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21/02/2006 - 09h11

PF deve indiciar diretores do Rural por remessas ao exterior

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ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo

A Polícia Federal deve indiciar diretores e executivos da área de câmbio do Banco Rural por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A acusação se sustenta principalmente em remessas ilegais de dinheiro que empresas estrangeiras supostamente ligadas ao Rural fizeram para Duda Mendonça no exterior.

À CPI dos Correios o publicitário afirmou ter recebido R$ 10,5 milhões na conta Dusseldorf, em um BankBoston de Miami. A conta que mais mandou dinheiro (cerca de R$ 1,7 milhão) para a de Duda foi a Trade Link, que pertence a uma "offshore" sediada nas ilhas Cayman. Pelo menos até 1996, a Trade Link tinha diretores do Rural como pessoas credenciadas para operar sua conta bancária no Banestado de Nova York.

Ao investigar o uso do Banestado em Nova York para lavar dinheiro, a PF descobriu que a Trade Link movimentou US$ 698,4 milhões na agência, entre 1996 e 1998, conforme laudo pericial.

Dados obtidos pelo Ministério Público Federal, que busca pistas do dinheiro do Rural no exterior, revelaram que em suas contas bancárias nos bancos Wachovia e Standard Chatered a Trade Link movimentou US$ 15 bilhões.

A CPI dos Correios investiga também o envio de recursos do "valerioduto" para a "offshore" RS Administração, localizada no paraíso fiscal do Panamá, por meio da RS Empreendimentos e Participações, que tem a presidente do Rural, Katia Rabello, como principal acionista.

A 2S Participações, da qual Valério é sócio, repassou R$ 3,1 milhões para a RS Empreendimentos. Segundo o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator da CPI, depois de passar pela empresa da presidente do Rural, o dinheiro foi transferido para a "offshore" panamenha.

Empréstimos suspeitos

No inquérito do "mensalão", presidido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), também pesa contra o Rural o fato de o banco ter concedido um empréstimo de R$ 3 milhões ao PT em um negócio que foge à praxe das garantias exigidas no mercado financeiro.

O Rural aceitou como lastro para o contrato o Fundo Partidário do PT. A dívida foi rolada dez vezes e hoje está em R$ 6 milhões.

O Rural também abrigou a engenharia financeira utilizada para pagar o "mensalão" a políticos aliados ao governo petista. Parte dos pagamentos teve como fonte empréstimos de R$ 28,9 milhões (R$ 49 milhões em valores atualizados) tomados pelo publicitário Marcos Valério de Souza, apontado como o operador do esquema. As dívidas venceram, mas o banco não as executou.

Tais operações podem colocar o Rural na condição de participante do esquema do "mensalão", algo muito além, do ponto de vista jurídico, de uma instituição financeira que apenas foi utilizada pelo esquema de repasse de recursos.

"Não foi por uma mera coincidência que Valério escolheu bancos ligados ao Rural para repassar dinheiro a Duda no exterior", disse o tucano Fruet.

Para os investigadores, Valério teria usado o fácil acesso que tinha ao caixa do Rural para se aproximar do PT. Por esse caminho, a partir de 2003, ele teria transformado em nacional um esquema regional que já havia sido testado nas eleições estaduais de Minas em 1998 (na campanha de reeleição do senador tucano Eduardo Azeredo): a utilização de empréstimos do Rural como caixa para contribuições a políticos. Esse suposto caixa dois é alvo de um inquérito policial específico.

À CPI dos Correios a presidente do Rural disse que "Valério foi um facilitador para a interlocução do banco junto a várias pessoas". Ele esteve, por exemplo, várias vezes no Banco Central para tentar acelerar a liquidação do Mercantil de Pernambuco.

O Rural detém 22% do capital do Mercantil e tinha interesse em comprar o resto do banco. O negócio renderia a Valério uma comissão de milhões de reais, mas o BC negou o pedido. O Mercantil de Pernambuco está em liquidação desde 1995 e ainda hoje possui dívida de R$ 200 milhões.

Como "facilitador", Valério teria aproximado também, em 2003, o então ministro José Dirceu (Casa Civil) e a presidente do Rural. Os dois tiveram um jantar no hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte. O Rural confirmou o encontro e disse que o assunto era a liquidação do Mercantil.

Há suspeitas também de que Valério tenha cooptado o procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes, integrante do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, órgão conhecido como Conselhinho, que julga recursos de penalidades aplicadas ao mercado financeiro.

Uma das empresas de Valério depositou em maio do ano passado R$ 500 mil numa conta da qual Guedes era co-titular. Dois meses depois, o procurador deu parecer no Conselhinho favorável ao arquivamento de um processo contra o Rural aberto pelo BC. Por unanimidade, o Conselhinho seguiu o parecer do procurador. O caso está sob investigação do Ministério Público.

Banco das CPIs

A história do envolvimento do Rural com escândalos ligados a políticos e operações financeiras suspeitas tem pelo menos 15 anos e passou por seis CPIs.

Começou em 1991, quando o empresário Paulo Cesar Farias escolheu o banco para operar um esquema de clientes fantasmas cujas contas foram usadas para pagar, com dinheiro obtido de maneira ilegal, despesas do ex-presidente Fernando Collor e de sua família.

De lá para cá, o Rural foi nome recorrente nas CPIs do Orçamento, dos Títulos Públicos, do Futebol, do Narcotráfico e do Banestado. Em geral, o banco abrigava contas de suspeitos de movimentar dinheiro ilícito ou participava de operações financeiras consideradas atípicas pelas comissões.

Redução

O escândalo do "mensalão" contribuiu para uma forte redução dos negócios do Rural a partir da segunda metade de 2005.

Segundo levantamento realizado pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) a pedido da Folha, os ativos totais (recursos próprios e depósitos e investimentos de clientes) do Rural caíram de R$ 7,347 bilhões em 2004 para R$ 2,873 bilhões no penúltimo trimestre de 2005, uma queda de 61%. O balanço anual de 2005 ainda não foi publicado.

Para Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad, além do efeito do escândalo, a quebra do Banco Santos em 2004 prejudicou as instituições financeiras de médio porte, como o Rural.

Especial
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