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30/01/2006 - 09h36

"Bolhas" não explodem neste ano

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CLÓVIS ROSSI
da Folha de S.Paulo

Nem Stephen Roach, o economista-chefe do grupo financeiro Morgan Stanley e Cassandra eternamente de plantão, que, ano após ano, prevê algum colapso na economia mundial ou norte-americana, conseguiu aterrorizar alguém nos debates de que participou durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

Roach é usualmente convincente porque ampara sua retórica tremendista em números assustadores. Os números continuam presentes. Exemplo: a formidável diferença de evolução da conta corrente dos EUA e da China. É a medida de todas as transações de um país com o resto do mundo.

A curva dos EUA aponta para baixo e atingiu, em 2005, o equivalente a 6% do PIB (medida da renda de uma nação). A chinesa sobe sem parar e estava, no mesmo ano, em 8% do PIB.

É o que os economistas chamam de "desequilíbrios" na economia global que, supostamente, não podem perdurar. Nem os EUA podem gastar indefinidamente mais do que recebem do resto do mundo nem os chineses podem fazer o percurso inverso.

Ou podem? Jacob Frenkel, com a experiência de ter chefiado o Banco Central israelense, ex-membro do conselho de reitores da Escola Kennedy da mitológica universidade Harvard, hoje no grupo financeiro AIG, não diz diretamente que sim, pode, mas deixa aberta essa possibilidade.

"A economia norte-americana é robusta, altamente competitiva e mais capaz de absorver choques econômicos do que assumíamos como base de raciocínio no passado", diz Frenkel. Ou, posto de outra forma, não está no horizonte, pelo menos não no de 2006, a correção desse desequilíbrio.

Há outro, mais portentoso talvez e menos presente no noticiário: a bolha de preços de imóveis em quase todos os países do mundo. Essa bolha, somada à do mercado de ações (que muita gente já nem chama de bolha porque parece ter vindo para ficar), é a grande responsável pelo fantástico consumo dos norte-americanos, uma das duas grandes máquinas de propulsão do crescimento global, (a outra é a China).

"O valor total das propriedades residenciais nas economias desenvolvidas aumentou mais de US$ 30 trilhões nos últimos cinco anos, um aumento equivalente a 100% da renda nacional somada desses países", escreve Pam Woodall, editora econômica da revista britânica "The Economist".

Mais: o aumento nos preços não foi decorrente de uma proporcional subida no rendimento dos consumidores. Roach diz que, ao menos nos EUA, criou-se "um poder de compra artificial", já que os salários reais "estão estagnados e a taxa de emprego é débil".

É a repetição do que o jargão chama de efeito riqueza, ocorrido anos atrás com ações. O cidadão não tem de fato riqueza, mas vai hipotecando seu imóvel, que vai subindo de preço, e sente-se confortável para consumir. "Nunca foi tão fácil levantar dinheiro", confirma Barry Sternlicht, presidente do Starwood Capital Group, a maior cadeia hoteleira do planeta (grupo Sheraton), com mais de 700 hotéis em 80 países.

Eis porque a nuvem que a maioria dos economistas aponta no horizonte, mas não para 2006, é a alta dos juros norte-americanos. Com a elevação, fica mais difícil pagar empréstimos destinados à compra de imóveis, cai o apetite para o consumo e pode instalar-se, no limite, uma recessão.

Mas ninguém, pelo menos nos debates de Davos, ousou dizer que os juros norte-americanos subirão de maneira acentuada ou abrupta. Logo, não há expectativa de rompimento da bolha imobiliária. Ou de qualquer outra, ao menos em 2006. Mas, cuidado: os economistas de Davos abriram o encontro-2006 reconhecendo que erraram em praticamente todos os palpites dados no ano anterior.

Especial
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