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17/07/2005 - 09h30

Sindicalista acusa Sereno de manipular fundo de pensão

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ELVIRA LOBATO
LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo, no Rio

O ex-secretário de Comunicação do PT e ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, Marcelo Sereno, é acusado de manipular o fundo de pensão Nucleos --dos empregados das estatais de energia nuclear-- e de usar a entidade para carrear dinheiro para campanhas eleitorais. A acusação é feita pelo petista Neildo de Souza Jorge, um dos três representantes dos empregados no Conselho Deliberativo do Nucleos.

Segundo o conselheiro, o esquema teria sido montado com a escolha de investimentos de alto risco e com a venda com deságio de títulos de renda fixa.

"A grande mutreta é que eles compravam títulos públicos e depois vendiam com deságio para corretoras. Estas faturavam a corretagem e parte desse dinheiro, pelo que sabemos agora, iria para 'mensalões', caixas de campanha. A maior rombeira era isso", declarou Neildo de Souza Jorge.

A influência de Sereno sobre o fundo de pensão é reafirmada, embora com menos ênfase, pelo conselheiro deliberativo André Luiz Fernandes de Almeida, também eleito pelos trabalhadores. ''É algo que se ouve falar, mas não tenho provas'', declarou.

Os dois atribuem a Sereno e aos executivos supostamente indicados por ele o fraco desempenho financeiro da entidade no ano passado, quando a taxa de rentabilidade ficou em 5,98% (abaixo da caderneta de poupança), não atingindo sequer metade da meta atuarial, de 12,51%.

Para Neildo Jorge, o pífio desempenho do fundo em 2004 seria conseqüência de uma ação planejada de Sereno, junto com o ex-presidente do Nucleos e atual presidente da estatal Eletronuclear, Paulo Figueiredo, e com o presidente da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Luiz Carlos dos Santos Vieira --que indicou o diretor financeiro do fundo de pensão, Gildásio Amado Filho.

A estratégia, de acordo com o relato de Neildo, teria consistido na opção por investimentos de alto risco, em parceria com bancos de pouca tradição.

Dono de um patrimônio de R$ 461,4 milhões (em valores de dezembro do ano passado), o Nucleos tinha R$ 97,48 milhões investidos no fundo exclusivo Zircônio, administrado pelo Banco Industrial, em dezembro de 2004. Esse fundo acumulou 21,66% de perdas no ano, basicamente em razão de aposta errada no mercado de opções.

Um outro fundo exclusivo, o Titânio, de R$ 28 milhões, administrado pelo BMC, fechou o exercício de 2004 com 1,75% de valorização --também considerada muito baixa.

Um dos administradores de recursos do Nucleos foi o Banco Santos, que naufragou no final do ano passado. A instituição administrava o fundo exclusivo de renda fixa Urânio, hoje com patrimônio ao redor de R$ 63 milhões. Na carteira do fundo havia R$ 7 milhões em papéis do Banco Santos que, segundo jargão do mercado financeiro, ''viraram pó''.

No ano passado, o Urânio rendeu apenas 6,81%. Fundos com o mesmo perfil de outras instituições, como o Vitória Previ (da Porto Seguro) e o BB Previ RF 2 (Banco do Brasil), renderam, respectivamente, 23,15% e 23,82% no mesmo período.

''Fogo amigo''

Segundo Neildo Jorge, a influência de Sereno no Nucleos começou no início do governo Lula, quando ele teria indicado o presidente da INB, Luiz Carlos Vieira. Os dois foram funcionários da Vale do Rio Doce e conviveram no movimento sindical.

Enquanto Vieira indicou o diretor financeiro do Nucleos, Gildásio Amado Filho, Sereno, segundo os dois conselheiros, teria indicado a gerente financeira, Fabiana de Castro, e o analista de investimentos Walter Khul.

O atual presidente da Eletronuclear, Paulo Figueiredo, na época militante do PC do B, já fazia parte da administração do Nucleos por indicação dos empregados, tendo sido eleito duas vezes consecutivas, com apoio dos que hoje o acusam. Segundo Neildo Jorge, Figueiredo teria sido alçado à presidência do Nucleos numa articulação feita por Marcelo Sereno.

O Conselho Deliberativo é formado por seis representantes, três eleitos pelos empregados e três indicados pelos patrocinadores (INB, Nuclep e Eletronuclear), que têm o voto de minerva.

No fogo cruzado existente no Nucleos, acusadores e acusados têm a mesma origem no movimento sindical. Trabalharam juntos para a eleição de Lula e estiveram lado a lado nos dois primeiros anos de governo.

''Politicamente, viemos do mesmo saco. O governo Lula veio do movimento sindical, e nós também'', disse Neildo Jorge, à Folha, em Itaguaí (a 73 km do Rio, onde está a sede da Nuclep, outra patrocinadora do fundo).

Os dois disseram que a crise começou em novembro de 2004, quando ficou evidente o mau desempenho dos investimentos naquele ano.

Em 2003, o fundo de pensão havia apresentado rentabilidade de 33% (o dobro da meta atuarial daquele ano), mas os dois creditam o fato à política conservadora definida na gestão anterior.

Apesar das críticas veementes que fazem hoje, os dois conselheiros votaram pela aprovação das contas do ano passado. Questionados sobre a contradição, afirmaram que seguiram o parecer do conselho fiscal.

Gestão temerária

Outro fundo de pensão também gerido por indicados petistas e que teve perdas com investimentos arriscados é a Fundação Real Grandeza, dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas. No ano passado, a fundação registrou prejuízo de R$ 153 milhões devido a aplicações no Banco Santos. Desse prejuízo, R$ 8 milhões se referiam ao plano de saúde dos associados da fundação.

José Elton de Oliveira, conselheiro da Após-Furnas (associação dos aposentados da empresa), disse que a atual gestão da fundação, formada por indicações político-partidárias, tem sido péssima. "Essa gestão é péssima, temerária, sem dúvida. A nós, assistidos ou participantes ativos, não interessa esse risco [como aplicações em CDBs do Banco Santos]", disse.

O ex-sindicalista Marcos Antônio Carvalho Gomes foi indicado para a presidência da Real Grandeza pelo deputado Jorge Bittar (PT-RJ). Benito Siciliano, ex-gerente de Investimentos, era ligado ao PTB. Foi afastado em março deste ano após a perda que fundação teve com os investimentos no Banco Santos. O diretor de Investimentos, Jorge Luiz Monteiro de Freitas, também tem ligações com o PTB, partido do deputado Roberto Jefferson (RJ).

Para José Elton de Oliveira, as decisões arriscadas de investimento tomadas pela atual gestão da Real Grandeza "não são condizentes" com os interesses dos aposentados de Furnas. "[A razão para investimentos arriscados] só pode ser por uma outra motivação que não a da seguridade. Certamente não foi pensando no futuro dos aposentados", afirmou.
 

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