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02/10/2005 - 10h03

"Centrão" petista deve vencer no 2º turno, dizem especialistas

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FLÁVIA MARREIRO
da Folha de S.Paulo

Embora tenha de negociar mais e dividir espaço na cúpula, o Campo Majoritário --o "centrão" petista-- deve ser reconduzido ao poder máximo no PT no próximo domingo, quando acontece o segundo turno da eleição interna da legenda.

Essa é a opinião de três cientistas políticos ouvidos pela Folha --todos especialistas em partidos políticos, dois deles com trabalhos acadêmicos específicos sobre a vida interna petista, o emaranhado de tendências que o compõe e suas "correlações de forças".

Embora nenhum deles decrete a derrota de Raul Pont, da Democracia Socialista, para Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, todos vêem obstáculos se avolumando na candidatura do ex-prefeito de Porto Alegre.

O primeiro deles foi a dissidência de Plínio de Arruda Sampaio, candidato da esquerdista Ação Popular Socialista, que angariou mais de 40 mil votos no primeiro turno. Fundador do partido, Sampaio saiu na última semana levando parte de seus apoiadores.

A saída de Plínio deixa a Democracia Socialista na desconfortável situação de "extrema-esquerda" do PT, excetuando a corrente nanica "O Trabalho".

"É bastante improvável que Pont consiga vencer, principalmente agora com a saída de Plínio, o que desmobilizará aquela parcela de filiados que o apoiou no primeiro turno", diz Maria D'Alva Kinzo, professora titular de Ciência Política da USP. Autora de "Radiografia do Quadro Partidário Brasileiro" (1993), Kinzo vê nas vitórias a nível estadual do Campo fôlego para Berzoini.

Para Carlos Ranulfo e Leonardo Avritzer, ambos cientistas políticos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Pont só tem alguma chance de vitória se amainar o discurso à esquerda em direção dos votos centristas das tendências Articulação de Esquerda, Movimento PT e setores que vivem "à sombra" do Campo.

"Há uma enorme insatisfação no Campo que o Pont pode agregar caso defenda mudanças factíveis na economia", diz Avritzer.

Organizador de "A participação em São Paulo" (2004), livro sobre que analisa as modalidades de participação dos cidadãos na vida política entre 2001 e 2004, Avritzer aponta Minas, o segundo colégio eleitoral do PED (Processo de Eleições Diretas), como estratégico para Pont tentar superar os 42% obtidos por Berzoini no primeiro turno.

"A Maria do Rosario [candidata do Movimento PT] ficou em 2º lugar no Estado e acabou canalizando a insatisfação de petistas importantes como o deputado Virgilio Guimarães", diz.

Nova maioria

Embora não vejam como provável uma alternância de poder na presidência, os cientistas políticos avaliam que a eleição interna enfraqueceu o Campo, reflexo do escândalo do "mensalão", e deu mais espaço à esquerda.

"O Campo Majoritário foi derrotado. Não vai mais ter trator. Uma das implicações práticas será a de tornar o processo decisório mais complexo, mais negociado. É bem possível que maiorias tenham de ser constituídas caso a caso", diz Carlos Ranulfo, que escreveu "O PT e a Democracia" como dissertação de mestrado.

A mudança nas instâncias de cúpula do partido, afirma ele, devem se refletir em encaminhamentos rápidos e firmes dos envolvidos na crise. "A perda do controle da Executiva, que o Campo tinha e não tem mais, vai fazer com que o partido puna quem tem de punir. A esquerda tem de aproveitar esse espaço."

Com base no resultado da eleição interna, ele refuta o que chama de "demonização" do Campo. "É só olhar a votação direta. Não adianta querer inventar um PT que não existe. O perfil mais moderado, a flexão que o PT fez, a política de alianças não é uma invenção do Campo Majoritário."

Para Avritzer, o fim da maioria do Campo "significa a volta ao ato de fazer política no PT". Ele compara a votação obtida pela chapa da corrente em 2001, 52%, na eleição petista anterior, com o resultado atual, 42%. Argumenta que a corrente sofreu forte reflexo da crise. "A perda de tantos votos em cem dias de crise é um fenômeno extremamente significativo", diz.

Maria D'Alva Kinzo vê uma nova correlação de forças da cúpula, que trará problemas para o governo Lula. "Aumenta a influência dos outros grupos, mas poderá dificultar a tomada de decisão ou mesmo uma melhor relação do partido com o governo."

Voto de Lula no PT

Qual o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PT e qual o significado de sua ausência no PED? Leonardo Avritzer enxerga no presidente uma liderança baseada no carisma e, portanto, essencialmente antidemocrática.

Inquestionável e aglutinadora, foi essa influência, ele diz, que ajudou a criar a idéia de Campo Majoritário. "Nesse sentido, a derrota do Campo Majoritário é o começo do petismo pós-lulista."

Para Ranulfo, porém, o fato de Lula não ter ido votar no primeiro turno --o que deve se repetir no próximo domingo-- é apenas um movimento "tático".

"O personalismo político é tão arraigado em nossa experiência presidencialista que o distanciamento partidário é até natural, especialmente num momento de turbulência", defende Kinzo.

Os três professores dizem que o PT sai fortalecido do processo de eleição por conta do alto quórum --mais de 300 mil eleitores, a despeito das denúncias de compra de votos e transporte ilegal de eleitores, que consideram marginais.

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