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13/11/2005 - 09h40

CPI do "fim do mundo" inferniza o Planalto

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SILVIO NAVARRO
da Agência Folha, em Brasília
LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Rotulada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 'fim do mundo' e controlada pela oposição no Senado, a CPI dos Bingos abriu a sétima frente de apuração ao entrar no "caso Cuba" e tem agora o ministro Antonio Palocci (Fazenda) como um dos focos.

O ministro, inclusive, pode ser convocado pela CPI caso os senadores entendam que as explicações dele à Comissão de Assuntos Econômicos não
sejam suficientes. A audiência está marcada para o próximo dia 22.

A investigação do suposto repasse de dólares cubanos para a campanha do PT em 2002 ocupa a CPI junto com, por exemplo, as apurações ligadas à morte dos prefeitos Celso Daniel (Santo André) e Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, em Campinas --temas considerados ácidos para o PT e para o governo Lula.

Nenhum deles, porém, está diretamente ligado a contratos e funcionamento de jogos de bingo, tema embrionário da comissão. Desde que foi criada, em junho, a CPI não ouviu, por exemplo, nenhum dono de bingo.

Diz o texto que estabelece a função da CPI: "Investigar e apurar a utilização das casas de bingo para a prática de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, bem como a relação dessas casas e das empresas concessionárias de apostas com o crime organizado".

Nas últimas semanas, os depoimentos da comissão foram relacionados aos casos Toninho, Celso Daniel e Cuba, sendo que este último agora passou a ter conexão com o universo dos bingos.

Para esta semana, está previsto o depoimento do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo do presidente Lula. Okamotto diz ter pago em espécie um empréstimo no valor de R$ 29,4 mil em nome do presidente Lula com o PT. A oposição desconfia que a dívida pode ter sido quitada com dinheiro do chamado "valerioduto".

Planalto irritado

O leque de frentes de investigação contra o governo e o PT já chegou a irritar o Palácio do Planalto, que ameaçou questionar os procedimentos da comissão no STF (Supremo Tribunal Federal) no mês passado, quando houve ampliação do prazo de término para abril de 2006.

A CPI ainda não ouviu nenhum proprietário de casa de bingo ou associação do setor, mas alguns deles são freqüentemente citados nos depoimentos, como os presidentes da Abrabin (Associação Brasileira de Bingos), Olavo Sales da Silveira, e da Associação dos Bingos do Rio de Janeiro, José Renato Granado. Outros chegaram a ser convocados, mas nunca foram chamados para depor, entre eles os donos de bingos Carlos Martins (ligado ao empresário Carlos Cachoeira), Alejandro Viveiros Ortiz e Johnny Ortiz.

"Aquilo que informávamos aconteceu: a CPI perdeu o objetivo e não age por fato. Tornou-se um foco de reação da oposição, já que as outras CPIs não andam bem. Estamos na fase mais irracional, é uma guerra para destruir e não para vencer", afirmou Tião Viana (PT-AC), voz quase solitária em defesa do governo na CPI.

O relator da comissão, Garibaldi Alves (PMDB-RN), também se queixa da dispersão do foco. "Pode dificultar. A CPI tem procurado apurar, mas não deixou de haver dispersão. Por isso quero me reunir com o senador Efraim [Morais, PFL-PB] para procurar condensar as coisas, se não haverá dificuldade para o relatório."

O presidente da CPI, Efraim Morais, rebate: "Vamos manter a mesma linha porque todos os assuntos envolvem jogos, inclusive o caso Celso Daniel, como se comprovou". O senador José Jorge (PFL-PE) também defendeu na última semana o argumento de que, por meio desses casos, a CPI chegará a esquemas de corrupção em prefeituras envolvendo não só casas de bingo, como empresas de lixo e de transportes.

"Fomos acusados de sermos a CPI do fim do mundo, mas estamos investigando coisas certas", chegou a dizer o senador na última quinta-feira durante o depoimento do advogado Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão.

O "caso Cuba", surgido em reportagem da revista "Veja", ganhou força nesse mesmo dia com o turbulento depoimento de Vladimir Poleto, também ex-assessor de Palocci. Ele caiu em contradição várias vezes, o que levou senadores a pedirem sua prisão por falso testemunho, mas Poleto tinha um habeas corpus.

"O que era uma fantasia ridícula começou a ganhar argumento com o depoimento daquele cidadão [Poleto], desmentido por ele mesmo. Atingiu o ministro Palocci, embora ele diga que nunca esteve com o ministro", afirmou Tião Viana.

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