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07/08/2005
-
09h52
VALDO CRUZ
diretor-executivo da Folha de S.Paulo, em Brasília
A mudança no ritmo da agenda e no tom dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem mais agressivos nos últimos dias, foi uma decisão "acertada" do próprio petista, mas ele "exagerou na dose" e provocou "mau humor". Dado o recado de que "não é Collor" por ter apoio popular, porém, é hora de contatos com a oposição.
Essa é a avaliação de integrantes da nova cúpula do governo petista, formada por um grupo de cinco ministros --Antonio Palocci Filho (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Jaques Wagner (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral).
O "grupo dos cinco" tem se reunido para debater a crise e procurado auxiliar o presidente. Segundo esses ministros, foi o próprio Lula, de forma "intuitiva", que decidiu intensificar sua agenda popular, com viagens para inaugurações e contatos diretos com movimentos sociais e a população.
O erro, segundo análise ouvida pela Folha dentro do governo, foi o tom adotado pelo presidente nos últimos discursos feitos em viagens ao Nordeste. Ele chegou a soltar frases do tipo "vão ter de me engolir", num estilo considerado arrogante por alguns por se considerar quase imbatível numa disputa presidencial.
Ao tornar suas falas mais agressivas, atacando a oposição e as "elites", Lula acabou "carregando a crise" com ele, contribuindo para acirrar os ânimos entre governo e oposição, em vez de usar suas viagens pelo país para se afastar das turbulências.
Os ministros do "grupo dos cinco", porém, rebatem os ataques da oposição e de empresários à mudança no estilo presidencial. "O que eles queriam, que ele apanhasse e ficasse quieto, calado?", questiona um dos auxiliares do presidente Lula.
Apesar da "overdose" dos últimos dias, o balanço da reação presidencial foi considerado positivo no Palácio do Planalto. Serviu, na visão de um ministro, para mostrar que o presidente "tem raízes, inserção e base social, bem diferente do ex-presidente Fernando Collor".
A expectativa, agora, é que o presidente adote uma atitude mais moderada, depois de até ter "exagerado na dose, mas conseguido passar seu recado, de que não é um presidente fraco". Alguns ministros iriam conversar com o chefe sobre a necessidade de recolher as armas.
Abriria, assim, espaço para que seus articuladores buscassem uma interlocução com a oposição em busca da volta da "normalidade institucional".
Na sexta-feira passada, por sinal, Lula já mostrou uma agenda bem diferente da dos últimos dias, reservando boa parte do dia para dois encontros com pesos-pesados da economia no Palácio do Planalto. Numa dessas reuniões, chegou a dizer que "a crise não é tão grande como dizem".
Lula, porém, não pretende reduzir o ritmo de viagens. Promete mantê-las. Seus auxiliares esperam, no entanto, que ele não volte aos discursos raivosos e deixe a crise em Brasília.
Pente-fino
Segundo auxiliares de Lula, a decisão do chefe de adotar um estilo mais radical não significa que estivesse se sentindo "ameaçado" no cargo. A informação obtida dentro do governo pela Folha é que o presidente está tranqüilo, certo de que nada será encontrado que possa ligá-lo ao escândalo do "mensalão".
Essa certeza, segundo a Folha apurou, viria de uma "operação pente-fino" montada pelo Gabinete de Segurança Institucional, com agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da Polícia Federal. Os agentes vasculharam todas as operações que poderiam envolver o presidente com os negócios armados pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Nada teria sido encontrado contra Lula.
Teriam passado pelo crivo da Abin e da PF os cartões de crédito corporativos da Presidência, que poderiam ter sido utilizados para gastos pessoais de familiares do presidente Lula.
Também foram analisados gastos pessoais da mulher do presidente, Marisa Letícia, e dos seus filhos, que estavam sendo citados reservadamente por membros da oposição como suspeitos de terem sido pagos com dinheiro vindo do esquema Marcos Valério.
Os agentes também verificaram a agenda do presidente no Palácio do Planalto, no Palácio da Alvorada e na Granja do Torto, para checar possíveis audiências que pudessem comprometê-lo.
A operação, feita com o consentimento de Lula, foi montada para dar segurança ao presidente. Segundo a versão obtida pela reportagem, o temor era que, por "um deslize ou completo descontrole", algo fosse detectado ligando o petista ao escândalo.
Até uma dívida de R$ 29.436 atribuída pelo PT ao presidente teria sido analisada. A CPI dos Correios suspeita da operação de quitação da dívida, mas segundo a investigação do governo tudo não passou de uma confusão contábil do partido, um "ajuste de caixa" para zerar o débito.
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Leia o que já foi publicado sobre o governo Lula
Leia a cobertura completa sobre o caso do "mensalão"
Núcleo lulista aprova apelo às massas, mas vê exageros
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diretor-executivo da Folha de S.Paulo, em Brasília
A mudança no ritmo da agenda e no tom dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem mais agressivos nos últimos dias, foi uma decisão "acertada" do próprio petista, mas ele "exagerou na dose" e provocou "mau humor". Dado o recado de que "não é Collor" por ter apoio popular, porém, é hora de contatos com a oposição.
Essa é a avaliação de integrantes da nova cúpula do governo petista, formada por um grupo de cinco ministros --Antonio Palocci Filho (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Jaques Wagner (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral).
O "grupo dos cinco" tem se reunido para debater a crise e procurado auxiliar o presidente. Segundo esses ministros, foi o próprio Lula, de forma "intuitiva", que decidiu intensificar sua agenda popular, com viagens para inaugurações e contatos diretos com movimentos sociais e a população.
O erro, segundo análise ouvida pela Folha dentro do governo, foi o tom adotado pelo presidente nos últimos discursos feitos em viagens ao Nordeste. Ele chegou a soltar frases do tipo "vão ter de me engolir", num estilo considerado arrogante por alguns por se considerar quase imbatível numa disputa presidencial.
Ao tornar suas falas mais agressivas, atacando a oposição e as "elites", Lula acabou "carregando a crise" com ele, contribuindo para acirrar os ânimos entre governo e oposição, em vez de usar suas viagens pelo país para se afastar das turbulências.
Os ministros do "grupo dos cinco", porém, rebatem os ataques da oposição e de empresários à mudança no estilo presidencial. "O que eles queriam, que ele apanhasse e ficasse quieto, calado?", questiona um dos auxiliares do presidente Lula.
Apesar da "overdose" dos últimos dias, o balanço da reação presidencial foi considerado positivo no Palácio do Planalto. Serviu, na visão de um ministro, para mostrar que o presidente "tem raízes, inserção e base social, bem diferente do ex-presidente Fernando Collor".
A expectativa, agora, é que o presidente adote uma atitude mais moderada, depois de até ter "exagerado na dose, mas conseguido passar seu recado, de que não é um presidente fraco". Alguns ministros iriam conversar com o chefe sobre a necessidade de recolher as armas.
Abriria, assim, espaço para que seus articuladores buscassem uma interlocução com a oposição em busca da volta da "normalidade institucional".
Na sexta-feira passada, por sinal, Lula já mostrou uma agenda bem diferente da dos últimos dias, reservando boa parte do dia para dois encontros com pesos-pesados da economia no Palácio do Planalto. Numa dessas reuniões, chegou a dizer que "a crise não é tão grande como dizem".
Lula, porém, não pretende reduzir o ritmo de viagens. Promete mantê-las. Seus auxiliares esperam, no entanto, que ele não volte aos discursos raivosos e deixe a crise em Brasília.
Pente-fino
Segundo auxiliares de Lula, a decisão do chefe de adotar um estilo mais radical não significa que estivesse se sentindo "ameaçado" no cargo. A informação obtida dentro do governo pela Folha é que o presidente está tranqüilo, certo de que nada será encontrado que possa ligá-lo ao escândalo do "mensalão".
Essa certeza, segundo a Folha apurou, viria de uma "operação pente-fino" montada pelo Gabinete de Segurança Institucional, com agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da Polícia Federal. Os agentes vasculharam todas as operações que poderiam envolver o presidente com os negócios armados pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Nada teria sido encontrado contra Lula.
Teriam passado pelo crivo da Abin e da PF os cartões de crédito corporativos da Presidência, que poderiam ter sido utilizados para gastos pessoais de familiares do presidente Lula.
Também foram analisados gastos pessoais da mulher do presidente, Marisa Letícia, e dos seus filhos, que estavam sendo citados reservadamente por membros da oposição como suspeitos de terem sido pagos com dinheiro vindo do esquema Marcos Valério.
Os agentes também verificaram a agenda do presidente no Palácio do Planalto, no Palácio da Alvorada e na Granja do Torto, para checar possíveis audiências que pudessem comprometê-lo.
A operação, feita com o consentimento de Lula, foi montada para dar segurança ao presidente. Segundo a versão obtida pela reportagem, o temor era que, por "um deslize ou completo descontrole", algo fosse detectado ligando o petista ao escândalo.
Até uma dívida de R$ 29.436 atribuída pelo PT ao presidente teria sido analisada. A CPI dos Correios suspeita da operação de quitação da dívida, mas segundo a investigação do governo tudo não passou de uma confusão contábil do partido, um "ajuste de caixa" para zerar o débito.
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