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04/03/2006
-
09h30
MARTA SALOMON
da Folha de S.Paulo
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-superintendente administrativo da Toshiba José Antonio Csapo Talavera declarou que a empresa de origem japonesa integraria um "clube" com outras grandes empresas para dominar negócios do setor elétrico em troca do pagamento de propinas a dirigentes de estatais e políticos.
No depoimento tomado anteontem em caráter sigiloso, Talavera listou as multinacionais WEG, Alston do Brasil, ABB (Asea Brown Boveri) e a GE (General Electric), além do consórcio Gevisa, composto pela GE, pela Villares e pelo Banco Safra. Seriam os principais integrantes do suposto "clube" da propina, ao lado da própria Toshiba.
Na outra ponta do esquema, estariam as estatais Furnas Centrais Elétricas e Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), importantes clientes da Toshiba no país. Nos últimos dois anos, Furnas manteve negócios no valor de R$ 8,6 milhões com a multinacional que fabrica componentes para o setor elétrico.
"O "clube" reúne-se periodicamente na cidade de São Paulo, sem local próprio, quando então são definidos os vencedores de licitações e contratos com o poder público, bem como os valores que serão pagos aos servidores a título de "propina'", afirmou Talavera.
Talavera foi demitido em 2004 da Toshiba e hoje é comerciante em São Paulo. Com o apoio do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS), ele negocia proteção da Polícia Federal e um depoimento à CPI dos Correios.
A PF e a CPI investigam um suposto caixa dois em Furnas no valor de R$ 40 milhões operado pelo ex-diretor de Engenharia Dimas Toledo e que teria beneficiado mais de 150 políticos.
"Espero que a CPI o convoque", defendeu Augusto Carvalho, por ora sem resposta da comissão.
Ontem, Talavera disse que não comentaria seu depoimento na PF, pois se comprometeu a não falar nada com ninguém. "Vou manter o que disse."
No depoimento à PF, Talavera diz que foi contratado pela Toshiba em 1998 para apurar desvios nas unidades da empresa. No início de 2001, ao rastrear saques em dinheiro na fábrica de Minas Gerais, teria tomado conhecimento do caixa dois da Toshiba.
"Leonídio [Soares, então diretor da fábrica em Minas] confessou que costumava repassar recursos para empregados da estatal [Furnas], mediante o desconto de cheques na boca do caixa, amparados por notas fiscais frias", disse Talavera. A tal confissão do diretor teria ocorrido na presença de dirigentes da Toshiba e de representantes da matriz japonesa.
Exemplares de notas frias lançadas por conta de consultorias fictícias e que teriam sido usadas para lastrear o desvio de dinheiro foram apresentados por Talavera à PF e à CPI dos Correios. Em várias notas, a palavra assessoria aparece escrita com "ç".
Ainda sobre Furnas, Talavera afirmou à PF saber que Leonídio Soares, que seria representante da Toshiba no "clube" da propina, "relacionava-se" com o ex-diretor da estatal Dimas Toledo. Leonídio não foi encontrado ontem.
Durante o depoimento prestado anteontem, o ex-funcionário da Toshiba relatou que a empresa havia sido procurada por Dr. Terra [supostamente Renato Terra, investigado pela PF], que se apresentara como lobista. Em troca de uma propina de US$ 5 milhões, Terra teria oferecido contratos para a construção de cinco ou seis usinas termelétricas para Furnas --obras do programa do governo federal destinadas a evitar uma nova ameaça de apagão no país.
"Os valores que seriam pagos por Furnas já teriam embutidos percentuais destinados ao pagamento de propinas para a diretoria da estatal e alguns políticos", disse Talavera, que soube da tentativa de negócio por meio de outro então funcionário da Toshiba.
Talavera diz que o pagamento de propina ocorria com o conhecimento da direção da Toshiba e que ouviu do presidente da empresa no Brasil, Nobuhiro Tanimura, que "todos os que ocupavam cargos públicos nesses países [latino-americanos] estariam sujeitos a receber propina e que as coisas funcionavam assim na América do Sul como um todo".
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Ex-gerente denuncia "clube da propina"
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da Folha de S.Paulo
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-superintendente administrativo da Toshiba José Antonio Csapo Talavera declarou que a empresa de origem japonesa integraria um "clube" com outras grandes empresas para dominar negócios do setor elétrico em troca do pagamento de propinas a dirigentes de estatais e políticos.
No depoimento tomado anteontem em caráter sigiloso, Talavera listou as multinacionais WEG, Alston do Brasil, ABB (Asea Brown Boveri) e a GE (General Electric), além do consórcio Gevisa, composto pela GE, pela Villares e pelo Banco Safra. Seriam os principais integrantes do suposto "clube" da propina, ao lado da própria Toshiba.
Na outra ponta do esquema, estariam as estatais Furnas Centrais Elétricas e Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), importantes clientes da Toshiba no país. Nos últimos dois anos, Furnas manteve negócios no valor de R$ 8,6 milhões com a multinacional que fabrica componentes para o setor elétrico.
"O "clube" reúne-se periodicamente na cidade de São Paulo, sem local próprio, quando então são definidos os vencedores de licitações e contratos com o poder público, bem como os valores que serão pagos aos servidores a título de "propina'", afirmou Talavera.
Talavera foi demitido em 2004 da Toshiba e hoje é comerciante em São Paulo. Com o apoio do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS), ele negocia proteção da Polícia Federal e um depoimento à CPI dos Correios.
A PF e a CPI investigam um suposto caixa dois em Furnas no valor de R$ 40 milhões operado pelo ex-diretor de Engenharia Dimas Toledo e que teria beneficiado mais de 150 políticos.
"Espero que a CPI o convoque", defendeu Augusto Carvalho, por ora sem resposta da comissão.
Ontem, Talavera disse que não comentaria seu depoimento na PF, pois se comprometeu a não falar nada com ninguém. "Vou manter o que disse."
No depoimento à PF, Talavera diz que foi contratado pela Toshiba em 1998 para apurar desvios nas unidades da empresa. No início de 2001, ao rastrear saques em dinheiro na fábrica de Minas Gerais, teria tomado conhecimento do caixa dois da Toshiba.
"Leonídio [Soares, então diretor da fábrica em Minas] confessou que costumava repassar recursos para empregados da estatal [Furnas], mediante o desconto de cheques na boca do caixa, amparados por notas fiscais frias", disse Talavera. A tal confissão do diretor teria ocorrido na presença de dirigentes da Toshiba e de representantes da matriz japonesa.
Exemplares de notas frias lançadas por conta de consultorias fictícias e que teriam sido usadas para lastrear o desvio de dinheiro foram apresentados por Talavera à PF e à CPI dos Correios. Em várias notas, a palavra assessoria aparece escrita com "ç".
Ainda sobre Furnas, Talavera afirmou à PF saber que Leonídio Soares, que seria representante da Toshiba no "clube" da propina, "relacionava-se" com o ex-diretor da estatal Dimas Toledo. Leonídio não foi encontrado ontem.
Durante o depoimento prestado anteontem, o ex-funcionário da Toshiba relatou que a empresa havia sido procurada por Dr. Terra [supostamente Renato Terra, investigado pela PF], que se apresentara como lobista. Em troca de uma propina de US$ 5 milhões, Terra teria oferecido contratos para a construção de cinco ou seis usinas termelétricas para Furnas --obras do programa do governo federal destinadas a evitar uma nova ameaça de apagão no país.
"Os valores que seriam pagos por Furnas já teriam embutidos percentuais destinados ao pagamento de propinas para a diretoria da estatal e alguns políticos", disse Talavera, que soube da tentativa de negócio por meio de outro então funcionário da Toshiba.
Talavera diz que o pagamento de propina ocorria com o conhecimento da direção da Toshiba e que ouviu do presidente da empresa no Brasil, Nobuhiro Tanimura, que "todos os que ocupavam cargos públicos nesses países [latino-americanos] estariam sujeitos a receber propina e que as coisas funcionavam assim na América do Sul como um todo".
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