Publicidade
Publicidade
06/11/2005
-
09h49
MARIO CESAR CARVALHO
CATIA SEABRA
da Folha de S.Paulo
O empresário Roberto Colnaghi, que emprestou em julho de 2002 o avião no qual o PT teria transportado dólares recebidos de Cuba, deu caronas em seu jatinho a Antonio Palocci quando o petista já era ministro da Fazenda. Uma das vezes em que o ministro usou o jatinho de Colnaghi foi em 2 de maio de 2004, após visitar a Agrishow, a feira de agronegócios realizada em Ribeirão Preto.
Empresários que receberam Palocci na cidade lembram que o ministro circulou com Colnaghi numa recepção realizada no JP, um hotel que fica nas margens da rodovia Anhangüera e é um dos preferidos dos ruralistas.
Ao ser questionado pela reportagem da Folha sobre a carona dada a Palocci após o Agrishow, Colnaghi não negou a informação. Informou, por meio de sua assessoria, que não tinha "nada a declarar". A assessoria do ministro da Fazenda foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.
Após a feira, o jatinho Citation, prefixo PT-XAC, saiu de Ribeirão Preto, fez uma escala em São Paulo e depois rumou para Brasília. Três testemunhas que viram Palocci embarcar no jatinho confirmaram a história para a reportagem da Folha. Todas elas só aceitaram conversar sobre o caso com a condição de que os seus nomes não fossem citados --temem eventuais retaliações do PT e do ministro da Fazenda. O Citation de Colnaghi também transportou a família de Palocci a Brasília para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003.
Em outra carona que Palocci pegou no jatinho, em 2003, assessores do ministro abasteceram a avião com frutas e salgadinhos e perguntaram até se tinha aparelho de microondas para esquentar a comida. Não tinha.
O ministro costumava viajar sozinho e sem bagagem. Ficava calado a maior parte do tempo. Quando falava, o mais comum era pedir permissão para fumar. Recebia um "não" como resposta.
Tinha pressa. Numa delas, em 2003, Palocci saiu de Brasília, voou para Ribeirão Preto e voltou para Brasília no mesmo dia.
Durante a campanha de Lula, em 2002, Palocci era um usuário ainda mais freqüente do jatinho. A ponto de Colnaghi deixar o avião no aeroporto de Ribeirão, no hangar da Power Helicópteros.
Numa das viagens à época da campanha, o jatinho foi usado para buscar Palocci e o deputado federal José Dirceu, então presidente do PT, no Rio de Janeiro. Os dois chegaram às 22h30 em Congonhas, frustrando expectativa de Dirceu de ir a outro destino ainda naquela noite.
Colnaghi tem dois aviões: o Seneca (prefixo PT-RSX), que teria sido usado para transportar os dólares de Brasília para São Paulo, e o Citation, o jatinho que costumava ceder a Palocci.
República de Ribeirão
O empresário vive numa casa de alto padrão no centro de Penápolis (491 km a noroeste de São Paulo), onde tem uma empresa de equipamentos de irrigação. Mas costuma passar parte da semana na Bahia, na filial da empresa.
Na semana passada, "Beto" --como é chamado-- teria telefonado a Palocci para consultá-lo sobre como reagir ao assédio dos jornalistas após a denúncia de transporte de dólares saídos de Cuba para a campanha de Lula.
Ele e o irmão, Francisco Carlos Jorge Colnaghi, são integrantes da que já foi chamada de "república de Ribeirão Preto" --apelido do grupo que orbita em torno de Palocci depois que ele foi designado ministro da Fazenda.
O grupo tinha tanta expectativa que a proximidade com Palocci renderia bons negócios que alugou uma casa em Brasília para realizar reuniões e churrascos.
O economista Vladimir Poleto, que trabalhou para Palocci em sua segunda passagem pela prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002), foi quem cuidou do aluguel da casa. Adiantou R$ 60 mil, entregues em pacotes de notas, por seis meses de aluguel. Em entrevista à revista "Veja", Poleto contou que havia transportado US$ 1,4 milhão no avião emprestado por Colnaghi e depois negou a informação.
Ralf Barquete, assessor de Palocci que teria coordenado a operação de transporte dos dólares cubanos, também freqüentava a casa de Brasília. Ele morreu de câncer no ano passado.
Colnaghi, o dono dos aviões Seneca e Citation cedidos ao PT, também passava por lá quando estava em Brasília. O advogado Rogério Buratti, que confirmou para a "Veja" ter tomado conhecimento da operação com os dólares de Cuba, usava tanto a casa que deputados chegaram a acusá-lo de ser o locatário do imóvel. Não era. Poleto fizera o negócio.
Colnaghi, Buratti, Poleto e Barquete têm algo mais em comum do que os sobrenomes italianos, típicos de uma região que recebeu esses imigrantes no final do século 19. Aproveitaram a proximidade com Palocci para tentar fazer negócios. Segundo fontes do mercado, tentaram, por exemplo, beneficiar um banco chamado Prosper, onde Poleto trabalhou.
Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, do Painel
Especial
Leia a cobertura completa sobre a crise em Brasília
Palocci viajou em jatinho emprestado por empresário
Publicidade
CATIA SEABRA
da Folha de S.Paulo
O empresário Roberto Colnaghi, que emprestou em julho de 2002 o avião no qual o PT teria transportado dólares recebidos de Cuba, deu caronas em seu jatinho a Antonio Palocci quando o petista já era ministro da Fazenda. Uma das vezes em que o ministro usou o jatinho de Colnaghi foi em 2 de maio de 2004, após visitar a Agrishow, a feira de agronegócios realizada em Ribeirão Preto.
Empresários que receberam Palocci na cidade lembram que o ministro circulou com Colnaghi numa recepção realizada no JP, um hotel que fica nas margens da rodovia Anhangüera e é um dos preferidos dos ruralistas.
Ao ser questionado pela reportagem da Folha sobre a carona dada a Palocci após o Agrishow, Colnaghi não negou a informação. Informou, por meio de sua assessoria, que não tinha "nada a declarar". A assessoria do ministro da Fazenda foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.
Após a feira, o jatinho Citation, prefixo PT-XAC, saiu de Ribeirão Preto, fez uma escala em São Paulo e depois rumou para Brasília. Três testemunhas que viram Palocci embarcar no jatinho confirmaram a história para a reportagem da Folha. Todas elas só aceitaram conversar sobre o caso com a condição de que os seus nomes não fossem citados --temem eventuais retaliações do PT e do ministro da Fazenda. O Citation de Colnaghi também transportou a família de Palocci a Brasília para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003.
Em outra carona que Palocci pegou no jatinho, em 2003, assessores do ministro abasteceram a avião com frutas e salgadinhos e perguntaram até se tinha aparelho de microondas para esquentar a comida. Não tinha.
O ministro costumava viajar sozinho e sem bagagem. Ficava calado a maior parte do tempo. Quando falava, o mais comum era pedir permissão para fumar. Recebia um "não" como resposta.
Tinha pressa. Numa delas, em 2003, Palocci saiu de Brasília, voou para Ribeirão Preto e voltou para Brasília no mesmo dia.
Durante a campanha de Lula, em 2002, Palocci era um usuário ainda mais freqüente do jatinho. A ponto de Colnaghi deixar o avião no aeroporto de Ribeirão, no hangar da Power Helicópteros.
Numa das viagens à época da campanha, o jatinho foi usado para buscar Palocci e o deputado federal José Dirceu, então presidente do PT, no Rio de Janeiro. Os dois chegaram às 22h30 em Congonhas, frustrando expectativa de Dirceu de ir a outro destino ainda naquela noite.
Colnaghi tem dois aviões: o Seneca (prefixo PT-RSX), que teria sido usado para transportar os dólares de Brasília para São Paulo, e o Citation, o jatinho que costumava ceder a Palocci.
República de Ribeirão
O empresário vive numa casa de alto padrão no centro de Penápolis (491 km a noroeste de São Paulo), onde tem uma empresa de equipamentos de irrigação. Mas costuma passar parte da semana na Bahia, na filial da empresa.
Na semana passada, "Beto" --como é chamado-- teria telefonado a Palocci para consultá-lo sobre como reagir ao assédio dos jornalistas após a denúncia de transporte de dólares saídos de Cuba para a campanha de Lula.
Ele e o irmão, Francisco Carlos Jorge Colnaghi, são integrantes da que já foi chamada de "república de Ribeirão Preto" --apelido do grupo que orbita em torno de Palocci depois que ele foi designado ministro da Fazenda.
O grupo tinha tanta expectativa que a proximidade com Palocci renderia bons negócios que alugou uma casa em Brasília para realizar reuniões e churrascos.
O economista Vladimir Poleto, que trabalhou para Palocci em sua segunda passagem pela prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002), foi quem cuidou do aluguel da casa. Adiantou R$ 60 mil, entregues em pacotes de notas, por seis meses de aluguel. Em entrevista à revista "Veja", Poleto contou que havia transportado US$ 1,4 milhão no avião emprestado por Colnaghi e depois negou a informação.
Ralf Barquete, assessor de Palocci que teria coordenado a operação de transporte dos dólares cubanos, também freqüentava a casa de Brasília. Ele morreu de câncer no ano passado.
Colnaghi, o dono dos aviões Seneca e Citation cedidos ao PT, também passava por lá quando estava em Brasília. O advogado Rogério Buratti, que confirmou para a "Veja" ter tomado conhecimento da operação com os dólares de Cuba, usava tanto a casa que deputados chegaram a acusá-lo de ser o locatário do imóvel. Não era. Poleto fizera o negócio.
Colnaghi, Buratti, Poleto e Barquete têm algo mais em comum do que os sobrenomes italianos, típicos de uma região que recebeu esses imigrantes no final do século 19. Aproveitaram a proximidade com Palocci para tentar fazer negócios. Segundo fontes do mercado, tentaram, por exemplo, beneficiar um banco chamado Prosper, onde Poleto trabalhou.
Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, do Painel
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice