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29/08/2005
-
09h34
SILVIO NAVARRO
RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
da Folha de S.Paulo
Em meio a uma guerra de agendas e choque de atribuições, três CPIs em curso no Congresso Nacional --Correios, Mensalão e Bingos-- tinham aprovado até a última sexta-feira convocações para tomar mais 220 depoimentos de pessoas acusadas de envolvimentos em corrupção.
Longe de demonstrar um afinco às investigações, o número acima é resultado de casos de precipitação, desencontro entre as comissões, disputa pessoal e busca de holofotes por boa parte dos parlamentares. Essa avaliação tem respaldo principalmente entre os presidentes e relatores das CPIs.
O levantamento, feito pela Folha, mostra ainda que os congressistas terão que destrinchar toneladas de documentos oriundos de mais de uma centena de quebras de sigilos fiscal, bancário e telefônico, além de incontáveis informações solicitadas a órgãos públicos e empresas.
Caso não convocassem mais nenhum depoente nem solicitassem mais nenhum documento, o que é praticamente impossível, o trabalho das três comissões só terminaria em meados de abril de 2006. A estimativa é baseada na média de três a quatro depoimentos por semana em cada CPI, embora a dos Correios tenha criado subcomissões para acelerar a tomada de depoimentos e pretenda encerrar os trabalhos em novembro.
Nas CPIs dos Correios e do Mensalão as sessões raramente duram menos de sete horas. Isso porque parlamentares utilizam o tempo a que têm direito para fazer discursos políticos e referências ao "telespectador".
"Vaidade existe mesmo, embora só prejudique. É aquela velha história de quem descobre primeiro, de quem vai ter o condão de chegar primeiro", afirmou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), que já chegou a reclamar de que uma das sessões da CPI da qual participava não estava sendo transmitida pela TV.
"Essa concorrência não vai levar a nada. Em vez de pensar na investigação, estão só pensando no show", comentou o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que, embora membro das CPIs dos Correios e do Mensalão, raramente participa das inquirições.
Primeira comissão a ser instalada na esteira da crise, a dos Correios tem mais 110 depoimentos aprovados e 61 quebras de sigilo, números que devem aumentar. A do Mensalão tem mais 74 depoimentos previstos e quebrou um total de cerca de 80 sigilos. A dos Bingos se propõe a ouvir mais 36 depoimentos e analisar documentos resultantes de 34 quebras.
"Está havendo uma coisa absurda, convocam pessoas em uma CPI e outra vai e convoca também", disse o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), para quem os desencontros podem atrasar ou impedir punições aos culpados.
Desconhecimento
Um exemplo é o do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona, cuja convocação foi disputada pelas três CPIs. No caso da do Mensalão, sua convocação foi aprovada em um bloco de votações e a maioria dos membros nem sequer se deu conta.
"Estão fugindo de convocar lá, então eu convoquei aqui", justificou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), da CPI dos Bingos, que investiga o envolvimento das casas de jogos com o caixa dois de partidos e com o crime organizado. Barcelona disse ter conhecimento apenas de remessa de dinheiro para o exterior.
O neto do senador, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), interrompia os trabalhos da CPI dos Correios na última quinta-feira cada vez que a CPI do Mensalão ou a dos Bingos aprovava um requerimento que já existisse na dos Correios. Tumultuando os trabalhos, ele alertava que as outras comissões já haviam passado na frente.
O ímpeto dos parlamentares por depoimentos é tão grande que, mesmo no dia em que são votados seus próprios requerimentos, alguns não sabem identificar quem são as pessoas que convocaram. Foi o caso dos deputados tucanos Gustavo Fruet (PR) e Eduardo Paes (RJ), que, na última quinta-feira, não souberam dizer quem é Soraya Garcia (assessora da campanha do prefeito de Londrina, Nedson Micheletti), alvo de um pedido de convocação por parte deles. Mesmo assim, o requerimento foi aprovado.
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) chegou a pedir formalmente a convocação do presidente Lula na CPI dos Correios, apesar de uma Comissão Parlamentar de Inquérito não ter poder para isso. Alertado, recuou e retirou o documento no dia 2 de agosto.
Presidentes e relatores das CPIs tentam conter o excesso de depoimentos alertando que o momento agora é de análise da documentação já recebida, empilhada em pequenas salas do Senado. "Não convém ter uma pauta de depoimentos muito longa, porque a cada dia surge um fato novo que pode mudar o rumo da investigação", afirmou o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), relator da CPI do Mensalão.
O ápice do desencontro das CPIs ocorreu na última quinta-feira, quando o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), criticou a agenda da CPI do Mensalão e disse que as comissões estão preocupadas com o "holofote" e não com resultados. Haverá uma reunião amanhã entre os dirigentes das três comissões e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Preocupada com a perda de foco das investigações, a oposição também se reúne hoje.
Especial
Leia a cobertura completa sobre a CPI dos Correios
Leia a cobertura completa sobre o "mensalão"
Leia o que já foi publicado sobre a CPI dos Bingos
Três CPIs convocam mais 220 depoimentos
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RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
da Folha de S.Paulo
Em meio a uma guerra de agendas e choque de atribuições, três CPIs em curso no Congresso Nacional --Correios, Mensalão e Bingos-- tinham aprovado até a última sexta-feira convocações para tomar mais 220 depoimentos de pessoas acusadas de envolvimentos em corrupção.
Longe de demonstrar um afinco às investigações, o número acima é resultado de casos de precipitação, desencontro entre as comissões, disputa pessoal e busca de holofotes por boa parte dos parlamentares. Essa avaliação tem respaldo principalmente entre os presidentes e relatores das CPIs.
O levantamento, feito pela Folha, mostra ainda que os congressistas terão que destrinchar toneladas de documentos oriundos de mais de uma centena de quebras de sigilos fiscal, bancário e telefônico, além de incontáveis informações solicitadas a órgãos públicos e empresas.
Caso não convocassem mais nenhum depoente nem solicitassem mais nenhum documento, o que é praticamente impossível, o trabalho das três comissões só terminaria em meados de abril de 2006. A estimativa é baseada na média de três a quatro depoimentos por semana em cada CPI, embora a dos Correios tenha criado subcomissões para acelerar a tomada de depoimentos e pretenda encerrar os trabalhos em novembro.
Nas CPIs dos Correios e do Mensalão as sessões raramente duram menos de sete horas. Isso porque parlamentares utilizam o tempo a que têm direito para fazer discursos políticos e referências ao "telespectador".
"Vaidade existe mesmo, embora só prejudique. É aquela velha história de quem descobre primeiro, de quem vai ter o condão de chegar primeiro", afirmou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), que já chegou a reclamar de que uma das sessões da CPI da qual participava não estava sendo transmitida pela TV.
"Essa concorrência não vai levar a nada. Em vez de pensar na investigação, estão só pensando no show", comentou o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que, embora membro das CPIs dos Correios e do Mensalão, raramente participa das inquirições.
Primeira comissão a ser instalada na esteira da crise, a dos Correios tem mais 110 depoimentos aprovados e 61 quebras de sigilo, números que devem aumentar. A do Mensalão tem mais 74 depoimentos previstos e quebrou um total de cerca de 80 sigilos. A dos Bingos se propõe a ouvir mais 36 depoimentos e analisar documentos resultantes de 34 quebras.
"Está havendo uma coisa absurda, convocam pessoas em uma CPI e outra vai e convoca também", disse o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), para quem os desencontros podem atrasar ou impedir punições aos culpados.
Desconhecimento
Um exemplo é o do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona, cuja convocação foi disputada pelas três CPIs. No caso da do Mensalão, sua convocação foi aprovada em um bloco de votações e a maioria dos membros nem sequer se deu conta.
"Estão fugindo de convocar lá, então eu convoquei aqui", justificou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), da CPI dos Bingos, que investiga o envolvimento das casas de jogos com o caixa dois de partidos e com o crime organizado. Barcelona disse ter conhecimento apenas de remessa de dinheiro para o exterior.
O neto do senador, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), interrompia os trabalhos da CPI dos Correios na última quinta-feira cada vez que a CPI do Mensalão ou a dos Bingos aprovava um requerimento que já existisse na dos Correios. Tumultuando os trabalhos, ele alertava que as outras comissões já haviam passado na frente.
O ímpeto dos parlamentares por depoimentos é tão grande que, mesmo no dia em que são votados seus próprios requerimentos, alguns não sabem identificar quem são as pessoas que convocaram. Foi o caso dos deputados tucanos Gustavo Fruet (PR) e Eduardo Paes (RJ), que, na última quinta-feira, não souberam dizer quem é Soraya Garcia (assessora da campanha do prefeito de Londrina, Nedson Micheletti), alvo de um pedido de convocação por parte deles. Mesmo assim, o requerimento foi aprovado.
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) chegou a pedir formalmente a convocação do presidente Lula na CPI dos Correios, apesar de uma Comissão Parlamentar de Inquérito não ter poder para isso. Alertado, recuou e retirou o documento no dia 2 de agosto.
Presidentes e relatores das CPIs tentam conter o excesso de depoimentos alertando que o momento agora é de análise da documentação já recebida, empilhada em pequenas salas do Senado. "Não convém ter uma pauta de depoimentos muito longa, porque a cada dia surge um fato novo que pode mudar o rumo da investigação", afirmou o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), relator da CPI do Mensalão.
O ápice do desencontro das CPIs ocorreu na última quinta-feira, quando o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), criticou a agenda da CPI do Mensalão e disse que as comissões estão preocupadas com o "holofote" e não com resultados. Haverá uma reunião amanhã entre os dirigentes das três comissões e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Preocupada com a perda de foco das investigações, a oposição também se reúne hoje.
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