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31/10/2005 - 09h33

Planalto esboça plano para "guerra" contra oposição

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Se a oposição insistir em usar a acusação de que Cuba contribuiu para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, o governo vai partir para o confronto.

Quem falou com Lula no final de semana encontrou um presidente contrariado e disposto a referendar uma guerra contra a oposição e setores da mídia.

O presidente acha que a oposição viu que após meses de investigação não encontrou nada de concreto contra ele e tenta agora criar um clima para seu impeachment ou seu eventual afastamento voluntário da sucessão de 2006.

Nas conversas reservadas, Lula disse que, se a oposição levar a sério a tese de impeachment, ele poderia seguir a linha do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que dividiu o país ao meio ao partir para uma luta direta contra a mídia e a oposição de seu país, que tentou, sem sucesso, tirá-lo definitivamente do poder com um golpe, em abril de 2002.

Na avaliação do Palácio do Planalto, se a oposição voltar a entoar o discurso de impeachment de Lula para valer, o presidente e o PT teriam duas saídas:

1) bater duro no caso Eduardo Azeredo, senador tucano que quando candidato ao governo de Minas recebeu recursos de Marcos Valério por meio de caixa dois. A tentativa é mostrar que o mensalão teria origem no PSDB;

2) ressuscitar suspeitas de corrupção da gestão FHC que o PT deixou de lado na transição de governo com o PSDB em 2002. Relatórios do período de transição permanecem inéditos até hoje por ordem de Lula, que, à época, preferiu não investigar eventuais suspeitas de corrupção para evitar que a economia sofresse. Quando Lula assumiu, havia risco de volta de forte processo inflacionário e desconfiança dos investidores no novo governo.

As informações de como o governo pode partir para um confronto mais duro com a oposição foram transmitidas à Folha por dois interlocutores de Lula que falaram com ele no final de semana.

Eles comentaram possíveis efeitos políticos da reportagem da revista "Veja" que acusa a campanha de Lula de ter recebido clandestinamente ou US$ 1,4 milhão ou US$ 3 milhões de Cuba.

A reação do governo às denúncias será o tema principal da reunião de coordenação, hoje, no Planalto. Segundo um assessor do presidente, o governo estuda duas possibilidades de investigação.

A primeira, caso a avaliação dos ministros seja de que dificilmente surgirão provas concretas para agravar a crise, seria deixar o PT investigar as denúncias.

Caso a avaliação seja de que a repercussão é perigosa e ameaça envolver o Planalto, a opção do governo deverá ser a de acionar a Polícia Federal nas investigações.

"Linha dura"

À Folha um auxiliar direto de Lula afirmou que a oposição, embora não envolvida com a denúncia, vai querer tirar proveito para enfraquecer o governo. Disse ainda que a "linha dura" venceu.

"Linha dura" é o nome de um grupo de auxiliares do presidente e de membros da cúpula do PT que preferem partir para a guerra com a oposição a tentar algum tipo de entendimento que melhore o clima entre os dois lados.

Nesse grupo, estão os ministros Luiz Marinho (Trabalho), muito amigo do presidente, Dilma Roussef, que tem sido durona na Casa Civil até com colegas de governo, Luiz Dulci (Secretaria Geral), que acha que a oposição infla artificialmente a crise, e membros da cúpula do PT, como o presidente do partido, Ricardo Berzoini, e seu antecessor, Tarso Genro.

Esse grupo "linha dura" vem defendendo uma ação ofensiva do governo e do PT. Até a semana passada, essa ala era confrontada pelos ministros Palocci, Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Jaques Wagner (Relações Institucionais).

Wagner deu entrevista à Folha na última quinta, publicada ontem, defendendo um acordo com a oposição para pôr fim ao que chamou de "guerra fratricida" entre PT e PSDB no Congresso.

O articulador político disse que deveria haver acordo para encerrar as investigações das três CPIs do Congresso até 15 de dezembro e encaminhar tudo o que foi apurado à Justiça, ao Ministério Público e à Polícia Federal.

A posição de Wagner refletia o resultado de uma conversa com Lula na qual ele avaliava que seria melhor tentar diminuir a intensidade da guerra política com a oposição, já que acabar com essa animosidade é praticamente impossível em virtude da antecipação do debate sucessório.

Wagner e Lula avaliaram que a nova Executiva do PT estava adotando uma linha muito dura e que só estimularia o conflito. O ministro chegou a telefonar para o senador Azeredo a fim de dizer que o governo não tinha interesse em dificultar sua vida por causa da revelação de que recebeu R$ 700 mil de Marcos Valério.

No meio da conversa, Azeredo passou o telefone ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que ouviu de Wagner a ponderação de que PT e PSDB tinham elementos comuns na sua origem que recomendavam evitar uma guerra de destruição mútua.

Nas reuniões internas de governo, em maior ou menor grau, Wagner, Palocci e Thomaz Bastos sempre argumentaram que não interessava a Lula e ao PT criar um clima de guerra tão longe da sucessão presidencial de outubro do ano que vem.

No entanto, parecem ter sido vencidos pelos fatos e circunstâncias neste final de semana.

Para complicar, o publicitário Marcos Valério vem chantageando o governo. Ameaçou envolver até Lula em lobby fracassado no Banco Central para tentar receber parte dos R$ 55 milhões que diz ter emprestado ao PT e que são confirmados pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.

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