Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/01/2006 - 10h22

Fórum Social Mundial acaba rachado e critica Brasil

Publicidade

RAFAEL CARIELLO
Enviado especial da Folha a Caracas

O 6º Fórum Social Mundial em Caracas, na Venezuela, terminou ontem com críticas ao Brasil no seu documento mais importante e com uma confusão total entre sociedade civil e governo, o que vai contra a intenção original do fórum de separação nítida entre as duas esferas.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, utilizou politicamente o evento, transformando-o em uma festa oficial. Ontem à noite, após o encerramento do encontro, representantes de diversos movimentos sociais reuniram-se com Chávez num prédio do governo e sob a bandeira do fórum.

Eles apresentaram ao presidente venezuelano cada uma de suas decisões e avaliações. O encontro foi transmitido pela TV estatal venezuelana.

O texto final da Assembléia dos Movimentos Sociais, que critica medidas do governo brasileiro, não é uma declaração oficial do encontro, mas representa a posição política de seus participantes mais importantes, que planejam uma série de manifestações simultâneas e coordenadas no mundo todo em 2006.

Nesse documento, os movimentos sociais acusam o Brasil e a Índia de terem jogado "um papel decisivo" na Organização Mundial de Comércio, fortalecendo-a ao assumir trabalhar dentro dela, com a criação do G-20, "na sua opção para conquistar um posto de poder" na organização.

Também exige "a retirada das tropas estrangeiras do Haiti". A missão da ONU (Organização das Nações Unidas) naquele país é liderada pelo Brasil. O texto também chama manifestações e campanhas contra a ocupação do Iraque e pela saída dos EUA de todas as suas bases militares no mundo.

A síntese do que representou o fórum na Venezuela aconteceu ontem, quando Chávez, em seu programa de TV semanal, transformou o evento no assunto principal da transmissão e saudou os convidados participantes do fórum presentes para a gravação, num centro cultural na periferia de Caracas. Ele ainda pregou a "derrubada do império americano" e disse que os Estados Unidos planejam atacar seu país.

Os dois representantes da "cúpula" do fórum que participaram do programa, o jornalista Ignacio Ramonet e o pensador marxista Samir Amin, pertencem ao grupo de esquerda mais tradicional que propõe que o evento se torne menos um espaço de encontro e discussões, aglutinador de diversidades, --que por definição não apresenta documento final--, para que ele se torne mais propositivo e centralizado.

Chávez e este grupo conversaram entre si, combinaram atuações, e deram ao fórum um caráter de esquerda mais tradicional, antiimperialista, distante da concepção de integrantes de primeira hora, como o seu idealizador brasileiro Oded Grajew.

Na principal participação do venezuelano, na sexta-feira, ele apoiou idéias lançadas pelo grupo na etapa africana --realizada no Mali-- do fórum, uma semana antes de Caracas.

Anti-EUA

Chávez defendeu a criação, proposta pelo grupo, de uma frente internacional de governos de esquerda e movimentos sociais contra os EUA --o que os movimentos de certa forma ratificaram ontem-- e pregou abertamente por mais orientação e posicionamento político do fórum.

Ao dizer em seu programa que os EUA planejam atacar a Venezuela, Chávez fez uma referência direta ao veto que os americanos tentam impor à compra de equipamento militar por seu governo, como quando bloquearam a venda de aviões da brasileira Embraer para a Venezuela. Segundo ele, os Estados Unidos querem enfraquecê-lo militarmente.

Atrasados

Um grupo de 45 estudantes e sindicalistas chegou para o fórum somente ontem. Eles chegaram de ônibus dez dias, R$ 850 por pessoa e 10 mil quilômetros depois de saírem de São Paulo.

O atraso, diz Werley Torres, 32, estudante da USP e organizador da empreitada que cruzou a América do Sul, deveu-se a um erro de cálculo.

Usando sites especializados, o grupo calculou que teria que percorrer cerca de 6.000 km até Caracas. Completada a distância, ainda estavam no Peru.

Também não levaram em conta, ele diz, a burocracia e as dificuldades de trânsito em cada país.

Voltam amanhã, via Manaus. Ficaram com medo do trecho, no Peru, em que os estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais se acidentaram. "Vocês não têm noção da quantidade de gelo que tinha na estrada."

Com agências internacionais

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Fórum Social Mundial
  • Leia a cobertura completa sobre os fóruns globais
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página