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05/08/2005 - 09h10

Jefferson envolve Gushiken no "mensalão"

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da Folha de S.Paulo

O deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), em seu depoimento à CPI do Mensalão, ontem, adicionou mais um personagem ao rol dos que considera responsáveis pela corrupção no governo. Além do ex-ministro José Dirceu, que considera o "chefe do Esquema", disse que o ex-titular da Secom Luiz Gushiken, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, permitiu a "escandalosa" atuação de Marcos Valério em Brasília.

Além da suposta operação envolvendo a ajuda da Portugal Telecom ao PT e PTB, Jefferson procurou isentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de qualquer outro envolvimento. "Na questão do "mensalão" e de Furnas [suposto desvio de recursos para caixa de partidos], percebi nitidamente que ele se sentiu traído", afirmou. O depoimento teve início às 10h34 e terminou às 23h.

"Digo que o Zé Dirceu era o chefe", repetiu por algumas vezes ao falar sobre o suposto esquema de pagamento de mesada no Congresso, o chamado "mensalão".

Apesar de ser o denunciante do esquema, Jefferson admitiu que por pelo menos três vezes foi beneficiário do dinheiro de Valério. Para reforçar o caixa de campanha de 2004, pagar dívidas da campanha de 2002 e para ajudar a um assessor do partido.

Sobre Gushiken, que perdeu o status de ministro na atual crise política, Jefferson afirmou. "Ele [Dirceu] não está só, o [Luiz] Gushiken está com ele com certeza. Não conversei isso [o "mensalão'] com o ministro Gushiken, mas ele autorizou que essa movimentação escandalosa dessas agências existissem", afirmou. O ex-ministro chefiava a área de publicidade do governo federal.

"Para mim passa pelo José Dirceu e pelo Gushiken, tem inteligência de governo nisso, não é um ato isolado do José Dirceu, ele não teria como fazer sozinho." Jefferson ressaltou, porém, como já havia afirmado antes, que Dirceu era o líder do esquema.

Nas mais de 12 horas de depoimento, Jefferson chegou a rasgar um jornal que continha uma acusação contra ele, que lhe fora entregue pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ele disse que o PT não quis "dividir poder com uma burguesia que achava corrupta e prostituta", e distribuiu ironias.

Em uma delas, disse que alimentava o desejo de que todos os senadores e deputados cedessem os seus mandatos aos jornalistas. "Gostaria de nomear os jornalistas para eles tomarem conta do país. Ia ser uma perfeição, não ia ter um erro. Imagina: William Boner [apresentador do "Jornal Nacional'] presidente do Congresso", afirmou, arrancando risos.

Dois parlamentares perguntaram ainda ao petebista quais seriam os tais "instintos primitivos" que Dirceu despertaria nele. "Superei. São sentimentos negativos que rezei ontem muito para superar", disse o deputado.

Jefferson atacou ainda o Banco Rural, afirmando que não sabia por que o Banco Central não havia ainda feito intervenção na instituição, além de irritar deputadas e senadoras ao lembrar um episódio envolvendo o ex-presidente Itamar Franco (1992-1994) com uma modelo durante um Carnaval no Rio de Janeiro.

O petebista criticou também de forma veemente o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto (PL-SP), chamado de "galo mutuca [fujão]". Sobre o ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, ele disse: "O pai dele teve premonição. Disse: vai ser tesoureiro do Valdemar". A Folha não conseguiu falar ontem com o presidente nacional do Partido Liberal.

DINHEIRO DO PT - Jefferson assume que o PTB recebeu recursos (R$ 1 milhão) do PT para pagar dívidas da campanha presidencial de 2002, quando apoiou o hoje ministro Ciro Gomes. Assumiu também ter recebido R$ 200 mil para uma ajuda particular a um motorista do PTB, mas negou que o tesoureiro informal da legenda, Emerson Palmieri, tenha feito saques nas contas de Valério. Sobre os R$ 4 milhões que teria recebido do PT para as eleições de 2004, disse que distribuiu tudo, mas se negou a dizer a quem. "Não tenho condições [de devolver o dinheiro]. Eu distribuí. Só não vou dizer para quem. Foi para coligações e para companheiros que eram candidatos", afirmou, dizendo não haver entre esses nenhum deputado federal.

GALO MUTUCA - Sobre Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL, que renunciou na segunda-feira, disse: "Ele tem uma coisa similar ao Duda Mendonça. O Duda Mendonça gosta de briga de galo. E o Valdemar na briga de galo pode ser chamado de galo mutuca [galo de briga que foge da rinha], é corredor. (...) Ele é fraco, porque blefar em um jogo desse e depois ter que correr da banca? Correu; galo mutuca".

PORTUGAL TELECOM - "Guardei para o Zé Dirceu aquilo. E ele falou até fino na hora de responder", disse o deputado sobre o suposto acordo.

VARIG-TAP - Jefferson afirma que Marcos Valério, que teria "relações intestinais com pessoas do primeiro escalão do governo", relatou a ele que tinha o objetivo de negociar a venda da Varig nas visitas que teria feito a Portugal. "Ele [Valério] intermediou negócios de transferência acionária da Varig, reestatização de linhas de transmissão, área de telefonia, ele disse que faz essa intermediação lá de telefonia, foi a Portugal se encontrar com o presidente da Portugal Telecom para tratar de assuntos dessa área. Há outros aspectos, é claro que há outras fontes", acrescentou.

LULA - Além de afirmar dar um "cheque em branco", Jefferson sugeriu que o presidente pode ter sido induzido a erro por confiar em Dirceu. "Eu aposto, pela formação do presidente, operário, que não tem aquela coisa da minúcia do contrato. Eu, que sou advogado, tenho de ler três, quatro vezes um decreto para entender o que está acontecendo. Pode ter sido induzido ao erro. Pode ter dito "ô Zé, dá aqui". Assina uma pilha de papel por dia, agenda, agenda internacional, pode ser contaminado, mesmo que seja inocente".

Apesar disso, sobrou ironia também para Lula: "Se o presidente Lula tomasse conta das cuecas dos assessores do PT, aí sim eu ia romper com ele".

MINISTROS - Ele elogia Antonio Palocci (Fazenda), Roberto Rodrigues (Agricultura), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Walfrido Mares Guia (Turismo) e Dilma Rousseff, sucessora de Dirceu. "Tente conversar qualquer conversa dessa [sobre "mensalão"] com a Dilma e vai ver se ela não te coloca para correr ou se você não sai preso de lá."

PETISTAS - Jefferson disse que não acusa a bancada do PT de participar do "mensalão". Citou nominalmente Paulo Rocha (PA) e Professor Luizinho (SP). "Botar o Luizinho com R$ 20 mil [de saque] é crueldade". Durante o depoimento, o deputado Zico Bronzeado (PT-AC) admitiu ter recebido R$ 80 mil em caixa 2 nas eleições de 2002.

BANCO DO BRASIL E BANCO SANTOS - "Me parece que [o Rural] é a parte menor. Se for obedecida a proporção, a lista do Banco do Brasil é muito maior", afirmou. Sobre o Banco Santos, disse que lista de instituições que "micaram" é fundamental para se descobrir o destino de dinheiro desviado de fundos de pensão. Ele afirmou também que as agências de Valério perderam muito dinheiro naquele banco.

ITAMAR - Jefferson também atacou o ex-presidente Itamar Franco ao fazer uma comparação: "Quem tem ética não faz marketing dela. É como se eu [digo] "sou macho" e boto uma mulher sem calcinha em cima de um palanque de Carnaval para provar que é macho. Quem é macho não precisa provar que é macho". Senadoras e deputadas reclamaram dessa referência.

RURAL - Segundo Jefferson, o Banco Central teria que tomar providências contra o banco. "É um banco amoral, que sempre patrocina a corrupção".

RENAN CALHEIROS E SEVERINO CAVALCANTI - Jefferson também atacou os presidentes do Senado e da Câmara, chamados de "frouxos". "O presidente da Câmara e do Senado estão frouxos. Permitem que a crise deságüe aqui quando ela é culpa do Executivo. Ninguém teve a grandeza de estadista de defender o Legislativo. O Poder está acocorado", afirmou.

FURNAS - Sobre o suposto desvio de recursos da estatal para o PTB e PT, novamente isenta Lula: "Lula acertou mudança da direção, não divisão do dinheiro". "Essa conversa foi tratada por mim e o Zé Dirceu. (...) Esse detalhe dos R$ 3 milhões, que R$ 1,5 milhão ficaria com o PTB e R$ 1,5 milhão ficaria com o PT, isso não foi tratado na frente do presidente Lula ou teve conhecimento dele".

Especial
  • Leia a cobertura completa sobre o caso do "mensalão"
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