Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/08/2005 - 09h12

Edemar cita Delúbio e fundos de pensão em agenda

Publicidade

MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

Onze dias antes de o Banco Central intervir no Banco Santos, o banqueiro Edemar Cid Ferreira tentou levantar recursos com fundos de pensão por meio de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT. A tentativa está registrada em um documento apreendido pela Polícia Federal na casa do banqueiro em março deste ano, obtido com exclusividade pela Folha.

O nome de Delúbio aparece duas vezes no documento em que Edemar lista tarefas a que precisa dar continuidade no dia 1º de novembro do ano passado. Na primeira menção ("Delúbio s/ Fundos"), é o terceiro item de uma lista com 90 tarefas. Na segunda citação aparecem mais detalhes. Está escrito: "Buscar Recursos / Delúbio" sobre uma relação em que são citados os fundos de pensão Sistel (da antiga Telebrás), Funcef (de funcionários da Caixa Econômica Federal), Petros (Petrobras) e Valia (da Vale do Rio Doce).

O Banco Santos foi liquidado pelo Banco Central por apresentar um rombo de R$ 2,2 bilhões. Edemar e 18 executivos do banco são réus numa ação em que o Ministério Público Federal acusa-os de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Os fundos de pensão perderam R$ 550 milhões, segundo a Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência. O fundo que mais perdeu recursos no Banco Santos é o Real Grandeza, dos funcionários de Furnas. Foram para o ralo R$ 151,2 milhões desse fundo. Furnas era uma das áreas de influência do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, segundo Roberto Jefferson. Dirceu nega a acusação.

A alocação de investimentos do Real Grandeza é um roteiro dos bancos listados em escândalos políticos ou econômicos.

O Banco Rural e o BMG, citados pelo publicitário Marcos Valério de Souza como as instituições que teriam feito os empréstimos de R$ 55 milhões que ele repassou para o PT, receberam recursos dos fundo dos funcionários de Furnas. O Rural foi agraciado com R$ 548,9 milhões entre 1999 e 2004. O BMG recebeu R$ 232,6 milhões nos últimos três anos.

A Secretaria de Previdência Complementar puniu na última sexta-feira com multa e suspensão nove dirigentes do Real Grandeza. Houve "imprudência, negligência e violação de normas de controle", segundo o órgão. A assessoria do fundo diz que investe no Banco Santos desde 1999.

Banqueiro petista

Edemar sabia que os investimentos dos fundos de pensão obedecem a ventos políticos. Por isso investia tanto nesse segmento. A razão é óbvia. Os fundos de pensão administram cerca de R$ 300 bilhões, o equivalente a 18% do PIB (Produto Interno Bruto).

Com a ascensão do PT em 2002, o banqueiro vislumbrou novos negócios. Edemar foi um dos raros banqueiros a declarar-se "petista". Aderiu à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e fazia campanha dentro do banco.

Delúbio era o interlocutor mais freqüente de Edemar, segundo três ex-diretores do banco ouvidos pela Folha. Era freqüentador habitual da instituição. Mas não era o único integrante da cúpula petista a ter relações com o banqueiro. A ex-prefeita Marta Suplicy, por exemplo, usava o heliponto da sede do banco, no Jardim Europa, próximo a sua casa.

Desespero

O recurso a Delúbio parece ter sido uma das últimas cartadas de Edemar para tentar salvar o banco. No começo de novembro do ano passado, o banqueiro usava todos os seus contatos políticos para evitar o que era óbvio para os técnicos do Banco Central que foram colocados dentro do Banco Santos em 2002: intervenção seguida de liquidação.

Dois dirigentes de fundos de pensão e dois advogados especialistas nessa matéria ouvidos pela Folha relatam que integrantes do governo pressionaram os fundos para tentar salvar o Banco Santos com a injeção de novos investimentos. Houve resistência porque já eram constantes no mercado financeiro os rumores de que o banco estava insolvente.

A PF já tem provas de que pressão política não era o único instrumento que o Banco Santos recorria para obter investimentos de fundos de pensão. Documentos revelam que diretores dos fundos recebiam propina de Edemar para manter investimentos na instituição. Os agrados, no entanto, não foram suficientes. No dia 12 de novembro, quando ocorreu a intervenção, o Banco Santos já contabilizara a falta de R$ 200 milhões para fechar o seu caixa. Com a intervenção, o BC descobriu que o buraco era dez vezes maior, de R$ 2,2 bilhões.

Outro lado

Edemar negou, por meio de seu advogado, Sergio Bermudes, que tenha recorrido a Delúbio Soares para tentar levantar recursos junto a fundos de pensão. O advogado Ricardo Tepedino, que também defende Edemar, disse que o banqueiro conhecia o ex-tesoureiro do PT e que a Procid, holding que controlava o banco, comprou R$ 40 mil em ingressos para o show que Zezé di Camargo e Luciano fizeram para levantar fundos para a construção da sede do partido.

O advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros Filho, disse que seu cliente contou-lhe que não falou com Edemar pouco antes da intervenção no banco.

O fundo que mais perdeu recursos no Banco Santos, o Real Grandeza, disse por meio de sua assessoria que os investimentos feitos no Santos antecedem o governo Lula. Começaram em 1999. A maior aplicação, no entanto, ocorreu em 2003 (R$ 112,8 milhões). O Real Grandeza diz que investia no Santos porque a classificação da Austin Rating para a instituição era "A" ("o banco apresenta solidez financeira boa").

O Funcef, fundo dos funcionários da Caixa que perdeu R$ 10 milhões no Santos, refuta a idéia de que o investimento tenha ocorrido por pressões políticas. Luiz Guilhermino, assessor de imprensa do Funcef, diz que a aplicação foi feita por gestores terceirizados. O fundo de investimento do qual fazia parte a aplicação no Banco Santos, segundo ele, rendeu 2,9% acima da meta de 12,71%.

A Centrus, fundação dos funcionários do Banco Central que perdeu R$ 34 milhões, diz que o investimento havia sido feito em maio e junho de 2004. A perda, diz o fundo, representa menos de 0,5% do patrimônio.

O Petros não tem recursos aplicados no Banco Santos desde 2000, quando venceram dois CDBs de R$ 6,1 milhões, segundo sua assessoria.
A Fundação Sistel informou que as últimas aplicações que fez no Santos foram em 2001, quando investiu R$ 3,2 mi.

A Valia diz, por meio de assessoria, não ter aplicações no Santos desde 1998, quando a atual gestão assumiu o fundo.

Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, diz que a legislação existente é suficiente para punir eventuais irregularidades em fundos. O que falta, diz ele, é um órgão regulador que tenha autonomia do governo. O existente é subordinado à Previdência.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Banco Santos
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página