decisão, ele evita a cassação e a perda dos direitos políticos. Ao todo, oito distritais e dois suplentes são acusados de participação no esquema de corrupção.

A Comissão de Ética da Câmara abriu processo por quebra de decoro parlamentar contra Prudente, Junior Brunelli (PSC) e Eudires Brito (PMDB), que aparecem em vídeos gravados por Durval Barbosa, delator do esquema, recebendo suposta propina.

A expectativa é que Brunelli renuncie ainda hoje para evitar a cassação. O suplente Raad Massouh (DEM) assume a vaga de Prudente.

Despedida

Na carta de renúncia ao mandato de deputado distrital, Prudente afirma que é vítima de um modelo político "no qual prevalece a hipocrisia" diante da prática comum de caixa dois entre os políticos.

Flagrado colocando dinheiro nas meias e orando em agradecimento a suposta propina, ele diz que os vídeos são "maldosos, visam confundir o telespectador, gerar comoção, indignação e liquidar meu mandato, minha honra e meu futuro político".

No texto, o então deputado ainda faz referência ao escândalo do mensalão petista em 2005, citando uma entrevista do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil).

Outros cinco deputados distritais também são suspeitos de participação no esquema de propina, mas os processos deles estão suspensos na Comissão de Ética.

Confira a íntegra da carta de renúncia de Prudente:

"Prezados senhores,

Nas duas últimas legislaturas da Câmara Legislativa do Distrito Federal, fui eleito ao cargo de deputado distrital, onde exerci as importantes funções de presidente de comissões, líder do governo e presidente da Casa.

Como presidente da Comissão de Orçamento defendi a redução da carga tributária, a limitação do reajuste de impostos aos índices de inflação e o reforço orçamentário para as áreas de Saúde, Educação e Segurança.

Como líder do governo, os diálogos com os parlamentares, e em especial com a oposição, foram a minha tônica, o que nos levou a fazer mudanças e aprimorar quase todos os projetos enviados pelo Poder Executivo.

Como presidente, pautei minha gestão de forma compartilhada com os demais membros da mesa. Trabalhei com austeridade e transparência. Obtivemos uma economia significativa que nos possibilitou dar reajuste a todos os servidores, implantar o plano de carreira e manter a execução financeira de 2009 menor que no ano anterior. Foi criado o programa 'A Câmara mais Perto de Você' que aproxima o Poder Legislativo do cidadão.

Sou autor de leis que beneficiam toda a população: a lei da Nota Legal, a que institui Educação Financeira nas escolas, a que cria o programa de Engenharia e Arquitetura Pública e muitas outras.

A divulgação dos vídeos envolvendo vários integrantes do Poder Executivo e do Legislativo, inclusive a minha pessoa, levou a uma crise política e tem deixado perplexa a população.

A repetição da imagem onde apareço recebendo doação de campanha não contabilizada em setembro de 2006, como se fossem atuais, reconheço, são muito fortes, assim como é avassaladora a versão para a minha presença no vídeo da oração feita em setembro de 2009, pelo deputado Brunelli. As cenas são mostradas como se fora fato imediatamente posterior aquele mostrado nas imagens de setembro de 2006, mas aconteceram três anos depois, em contexto totalmente diverso.

Os vídeos repetidamente apresentados são maldosos, visam confundir o telespectador, gerar comoção, indignação e liquidar meu mandato, minha honra e meu futuro político.

Não menosprezo os fatos, tampouco desqualifico as imagens, apenas coloco as coisas no seu devido tempo e lugar.

Já admiti publicamente e reafirmo que errei ao receber doação para campanha e não contabilizar, em setembro de 2006. Estou pagando um preço alto. Tenho certeza que as investigações irão revelar a verdade dos fatos. O processo legal e a justiça serão restabelecidos.

Fui vítima de um modelo autofágico do sistema eleitoral brasileiro no qual prevalece a hipocrisia. Os candidatos muitas vezes deixam de declarar o recebimento de recursos financeiros, para a campanha a pedido do próprio doador, que não deseja ver seu CPF ou CNPJ divulgados na internet e vinculados a um candidato ou partido.

Embora o ex-ministro José Dirceu tenha afirmado em recente entrevista: 'Mensalão não é corrupção e sim financiamento de campanha com caixa 2', discordo. Mensalão, atividade da qual nunca tomei parte, é corrupção, sim, e financiar campanha com caixa 2 é ilegal.

Desejo que a crise política no DF mobiliza o Congresso Nacional para a urgência da reforma polícia, com a implementação do financiamento público de campanha e fiscalização mais rigorosa que coíba o abuso de poder econômico nas campanhas eleitorais.

Quero também que a situação de hoje seja um exemplo aos candidatos que irão concorrer às próximas eleições.

Não desejo a ninguém que experimente a dor e o sofrimento que minha família e eu estamos vivendo.

Agradeço a Deus pela dádiva da vida, e à minha família, em especial minha esposa e meus filhos pela tolerância e compreensão.

Agradeço aos meus eleitores, aos funcionários do gabinete, e todos os servidores da Câmara pelo apoio recebido quando do exercício da presidência da Casa; às lideranças comunitárias; aos conselhos de pastores; aos sindicatos, federações, prefeituras e associações, e à população em geral.

Para que as prerrogativas do cargo não interfiram nas investigações e as apurações sejam feitas com isenção, renuncio ao mandato de deputado distrital.

Leonardo Prudente"

 

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