Publicidade
Publicidade
06/07/2005
-
09h44
LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo
Uma fita gravada a que a reportagem da Folha teve acesso reproduz diálogo telefônico entre o deputado estadual Romeu Tuma Jr. (PMDB-SP) e o também deputado Paschoal Thomeu (PTB-SP). Na conversa, ocorrida às vésperas da eleição do novo presidente da Assembléia Legislativa paulista, em 15 de março deste ano, Tuma Jr. tenta conquistar o voto de Thomeu para o candidato Rodrigo Garcia, do PFL, que disputava o posto com o deputado Edson Aparecido, do PSDB e preferido do governador Geraldo Alckmin.
Thomeu, gravado, descarta o voto em Garcia e afirma que votará em Edson Aparecido. Alega que o governador Geraldo Alckmin prometeu-lhe ajuda:
Thomeu diz que suas "seis firmas" estão "em situação muito difícil";
Que está vendendo "umas terras pra CDHU", a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, empresa do governo estadual, vinculada à Secretaria da Habitação;
Que não pode "cuspir no prato" em que come;
Que o governador em pessoa, e não um intermediário, prometeu-lhe ajuda.
Questionado ontem sobre a conversa, Thomeu confirmou-a e lembrou-se de frases inteiras. Disse, contudo, que estava apenas tentando se livrar do assédio dos aliados de Rodrigo Garcia, como o deputado Romeu Tuma Jr.
O deputado Romeu Tuma Jr. recusou-se a comentar o conteúdo da gravação. Eleito em maio corregedor parlamentar na Assembléia, Tuma Jr. disse que só falará sobre o assunto depois da publicação da reportagem. E encerrou a conversa: "Não esqueça de dizer que nessa história toda eu fui vítima. Eu fui o grampeado."
CPIs na gaveta
No dia 15 de março, como antecipava a conversa entre os dois deputados, Thomeu votou em Edson Aparecido. Tuma Jr. cravou Rodrigo Garcia. No placar geral, o dissidente Garcia foi eleito presidente por 48 votos a 46, ou 50% mais um dos votos da casa.
A disputa pela presidência da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo foi renhida. O PSDB presidia o Legislativo paulista desde 1995, quando Mario Covas (1930-2001) foi eleito governador pela primeira vez.
Na conversa gravada, Tuma Jr. tentou convencer Paschoal Thomeu a votar em Rodrigo Garcia, alegando: "A gente vai criar uma independência."
O mote da "independência" explica-se. Até o dia da eleição do presidente da Assembléia, havia 48 pedidos de constituição de comissões parlamentares de inquérito parados na Assembléia.
Hoje, já são 57 os pedidos de CPIs. A metade delas destina-se a apurar ações do Executivo. Mas as investigações não prosperam. A última CPI instalou-se na casa em junho de 2001.
Com a eleição de Garcia, partidos como PT, PMDB, PC do B, que se opõem a Alckmin, esperavam contar com uma ajuda extra para levar adiante essas CPIs.
O entusiasmo petista com a derrota de Edson Aparecido ficou claro pelas reações que se seguiram. Logo depois da votação, os deputados petistas fizeram uma confraternização para celebrar a derrota do governador, e o presidente nacional do PT, José Genoino, chegou a telefonar para o líder de seu partido na Assembléia Legislativa, Cândido Vaccarezza, cumprimentando-o pela derrota tucana.
"Situação difícil"
A "situação difícil" mencionada pelo deputado Paschoal Thomeu na conversa gravada é de conhecimento geral na Assembléia. Roseli Thomeu, filha do deputado, não faz segredo da situação financeira da família: "Nossas empresas estão deficitárias. Já foram 30 empresas, com 3.400 funcionários. Hoje, são só três empresas e uma marca, e 180 funcionários. Meu pai mora em um apartamento alugado, por causa das dívidas com bancos."
Roseli Thomeu disse que a família tem seis grandes áreas na região de Guarulhos, "e as seis estão à venda". Também confirma que a área de 753.580 metros quadrados que constitui o "Sítio do Vovô", de posse da família Thomeu há 40 anos, está sendo negociada. A propriedade é avaliada em R$ 30 milhões e fica no bairro de Bonsucesso, na periferia de Guarulhos.
Roseli, entretanto, afirma que o "Sítio do Vovô" deve ser vendido para um grupo particular, que pretende loteá-lo. Diz já ter formalizada a oferta, e que a opção para negociação assinada entre a família Thomeu e o grupo está em vigor, tendo vencido em 29 de junho, com prorrogação por mais 30 dias. Não há garantia da consumação da venda.
Outro lado
O deputado Paschoal Thomeu, que aparece na gravação, diz ter "inventado uma desculpa" para seu "amigo do peito" Romeu Tuma Júnior. "Sabe quando você não quer magoar um amigo e inventa uma história?" Segundo Thomeu, os dias que antecederam a eleição do novo presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo foram marcados pelo assédio dos cabos eleitorais de ambos os lados. "Mas eu voto com o governador sempre, não seria agora que mudaria."
Na gravação, Thomeu diz que o Alckmin prometeu-lhe ajuda para vender terras para a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano e que não poderia cuspir no prato em que come.
Thomeu prossegue: "A única forma de me livrar dos defensores da candidatura [do dissidente Rodrigo Garcia] foi dizendo isso, que eu não podia faltar ao governador que tanto estava me ajudando".
Especial
Leia o que foi publicado sobre Romeu Tuma Jr.
Deputado diz que trocou voto por "ajuda"
Publicidade
da Folha de S.Paulo
Uma fita gravada a que a reportagem da Folha teve acesso reproduz diálogo telefônico entre o deputado estadual Romeu Tuma Jr. (PMDB-SP) e o também deputado Paschoal Thomeu (PTB-SP). Na conversa, ocorrida às vésperas da eleição do novo presidente da Assembléia Legislativa paulista, em 15 de março deste ano, Tuma Jr. tenta conquistar o voto de Thomeu para o candidato Rodrigo Garcia, do PFL, que disputava o posto com o deputado Edson Aparecido, do PSDB e preferido do governador Geraldo Alckmin.
Thomeu, gravado, descarta o voto em Garcia e afirma que votará em Edson Aparecido. Alega que o governador Geraldo Alckmin prometeu-lhe ajuda:
Thomeu diz que suas "seis firmas" estão "em situação muito difícil";
Que está vendendo "umas terras pra CDHU", a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, empresa do governo estadual, vinculada à Secretaria da Habitação;
Que não pode "cuspir no prato" em que come;
Que o governador em pessoa, e não um intermediário, prometeu-lhe ajuda.
Questionado ontem sobre a conversa, Thomeu confirmou-a e lembrou-se de frases inteiras. Disse, contudo, que estava apenas tentando se livrar do assédio dos aliados de Rodrigo Garcia, como o deputado Romeu Tuma Jr.
O deputado Romeu Tuma Jr. recusou-se a comentar o conteúdo da gravação. Eleito em maio corregedor parlamentar na Assembléia, Tuma Jr. disse que só falará sobre o assunto depois da publicação da reportagem. E encerrou a conversa: "Não esqueça de dizer que nessa história toda eu fui vítima. Eu fui o grampeado."
CPIs na gaveta
No dia 15 de março, como antecipava a conversa entre os dois deputados, Thomeu votou em Edson Aparecido. Tuma Jr. cravou Rodrigo Garcia. No placar geral, o dissidente Garcia foi eleito presidente por 48 votos a 46, ou 50% mais um dos votos da casa.
A disputa pela presidência da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo foi renhida. O PSDB presidia o Legislativo paulista desde 1995, quando Mario Covas (1930-2001) foi eleito governador pela primeira vez.
Na conversa gravada, Tuma Jr. tentou convencer Paschoal Thomeu a votar em Rodrigo Garcia, alegando: "A gente vai criar uma independência."
O mote da "independência" explica-se. Até o dia da eleição do presidente da Assembléia, havia 48 pedidos de constituição de comissões parlamentares de inquérito parados na Assembléia.
Hoje, já são 57 os pedidos de CPIs. A metade delas destina-se a apurar ações do Executivo. Mas as investigações não prosperam. A última CPI instalou-se na casa em junho de 2001.
Com a eleição de Garcia, partidos como PT, PMDB, PC do B, que se opõem a Alckmin, esperavam contar com uma ajuda extra para levar adiante essas CPIs.
O entusiasmo petista com a derrota de Edson Aparecido ficou claro pelas reações que se seguiram. Logo depois da votação, os deputados petistas fizeram uma confraternização para celebrar a derrota do governador, e o presidente nacional do PT, José Genoino, chegou a telefonar para o líder de seu partido na Assembléia Legislativa, Cândido Vaccarezza, cumprimentando-o pela derrota tucana.
"Situação difícil"
A "situação difícil" mencionada pelo deputado Paschoal Thomeu na conversa gravada é de conhecimento geral na Assembléia. Roseli Thomeu, filha do deputado, não faz segredo da situação financeira da família: "Nossas empresas estão deficitárias. Já foram 30 empresas, com 3.400 funcionários. Hoje, são só três empresas e uma marca, e 180 funcionários. Meu pai mora em um apartamento alugado, por causa das dívidas com bancos."
Roseli Thomeu disse que a família tem seis grandes áreas na região de Guarulhos, "e as seis estão à venda". Também confirma que a área de 753.580 metros quadrados que constitui o "Sítio do Vovô", de posse da família Thomeu há 40 anos, está sendo negociada. A propriedade é avaliada em R$ 30 milhões e fica no bairro de Bonsucesso, na periferia de Guarulhos.
Roseli, entretanto, afirma que o "Sítio do Vovô" deve ser vendido para um grupo particular, que pretende loteá-lo. Diz já ter formalizada a oferta, e que a opção para negociação assinada entre a família Thomeu e o grupo está em vigor, tendo vencido em 29 de junho, com prorrogação por mais 30 dias. Não há garantia da consumação da venda.
Outro lado
O deputado Paschoal Thomeu, que aparece na gravação, diz ter "inventado uma desculpa" para seu "amigo do peito" Romeu Tuma Júnior. "Sabe quando você não quer magoar um amigo e inventa uma história?" Segundo Thomeu, os dias que antecederam a eleição do novo presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo foram marcados pelo assédio dos cabos eleitorais de ambos os lados. "Mas eu voto com o governador sempre, não seria agora que mudaria."
Na gravação, Thomeu diz que o Alckmin prometeu-lhe ajuda para vender terras para a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano e que não poderia cuspir no prato em que come.
Thomeu prossegue: "A única forma de me livrar dos defensores da candidatura [do dissidente Rodrigo Garcia] foi dizendo isso, que eu não podia faltar ao governador que tanto estava me ajudando".
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice