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11/11/2005 - 09h01

Lula adverte Dilma e Palocci; tensão no governo permanece

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

"Não se discute economia pelos jornais. Não quero trombada pelos jornais. O governo nessa hora [de crise política] tem de ter uma posição de unidade." Com essas palavras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou enquadrar ontem de manhã, em reunião na Granja do Torto, os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil), que travam duelo econômico.

A reprimenda aconteceu a pedido de Palocci, que anteontem reclamou diretamente com Lula de críticas de Dilma à política econômica. Ele chegou a dizer que os fatos da crise política poderiam levá-lo a deixar o governo e que Dilma o enfraquecera num momento em que ele estava frágil e sob fogo cerrado da oposição.

Anteontem e ontem, Palocci avaliou a possibilidade de sair. "Não sei se estou mais ajudando o país [ficando no cargo]", disse o ministro a Lula. O presidente, porém, afastou essa possibilidade. E falou com Dilma ontem na presença do ministro para que seu recado servisse aos dois.

O gesto de Lula, feito a portas fechadas, foi visto por setores do próprio governo como insuficiente diante da gravidade da situação. E dificilmente bastará para conter os ânimos de lado a lado.

Segundo um membro da cúpula do governo, o presidente acha que Palocci é mais hábil do que Dilma e faz chegar à imprensa versões desfavoráveis à ministra da Casa Civil. Lula queria deixar claro para ela que não aprovava seus ataques a Palocci, mas que também sabia que o ministro da Fazenda se defendia dos adversários no governo pela imprensa.

Na hora da advertência a Dilma e Palocci, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) participava da reunião com Lula. Depois, entraram na sala o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o presidente do PT, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP). Ao todo, a reunião durou pouco mais de duas horas, e foi convocada por Lula.

Contraponto

Desde o início do governo, a Casa Civil tem servido de contraponto à Fazenda. Dilma assumiu que faz "contraponto" a Palocci em conversa com a Folha na semana passada e criticou o ministro em entrevista ao "Estado de S.Paulo", publicada anteontem.

Lula e auxiliares avaliam que Dilma não tem o traquejo político de Palocci e exagera nos debates. Ela, por exemplo, adota tom duro com colegas de ministério. Lula acha que é seu estilo --e até gosta dele. Não deseja, porém, que as palavras da ministra venham a público. Acha que isso, indiretamente, mina a sua autoridade e desgasta ainda mais o governo.

"Não quero isso. Não quero isso", repetiu Lula ontem, referindo-se à troca de críticas entre membros do governo.

Na entrevista de anteontem, Dilma classificou de "rudimentar" proposta de ajuste fiscal de longo prazo capitaneada pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento), com o apoio de Palocci. E disse que o país deveria reduzir os juros "para sair do atoleiro". Afirmou que os juros altos minimizam o efeito da política fiscal (corte de gastos) e "enxuga gelo", pois não há diminuição significativa da dívida pública.

Palocci entendeu a entrevista como tentativa de desautorizá-lo. E falou diretamente com Dilma anteontem de manhã. Ela recuou e chegou a falar até com Bernardo --que não estava na Granja do Torto ontem cedo.

Mercadante disse que o governo deve "tomar cuidado com o debate econômico nesta hora [de crise]". Segundo ele, "há um setor da oposição que deseja desestabilizar Palocci". E afirmou ser "permanente" o debate no país entre "desenvolvimentismo e racionalidade econômica".

Lula cancelou viagens que faria hoje à Bahia e ao Espírito Santo porque surgiu um desentendimento entre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o grupo Suzano, na Bahia. O MST invadiu área na qual a Suzano tem florestas para fabricar celulose. Lula, que já inaugurou uma fábrica da Suzano na região, visitaria o grupo para ver o local de uma nova planta.

Para não melindrar o aliado MST, preferiu aguardar tentativa de acordo entre o movimento e a Suzano. Como iria ao Espírito Santo para um evento da Petrobras, cancelou as duas viagens.

Especial
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