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03/07/2005 - 09h32

Oposição se mexe para tentar cassar Dirceu

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JOSIAS DE SOUZA
Colunista da Folha

É cada vez mais precária a situação política do ex-ministro José Dirceu. Devolvido ao Congresso em meio à crise do "mensalão", ele vê formar-se à sua volta um movimento que pode levar à formalização de um processo de cassação do seu mandato de deputado federal. A hipótese, há bem pouco impensável, já é admitida com naturalidade nos diálogos privados de algumas das principais lideranças parlamentares.

Até mesmo dois integrantes da cúpula do consórcio que dá suporte ao governo Lula no Congresso reconheceram à Folha, na sexta-feira passada, que são reais as chances de Dirceu vir a enfrentar um pedido de cassação. Por ora, fracassaram todas as tentativas de conter as iniciativas anti-Dirceu.

Instalou-se na semana passada uma CPI cujo objetivo principal é alvejar o ex-ministro. No papel, chama-se CPI dos Bingos. Na prática, é a comissão do Waldomiro Diniz, ex-assessor de Dirceu, desalojado da equipe do Palácio do Planalto depois da divulgação de uma fita de vídeo em que pede propina ao empresário Carlinhos Cachoeira em 2002.

Se depender da oposição, a CPI do Waldomiro logo se converterá em CPI do Dirceu. Insuflada pelo PFL de Antônio Carlos Magalhães, a comissão já requisitou à Polícia Federal cópia integral do inquérito aberto depois da explosão do escândalo, no ano passado. Deseja-se saber por que as investigações ainda não tiveram um desfecho.

Acareação

Na quinta-feira, em mais um depoimento no Congresso, desta vez à CPI dos Correios, o ex-aliado Roberto Jefferson (presidente licenciado do PTB) fez novas acusações contra Dirceu.

Disse, por exemplo, que o ex-ministro tinha pleno conhecimento de suposto desvio mensal de R$ 3 milhões da estatal Furnas para o caixa do PT e para o bolso de políticos governistas.

Ao inquirir o seu xará, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) perguntou-lhe se toparia submeter-se a uma acareação com Dirceu. E Roberto Jefferson: "Na hora que os senhores marcarem". Peres informou ao presidente da CPI, o petista Delcídio Amaral, que vai requerer por escrito o confronto direto entre acusador e acusado.

"Se o PT e a maioria governista criarem obstáculos, será um vexame", diz Peres. "Se, por outro lado, a acareação for feita e o Roberto Jefferson for convincente, a situação tampouco ficará melhor".

Os governistas da CPI já colecionam argumentos para se contrapor ao requerimento de Peres. Argumentam, por exemplo, que a acareação escaparia aos objetivos da comissão, criada para investigar malfeitorias praticadas na ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos).

Se conseguir prevalecer na CPI dos Correios, os governistas dificilmente livrarão Dirceu de um confronto com Jefferson em outra comissão de inquérito: a do "mensalão". Há duas por instalar, uma mista, reunindo senadores e deputados, e outra só da Câmara.

Em encontro informal realizado na última quarta-feira, três líderes partidários concluíram que o "resgate" da imagem do Congresso depende da cassação de pelo menos sete mandatos.

Encabeçada por José Dirceu e Roberto Jefferson, a lista de potenciais cassados inclui ainda os seguintes deputados: Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), Pedro Henry (PP-MT), Pedro Corrêa (PP-PE) e Sandro Mabel (PL-GO). São, nas palavras de Roberto Jefferson, "operadores do mensalão".

Ressentimento

As articulações que põem em risco o mandato de Dirceu são tonificadas pelo ressentimento. Em sua passagem pela Casa Civil da Presidência, o ex-ministro colecionou uma legião de desafetos no Congresso.

Tem inimigos em todas as legendas. Abraçado e cumprimentado pelos colegas nos corredores da Câmara, o ex-ministro é tachado de "prepotente" e "arrogante" pelas costas.

Todos os interesses contrariados pelo ex-ministro --de um telefonemas não atendidos a cargos negados-- se juntaram na perspectiva de vingança. Em processos de cassação de mandato, o voto é secreto. Ou seja: confirmando-se o infortúnio de Dirceu, poderiam golpeá-lo sem mostrar o rosto.

Outro ingrediente que adensa o caldo em que a oposição tenta derreter o mandato de Dirceu é o silêncio do ex-ministro. Chamado por Jefferson de "chefe de quadrilha", apontado como acobertador de atos de corrupção, acusado de travar no Palácio do Planalto diálogos "não-republicanos", Dirceu se limita a repetir: "Vou dar as explicações na hora certa e no foro adequado". Para o ex-ministro, o silêncio é estratégico. Para os opositores e até alguns aliados, é sinal de tibieza.

Por ora, Dirceu explicou-se apenas à Corregedoria da Câmara, a portas fechadas. Negou tudo o que Jefferson dissera. Tenta empurrar para depois do recesso parlamentar, em agosto, o depoimento na Comissão de Ética, diante das câmeras.

As mesmas câmeras de que se valeu Jefferson para pronunciar o seu alerta a Dirceu: "Zé, sai daí, rápido". Foi atendido dois dias depois.

No início da crise, quando o escândalo ainda se restringia aos Correios, Roberto Jefferson alardeou que, abandonado, não cairia sozinho. Arrastaria consigo a cúpula do PT, estrelada por José Dirceu. A julgar pelo sentimento que se dissemina pelo Congresso, ele pode atingir o seu objetivo.

Especial
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