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30/10/2005
-
09h08
JOSIAS DE SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Ao subir a rampa do Palácio do Planalto junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, José Dirceu (PT-SP) era um político pleno de ambições. Sonhava com o governo de São Paulo e até com a Presidência da República. Hoje, tem pretensões bem mais modestas.
Em público, o ex-chefe da Casa Civil luta para salvar o próprio mandato. Privadamente, já entregou os pontos. Está procurando um meio de "ganhar a vida" depois que perder o título de deputado federal. "Não preciso de muito", diz Dirceu aos amigos. "Uns cinco ou seis mil [reais] já resolveriam".
A primeira cogitação de Dirceu foi a de arrumar emprego em um escritório de advocacia. Porém, embora seja formado pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, ele jamais exerceu o ofício.
O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que é do ramo, aconselhou-o a abrir o leque de alternativas. Disse que não seria difícil que o amigo arrumasse colocação numa banca de advogados. Mas aconselhou-o a pensar também na hipótese de abrir um negócio próprio.
Esta segunda idéia é, por ora, a que mais o anima. Pensa em abrir um escritório de consultoria externa. Acha que a experiência que adquiriu na administração pública o credencia para vender conselhos a investidores estrangeiros.
Dos colegas que deixou na Esplanada, o ministro Antonio Palocci é, depois de Thomaz Bastos, o interlocutor mais freqüente de Dirceu. Falam-se pelo telefone e pessoalmente. A ambos o ex-ministro diz que, além de se colocar profissionalmente, tentará manter algum tipo de militância política, mesmo sem mandato.
Logo depois da cassação, da qual nem ele próprio mais duvida, Dirceu pretende isolar-se numa praia. "Estou moído. Preciso descansar." Em seguida, começará a preparar sua mudança para os Estados Unidos.
Dirceu recebeu e aceitou a oferta de uma bolsa de seis meses na prestigiosa universidade de Harvard. Nesse período, quer estudar, aprender a língua inglesa, fazer contatos e proferir palestras, pelas quais espera receber algum dinheiro. Só depois, já de volta ao Brasil, vai tomar a decisão final em relação ao seu futuro profissional. A nenhum amigo Dirceu mencionou a intenção de solicitar à Câmara aposentadoria proporcional ao seu tempo de mandato parlamentar. O que não significa que não possa vir a pedir.
"Aparelho"
Antes, o ex-chefe da Casa Civil espera resistir por mais algum tempo no "aparelho". É assim, com esse vocábulo que evoca os locais de reunião da esquerda clandestina sob a ditadura, que o advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima, se refere ao escritório onde discutem as estratégias jurídicas. Otimista, Oliveira Lima acha que o "aparelho" está longe de ser "derrubado".
Neste final de semana, o advogado Oliveira Lima estoca munição. Prepara dois novos recursos que pretende protocolar no STF. Num deles, pedirá de novo a extinção do processo contra Dirceu. Noutro, tentará anular a reunião que o Conselho de Ética planeja realizar nesta segunda-feira.
Se o advogado fracassar, o "aparelho" de Dirceu será, finalmente, estourado. Cassado, o ex-ministro amargará o seu segundo ciclo de clandestinidade. No primeiro, fugia da ditadura. Neste outro, será expulso da democracia. Só poderá voltar a concorrer a cargo eletivo em 2014. Talvez seja tarde demais para que Dirceu refaça o seu futuro na política.
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
Ao subir a rampa do Palácio do Planalto junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, José Dirceu (PT-SP) era um político pleno de ambições. Sonhava com o governo de São Paulo e até com a Presidência da República. Hoje, tem pretensões bem mais modestas.
Em público, o ex-chefe da Casa Civil luta para salvar o próprio mandato. Privadamente, já entregou os pontos. Está procurando um meio de "ganhar a vida" depois que perder o título de deputado federal. "Não preciso de muito", diz Dirceu aos amigos. "Uns cinco ou seis mil [reais] já resolveriam".
A primeira cogitação de Dirceu foi a de arrumar emprego em um escritório de advocacia. Porém, embora seja formado pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, ele jamais exerceu o ofício.
O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que é do ramo, aconselhou-o a abrir o leque de alternativas. Disse que não seria difícil que o amigo arrumasse colocação numa banca de advogados. Mas aconselhou-o a pensar também na hipótese de abrir um negócio próprio.
Esta segunda idéia é, por ora, a que mais o anima. Pensa em abrir um escritório de consultoria externa. Acha que a experiência que adquiriu na administração pública o credencia para vender conselhos a investidores estrangeiros.
Dos colegas que deixou na Esplanada, o ministro Antonio Palocci é, depois de Thomaz Bastos, o interlocutor mais freqüente de Dirceu. Falam-se pelo telefone e pessoalmente. A ambos o ex-ministro diz que, além de se colocar profissionalmente, tentará manter algum tipo de militância política, mesmo sem mandato.
Logo depois da cassação, da qual nem ele próprio mais duvida, Dirceu pretende isolar-se numa praia. "Estou moído. Preciso descansar." Em seguida, começará a preparar sua mudança para os Estados Unidos.
Dirceu recebeu e aceitou a oferta de uma bolsa de seis meses na prestigiosa universidade de Harvard. Nesse período, quer estudar, aprender a língua inglesa, fazer contatos e proferir palestras, pelas quais espera receber algum dinheiro. Só depois, já de volta ao Brasil, vai tomar a decisão final em relação ao seu futuro profissional. A nenhum amigo Dirceu mencionou a intenção de solicitar à Câmara aposentadoria proporcional ao seu tempo de mandato parlamentar. O que não significa que não possa vir a pedir.
"Aparelho"
Antes, o ex-chefe da Casa Civil espera resistir por mais algum tempo no "aparelho". É assim, com esse vocábulo que evoca os locais de reunião da esquerda clandestina sob a ditadura, que o advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima, se refere ao escritório onde discutem as estratégias jurídicas. Otimista, Oliveira Lima acha que o "aparelho" está longe de ser "derrubado".
Neste final de semana, o advogado Oliveira Lima estoca munição. Prepara dois novos recursos que pretende protocolar no STF. Num deles, pedirá de novo a extinção do processo contra Dirceu. Noutro, tentará anular a reunião que o Conselho de Ética planeja realizar nesta segunda-feira.
Se o advogado fracassar, o "aparelho" de Dirceu será, finalmente, estourado. Cassado, o ex-ministro amargará o seu segundo ciclo de clandestinidade. No primeiro, fugia da ditadura. Neste outro, será expulso da democracia. Só poderá voltar a concorrer a cargo eletivo em 2014. Talvez seja tarde demais para que Dirceu refaça o seu futuro na política.
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