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15/12/2005
-
09h54
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo
Na condição de presidente interino da República e em tom de desabafo poucas vezes visto, o vice-presidente José Alencar (PRB) voltou ontem a atacar a condução econômica do país. Desta vez, rotulou de "crime" a política de juros e culpou indiretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo controle monetário que teria resultado na queda do PIB (Produto Interno Bruto).
"Nunca houve uma palavra minha contra o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central, que regula os juros]. O Copom é um órgão eminentemente técnico. A única coisa que eu falo é que a decisão não é técnica, é política. Por quê? Porque, por princípio, responsabilidade não se transfere. Você pode delegar autoridade a um ministro e ao Copom, mas não lhes transfere a responsabilidade pelos resultados."
Com o dedo em riste e socando a mesa, Alencar ainda ameaçou ser candidato em 2006, sem especificar a qual cargo. "Os patifes não me farão correr. Se for preciso, eu serei candidato. Se eu for chamado, eu serei candidato. Jamais serei candidato por eu mesmo. Isso não. Eu não posso, porque eu tenho 74 anos de trabalho ininterrupto e honesto, e na minha empresa nunca entrou um quilo de algodão sem nota e nunca saiu um metro de pano sem nota", afirmou.
Alencar, também ministro da Defesa, respondeu por cinco horas a perguntas na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, ao lado dos comandantes das Forças Armadas.
Ao final da sessão, pediu desculpas aos presentes e respondeu à reportagem de "Veja", que, com o título "Um vice cara-de-pau", afirmou, no final de semana passado, que sua empresa recebeu um empréstimo do governo federal, com juros favorecidos.
"Cara-de-pau e muito cômodo para mim, como vice-presidente, seria ficar ao lado da política monetária praticada há muitos anos no Brasil. Porque ela me favorece e quebra os meus concorrentes. Como tem quebrado e quebrado muitos", afirmou o presidente interino, que, a seguir, sugeriu mais uma vez que querem censurar suas críticas à economia.
"Porque ali [na reportagem] tem o dedo de quem não quer que eu fale de juros (...) Tenho que continuar falando mal desses juros que estão matando a economia, que por essa razão não há recursos para as Forças Armadas brasileiras, não há recursos para saneamento, para educação."
Recém-filiado ao PRB (partido ligado à Igreja Universal), Alencar tem evitado falar sobre eleições, mesmo que seja para ser de novo vice na chapa de Lula. O governo de Minas é sua outra aspiração, mesmo ciente que Aécio Neves (PSDB) deve disputar a reeleição.
As críticas de Alencar ao atual modelo da economia surgiram depois que, por algumas horas, ouviu reclamações dos comandantes das Forças Armadas de falta de recursos.
O comandante da Marinha, almirante Roberto Guimarães Carvalho, por exemplo, falou do "estado vegetativo" e "estagnado" dos projetos de enriquecimento de urânio. Já o general Francisco Roberto Albuquerque (Exército) admitiu que o atual efetivo da Força é "insuficiente" para a defesa do país.
Alencar lamentou a falta de recursos aos militares e, ao justificá-la, atacou a política de juros como opção do governo para conter a inflação e a classificou como um "crime". "Esse instrumento é danoso para a nossa economia. É responsável pelo fato de estarmos gritando aqui ou nas casas onde não há pão. E precisamos crescer e reduzir esses juros a um patamar de padrão internacional. Estamos pagando dez vezes a taxa média básica real do mundo. Dez vezes. Isso é um crime."
A crítica indireta de Alencar ao presidente veio em sua última fala na sessão, ao ser provocado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que o lembrou das poucas horas que faltavam para a decisão de mais uma reunião do Copom.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre José Alencar
Alencar eleva o tom e diz que os juros são "crime"
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da Folha de S.Paulo
Na condição de presidente interino da República e em tom de desabafo poucas vezes visto, o vice-presidente José Alencar (PRB) voltou ontem a atacar a condução econômica do país. Desta vez, rotulou de "crime" a política de juros e culpou indiretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo controle monetário que teria resultado na queda do PIB (Produto Interno Bruto).
"Nunca houve uma palavra minha contra o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central, que regula os juros]. O Copom é um órgão eminentemente técnico. A única coisa que eu falo é que a decisão não é técnica, é política. Por quê? Porque, por princípio, responsabilidade não se transfere. Você pode delegar autoridade a um ministro e ao Copom, mas não lhes transfere a responsabilidade pelos resultados."
Com o dedo em riste e socando a mesa, Alencar ainda ameaçou ser candidato em 2006, sem especificar a qual cargo. "Os patifes não me farão correr. Se for preciso, eu serei candidato. Se eu for chamado, eu serei candidato. Jamais serei candidato por eu mesmo. Isso não. Eu não posso, porque eu tenho 74 anos de trabalho ininterrupto e honesto, e na minha empresa nunca entrou um quilo de algodão sem nota e nunca saiu um metro de pano sem nota", afirmou.
Alencar, também ministro da Defesa, respondeu por cinco horas a perguntas na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, ao lado dos comandantes das Forças Armadas.
Ao final da sessão, pediu desculpas aos presentes e respondeu à reportagem de "Veja", que, com o título "Um vice cara-de-pau", afirmou, no final de semana passado, que sua empresa recebeu um empréstimo do governo federal, com juros favorecidos.
"Cara-de-pau e muito cômodo para mim, como vice-presidente, seria ficar ao lado da política monetária praticada há muitos anos no Brasil. Porque ela me favorece e quebra os meus concorrentes. Como tem quebrado e quebrado muitos", afirmou o presidente interino, que, a seguir, sugeriu mais uma vez que querem censurar suas críticas à economia.
"Porque ali [na reportagem] tem o dedo de quem não quer que eu fale de juros (...) Tenho que continuar falando mal desses juros que estão matando a economia, que por essa razão não há recursos para as Forças Armadas brasileiras, não há recursos para saneamento, para educação."
Recém-filiado ao PRB (partido ligado à Igreja Universal), Alencar tem evitado falar sobre eleições, mesmo que seja para ser de novo vice na chapa de Lula. O governo de Minas é sua outra aspiração, mesmo ciente que Aécio Neves (PSDB) deve disputar a reeleição.
As críticas de Alencar ao atual modelo da economia surgiram depois que, por algumas horas, ouviu reclamações dos comandantes das Forças Armadas de falta de recursos.
O comandante da Marinha, almirante Roberto Guimarães Carvalho, por exemplo, falou do "estado vegetativo" e "estagnado" dos projetos de enriquecimento de urânio. Já o general Francisco Roberto Albuquerque (Exército) admitiu que o atual efetivo da Força é "insuficiente" para a defesa do país.
Alencar lamentou a falta de recursos aos militares e, ao justificá-la, atacou a política de juros como opção do governo para conter a inflação e a classificou como um "crime". "Esse instrumento é danoso para a nossa economia. É responsável pelo fato de estarmos gritando aqui ou nas casas onde não há pão. E precisamos crescer e reduzir esses juros a um patamar de padrão internacional. Estamos pagando dez vezes a taxa média básica real do mundo. Dez vezes. Isso é um crime."
A crítica indireta de Alencar ao presidente veio em sua última fala na sessão, ao ser provocado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que o lembrou das poucas horas que faltavam para a decisão de mais uma reunião do Copom.
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